Autores
Lucas Coutinho de Miranda / João Pedro Fagundes Freitas – Graduandos em Engenharia Florestal – Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)
Ernandes Macedo da Cunha Neto –Mestrando em Engenharia Florestal – Universidade Federal do Paraná (UFPR)
Emmanoella Costa Guaraná Araujo / Tarcila Rosa da Silva Lins / Gabriel Mendes Santana / Thiago Cardoso Silva / Kyvia Pontes Teixeira das Chagas – Doutorandos em Engenharia Florestal – UFPR
César Henrique Alves Borges – Doutorando em Ciências Florestais – Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)
O gênero Eucalyptus possui ampla distribuição espacial, com mais de 730 espécies botanicamente reconhecidas, pertencendo à família Myrtaceae (Souza, 2019). As espécies do gênero transitam entre diversos setores da indústria e, de acordo com Cunha Neto (2018), podem ser empregadas na produção de óleos essenciais, produtos apícolas, madeira serrada, postes e moirões, laminados, MDF, HDF, chapa de fibra, compensados, carvão e lenha.
O eucalipto é a cultura florestal que mais atende as necessidades de reposição de matéria-prima para a fabricação de papel no Brasil, com crescimento médio de 45 m3.ha-1.ano-1 de madeira (Lima et al. 2010). Sua elevada adaptabilidade às diversas condições edafoclimáticas possibilita a exploração comercial em várias regiões do Brasil (Oliveira et al., 2018), tornando a produtividade dos plantios em terras brasileiras superior à de países tradicionais, tais como a Austrália (Souza et al., 2015).
Consequências do déficit hídrico
Dentre os fatores importantes para a alta produtividade do povoamento, pode-se destacar o manejo adequado do solo, nutrição, tratos silviculturais e disponibilidade hídrica, sendo este último de suma importância, principalmente nas fases iniciais de implantação.
Essa atividade exerce influência direta na sobrevivência e no desenvolvimento das mudas, pois nessa fase elas ainda apresentam o sistema radicular pouco desenvolvido, consequentemente, são mais suscetíveis à deficiência hídrica (Buzetto et al., 2002).
A planta absorve água para o transporte de nutrientes, bem como controle da temperatura, por meio da transpiração (Vilhena, 2016). Dessa forma, as consequências do déficit hídrico em plantios do gênero Eucalyptus são variáveis, dependendo da espécie, do clima e do manejo adotado (Santos; Schumacher, 2016). No entanto, a redução do turgor celular é uma das primeiras respostas ao déficit hídrico, enquanto a redução do crescimento é o primeiro efeito mensurável (Taiz; Zeiger, 2013).
A resposta imediata da espécie a um momento de escassez de água é induzir o fechamento dos estômatos e a alteração do ângulo foliar, a fim de reduzir a perda de água para o meio externo por transpiração. Em contrapartida, a planta deixa de absorver CO2, acarretando na diminuição de atividade fotossintética (Vilhena, 2016). Dessa forma, a produção de biomassa é afetada e o ritmo de crescimento é reduzido.
Se prolongada, a falta de H2O causa diversas reações que conduzem a planta a um estresse irreversível, com danos estruturais nas membranas celulares e organelas, bem como redução no padrão de trocas gasosas e produção de compostos tóxicos para as células (Xavier et al., 2018).
Tais fatores podem promover a murcha da estrutura aérea da planta e morte do indivíduo. Assim, a manutenção hídrica é imprescindível na implantação de qualquer cultura, até mesmo nas mais adaptadas como o eucalipto.
Métodos de irrigação
[rml_read_more]
Uma das formas de evitar o déficit hídrico é a irrigação, de tal maneira que existem várias técnicas para as diferentes etapas de implantação do povoamento, desde a fase de viveiro até a produção in loco.
A escolha do melhor método depende: do tamanho do plantio efetivo, distância até a fonte de água, uso de fertirrigação, condições climáticas, etc. A quantidade que essa água é fornecida também varia em função das características dos solos, condições climáticas, características das plantas e do seu estado de desenvolvimento, bem como da disponibilidade de água no solo, salinidade e fertilidade do solo, assim como o estado sanitário das plantas (Teixeira et al. 2009).
Entre os métodos de irrigação, o localizado caracteriza-se por aplicar pequenas quantidades de água, com alta frequência, na zona radicular de forma pontual ou em faixa contínua, de modo que se mantenha a umidade do solo sempre próxima à capacidade de campo (Bernardo et al., 2006).
Nesse contexto, a técnica mais conhecida é o gotejamento, que consiste na vazão através de orifícios de diâmetro reduzido, situados em estruturas especiais, denominadas gotejadores, as quais são adaptadas em tubulações de plástico, localizadas sobre ou imediatamente abaixo da superfície do solo (Araújo, 2010).
Esse sistema foi idealizado para condições específicas de uma agricultura altamente intensiva, a qual exige um sistema de filtragem da água sofisticado e a aplicação de fertilizantes e outros produtos químicos. Portanto, antes de definir o gotejamento como o ideal para um povoamento, deve-se considerar o tamanho da área, disponibilidade de água e energia elétrica para, assim, calcular os custos de instalação e uso.
Para as florestas
Na silvicultura, o sistema de irrigação mais difundido é o tanque-pipa, pelo qual tanques de água são acoplados a tratores, para o transporte de água da fonte ao local do povoamento. A aplicação pode ser feita de forma totalmente mecanizada (Figura 1), ou semimecanizada (Figura 2).
A irrigação semimecanizada é realizada por mangueiras acopladas ao tanque, munidas de uma válvula na extremidade que libera água quando pressionada contra o solo. O conjunto válvula/cano é conhecido por matraca e facilita a aplicação (controlada manualmente pelo funcionário de campo).
Hidrogel
Ademais, pode-se optar por produtos e tecnologias que visam otimizar a manutenção da umidade e, nesse meio, se destacam os polímeros hidro retentores, também conhecidos como gel ou hidrogel. Esses são aplicados com o intuito de elevar a retenção de água, reduzindo o número de irrigações e os volumes aplicados, o que acarreta na diminuição de custos operacionais e o consumo de água (Bahia et al., 2017).
Assim, como possibilitam a liberação gradativa para a planta, podem aumentar a eficiência da irrigação e diminuir o risco de falhas durante o estabelecimento do povoamento florestal (Felippe et al., 2016).
Resultados em campo
A irrigação é um dos principais fatores que promove a alta produtividade do eucalipto, podendo um período de déficit hídrico afetar significativamente a produção de madeira (Farias, 2018).
Em estudo desenvolvido por Oliveira et al. (2013), analisando a aplicação de água por diferentes sistemas de irrigação, constatou-se que nos estádios iniciais do desenvolvimento do eucalipto, o conteúdo de água no solo proporcionou maior altura de planta e volume de madeira, quando comparado com cultivo de sequeiro.
Fernandes et al. (2012) constatou que as áreas irrigadas proporcionaram maiores valores biométricos e incrementos, quando comparado a áreas sem irrigação. O mesmo resultado foi observado por Pacheco et al. (2016) em Aquidauana (MS), que avaliando o efeito da irrigação localizada e da fertirrigação na cultura de um híbrido Eucalyptus grandis x Eucalyptus camaldulensis no terceiro ano após implantação, constataram que houve maior crescimento em altura de plantas, diâmetro à altura do peito e volume de madeira para áreas irrigadas, quando comparadas com plantas não irrigadas.
Erros frequentes
Por mais que a silvicultura irrigada esteja bem difundida nas diferentes culturas, ainda se faz necessário quantificar as necessidades hídricas de cada espécie, devido ao alto custo envolvido na implantação de sistemas de irrigação em função das dimensões das áreas de plantio (Bahia et al., 2017).
Além disso, para determinar a demanda hídrica, o manejo da água pode ser efetuado pela simples reposição do consumo de água diário da cultura, pelo somatório do consumo diário de água pela cultura desde o dia da última irrigação e, por fim e o mais eficiente, pela realização do balanço hídrico (Schneider, 2016).
Segundo Mantovani et al. (2007), os métodos mais populares são baseados na evapotranspiração da cultura, por meio das condições atmosféricas e/ou monitoramento da água no solo.
Mesmo com tantas formas de se aferir o consumo de água do povoamento, muitos produtores optam pelo empirismo ao irrigar sem estabelecer nenhum parâmetro técnico para se mensurar a real demanda, sendo este um dos principais erros cometidos durante a irrigação. Isto pode ocasionar um desperdício de água, já que as aplicações tendem a exceder a demanda efetiva.
O uso excessivo de água pode levar a erosões, percolação de nutrientes, proliferação de doenças, bem como elevado consumo de água e energia elétrica, ocasionando perda de produtividade, elevação de custos e danos ambientais (Costa; Bogoni, 2018).
Custos envolvidos
O custo médio da implantação e manutenção da cultura de eucalipto no Estado de São Paulo, considerando um plantio com espaçamento de 3,0 x 2,0 m (1.667 indivíduos.ha-1), é de cerca de R$ 100,00/ha (FEPAF, 2008). Entretanto, o custo final pode variar de acordo com fatores como distância até a fonte de água, conservação do maquinário, mão de obra qualificada e uso de hidrorretentores.
Outro fator determinante na viabilidade de um sistema de irrigação é a fonte de energia que aciona o mecanismo de bombeamento, no caso do sistema de gotejamento. Ao investigar a viabilidade econômica da implantação de sistemas de irrigação em plantios de eucalipto, Gruber et al. (2006) concluíram que os sistemas acionados por óleo diesel foram mais onerosos que os acionados por energia elétrica.
Ao analisar o custo-benefício da instalação de um sistema de irrigação, Araújo (2010) verificou que, para as condições de sequeiro, produtividades superiores a 251 m3.ha-1 tornam o empreendimento lucrativo, enquanto em condições fertirrigadas são necessários 590 m3.ha-1, para que o empreendimento obtenha lucro.
O autor justifica que, embora a fertirrigação diminua em média um ano na idade de corte da floresta, é necessário um aumento de 135% na produtividade da floresta para que o sistema fertirrigado se torne mais vantajoso que o sistema de produção em sequeiro.
Cunha et al. (2018) constataram que a composição dos custos relacionados aos insumos: mudas para plantio, análise de solo, irrigação, gessagem, calagem e utilização de fertilizantes totalizaram R$ 2.303,80 por hectare, sendo a irrigação responsável por 21% deste orçamento.
Observa-se que a irrigação representa parte significativa dos custos de produção do eucalipto, de modo que o conhecimento e aplicação de critérios técnicos e econômicos para obtenção dos custos de produção são de suma importância para o setor agroflorestal, pois favorecem o mapeamento dos gastos e, consequentemente, a maior competitividade de mercado (Simões; Silva, 2012).
Por fim, vale lembrar que a irrigação é imprescindível na fase inicial das mudas de eucalipto, evitando a morte destas, promovendo o sucesso da floresta, bem como o maior crescimento das plantas.
O sistema de irrigação mais difundido é o tanque-pipa, pelo qual tanques de água são acoplados a tratores, para o transporte de água da fonte ao local do povoamento. A aplicação pode ser feita de forma totalmente mecanizada ou semimecanizada.