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Jequitibá rosa: Madeira nobre com garantia de rentabilidade

Autores

Alessandra da Silva Lopeseng_alessandralopes@hotmail.com

Aline Cássia da Fonsecaaline_cfonseca@hotmail.com

Engenheiras florestais, mestras e doutorandas em Ciência Florestal – Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA/UNESP)

Alessandro Reinaldo ZabottoBiólogo, mestre e doutorando em Agronomia/Energia na Agricultura – FCA/UNESPalezabotto@gmail.com

Valeria CirielloEngenheira agrônoma, mestra em Ciência Florestal, diretora e sócia da Futuro Florestal – valeria@futuroflorestal.com.br

Jequitibá – Foto: Futuro Florestal

A espécie Cariniana legalis (Mart.) Kuntze pertence à família Lecythidaceae, sendo conhecida popularmente como jequitibá rosa, jequitibá-vermelho, jequitibá-cedro, entre outros. O jequitibá rosa possui altura de 30-50 metros, com tronco de 70-100 cm de diâmetro à altura do peito (DAP) – seu tronco é reto, cilíndrico e colunar.

Essa espécie é semi-heliófita, que tolera sombreamento durante os primeiros anos, mas não é tolerante a baixas temperaturas quando jovem. Possui boa forma de fuste, independente do espaçamento, e boa desrama natural, com galhos finos e excelente cicatrização.

O jequitibá rosa é originário do bioma mata atlântica, é uma das espécies nativas com grande altura sendo uma das maiores e mais representativas pela sua dimensão, representando a maior e mais longeva árvore desse bioma.

Essa espécie distribui-se geograficamente pelos Estados do Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Mato Grosso do Sul. O jequitibá rosa se encontra na lista oficial das espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção, decorrente da exploração desordenada e sem plantio de reposição.

Características

A madeira do jequitibá rosa é moderadamente densa de 0,50 a 0,65 g cm-3, e possui boa trabalhabilidade, podendo ser empregada para fabricação de móveis, cabos de vassouras, brinquedos, construção civil, obras internas, entre outros.

Há indivíduos de jequitibá rosa que são monumentos naturais e turísticos no Brasil, como os encontrados no Instituto Cabruca, localizado em um sistema agroflorestal, na região cacaueira de Camacã, no Sul da Bahia. Atualmente é considerada a maior árvore da região, com 41 m de altura e 4,27 m de DAP; e na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), Serra do Teimoso, que faz parte da lista das maiores árvores do Sul da Bahia, estando em 3º lugar, com 50 metros de altura e 3,40 m de DAP.

No Parque Estadual do Vassununga, em Santa Rita do Passa Quatro (SP), encontra-se um imenso jequitibá rosa com idade estimada em 3.050 anos, que ainda frutifica. Esse parque abriga uma das maiores quantidades dessa espécie do mundo.

Perspectivas econômicas

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No Brasil, o mercado de espécies nobres nativas vem apresentando forte crescimento na demanda de madeiras roliças, ideais para serraria, podendo ter as finalidades de portas, janelas, forros, laminados, painéis, deques, até construção de navios.

Madeiras como jequitibá rosa (Cariniana legalis), pau-brasil (Paubrasilia echinata), cedro (Cedrela fissilis), acácia (Acacia mangium) e peroba-rosa (Aspidosperma polyneuron) têm alto valor agregado devido às características de maior resistência a insetos, beleza, durabilidade e resistência ao processamento.

De acordo com o relatório da Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ), do ano de 2010 a 2018 ocorreu um aumento da área plantada de espécies nobres de 462.390 hectares para 591.451 hectares ao final de 2018. Tal aumento se deve à necessidade de madeira, principalmente no segmento da construção civil.

Segundo o Serviço Florestal Brasileiro (SFB), até 2030 a demanda por madeira tropical deve chegar a 21 milhões de metros cúbicos por ano. Entretanto, hoje são extraídos apenas 11 milhões de metros cúbicos. Ainda que houvesse redução significativa nos índices de consumo atual, de acordo com o Instituto Brasileiro de Florestas (IBF) seria necessário o plantio de mais de 50.000 hectares por ano de florestas para que fosse possível atender a demanda de madeira dura tropical.

Viabilidade

Considerando a alta demanda e a baixa oferta de madeira nobre, o plantio comercial do jequitibá rosa é uma alternativa sustentável para suprimento do mercado, com madeira de qualidade e proteção das florestas naturais mitigando a extração ilegal, diminuindo a pressão de espécies ameaçadas de extinção, como é o caso do jequitibá rosa, além, é claro, dos impactos diretos que ocorrem no solo, nas águas e, principalmente, no ar com as ações de desmatamento.

Portanto, plantações bem manejadas e que contribuam para a preservação, conservação e restauração de ecossistemas, principalmente realizadas em terra já degradadas, desempenharão papel cada vez mais relevante no avanço do setor florestal e no desenvolvimento sustentável.

Versatilidade

A madeira de jequitibá é utilizada para diversas finalidades, como confecção de portas, janelas, móveis, tonéis, entre outros produtos, com ótima aceitação de mercado, com valor agregado e uma ótima opção de diversificação econômica com retorno financeiro aos investidores. 

Atualmente, 100% da madeira de jequitibá comercializada provém de florestas nativas. Os plantios comerciais no País são jovens (no máximo 10 anos), e ainda não chegaram à fase de corte final.

O ciclo para produção de madeira é de 20 a 25 anos. Para comercializar madeira de jequitibá plantada, o produtor precisa cadastrar seu plantio no órgão ambiental estadual, e no momento do corte deve realizar a solicitação, bem como a emissão do DOF (documento de origem florestal) no Ibama, para que não tenha problemas legais.

É importante ressaltar que a madeira de qualquer espécie nativa plantada poderá ser comercializada a partir desta documentação. Outro fator importante a ser levado em consideração é que o plantio comercial da espécie não deve ser feito em APP (área de preservação permanente), mas sim em área produtiva da propriedade, para poder ser cortada e comercializada.

Plantio e manejo da espécie

O plantio de jequitibá rosa deve ser feito com mudas de qualidade, que atualmente são produzidas por sementes coletadas em mata nativas brasileiras. As mudas devem ser adquiridas em viveiros cadastrados no Renasem (Registro Nacional de Sementes e Mudas), e de preferência terem sido produzidas em tubetes de 200 ml ou mais. Trabalhos e pesquisas têm sido realizados para produção de mudas por propagação vegetativa, mas ainda estão em fase experimental.

O preparo do solo deve ser realizado seguindo as práticas silviculturais e, desta forma, a amostragem do solo é necessária para conhecer as reais condições e assim propor o manejo adequado para a espécie a ser plantada.

Para o jequitibá, devido ao seu sistema radicular profundo, recomenda-se ainda analisar a camada de 20-40 cm. Dentre as práticas, a calagem deve ser adotada antes de realizar o plantio, visando elevar o pH, assim como suprir a demanda de cálcio e magnésio da cultura.

Para o Estado de São Paulo, por exemplo, para as espécies nativas da Mata atlântica recomenda-se elevar a saturação por bases (V%) do solo a 50% (Boletim 100 IAC), entretanto, esses valores variam com as características químicas e físicas do solo.

O jequitibá rosa se mostrou uma espécie exigente nos primeiros anos, portanto, o manejo deve ser adequado tanto com relação à adubação, controle de matocompetição e controle de formigas.

É uma espécie que requer cuidados com capina química, pois não tolera produtos à base de glifosato, que podem causar enrugamento nas folhas e atrasar demasiadamente seu desenvolvimento inicial.

Adubações

No caso do jequitibá, é necessário realizar várias adubações em momentos diferentes durante o reflorestamento, até os três anos de idade, portanto a análise de solo deve ser repetida anualmente até o terceiro ano. Assim, pode-se diferenciar as adubações em de plantio e de cobertura.

De acordo com Gonçalves et al. (2008), para o jequitibá rosa, que é considerada uma espécie secundária tardia ou clímax, recomenda-se aplicar o seguinte, em função dos teores no solo:

Tabela 1– Recomendações de adubação para o estabelecimento de reflorestamentos mistos com espécies da Mata Atlântica, tendo por base os teores médios de matéria orgânica (M. O.), P assimilável e K trocável na camada de 0-20 cm

Adubação M. O.   P-resina   K trocável
g dm-3   mg dm-3   mmolc dm-3
  0-15 16-40 >40   0-5 6-12 >12   0-0,7 0,8-1,5 >1,5
  N, g planta-1   P2O5, g palnta-1   K2O, g planta-1
                       
  Secundárias tardias e clímax (Espécies de crescimento lento)
                       
Plantio 10 10 10   25 15 0   10 10 10
Cobertura 20 0 0   0 0 0   25 0 0

Na adubação de plantio, o adubo deve ser aplicado no fundo do sulco ou em linha, de modo que as raízes não tenham dificuldades de entrar em contato. As adubações de cobertura devem ser feitas seis meses após o plantio.

Outro ponto importante é a adição de matéria orgânica ao solo, principalmente em solos arenosos. Alguns resíduos provenientes das cidades e indústrias podem ser utilizados, como lodo de esgoto tratado, resíduos de podas urbanas, cinzas de biomassa vegetal, estercos dentre outros, desde que estejam compostados, ou seja, com baixa relação C/N (carbono/nitrogênio).

Controle de formigas

Outra prática silvicultural importante é o controle de formigas após o plantio. As formigas cortadeiras dos gêneros Atta e Acromyrmex, conhecidas popularmente como saúvas e quenquéns, atacam diversas espécies de plantas.

Essas formigas cortam as folhas e ramos, principalmente durante os primeiros meses de idade dos plantios, podendo causar bifurcações indesejadas e até a morte das plantas. Além de contribuir significativamente para a redução da produtividade e provocar grandes perdas econômicas.

O combate às formigas cortadeiras normalmente é realizado com a aplicação de iscas formicidas no pré-plantio, antes de utilizar a área, e 30 dias após o plantio é realizada uma vistoria e, caso seja necessário, é feita uma segunda aplicação. No decorrer do plantio, é importante fazer rondas na área para evitar o ataque de formigas. Para o jequitibá rosa não há relatos de outras pragas e doenças.

Outros tratos culturais

É necessário o correto manejo de poda dos galhos, realizando uma poda por ano, retirando os galhos de baixo até chegar no máximo 1/3 da copa da planta, que possui boa recuperação de crescimento após as podas. As bifurcações e ramos ladrões também devem ser retirados juntamente com a poda anual.

A partir do terceiro ano é recomendável realizar o inventário florestal para identificar o melhor momento para os desbastes.

Acompanhamento profissional

A Futuro Florestal acompanha experiências de plantios puros, mistos e agroflorestais. Os plantios puros foram feitos com espaçamento 3 x 2 m ou 3 x 3 m e possuem bom desenvolvimento, em que espera-se realizar dois desbastes, aos seis e 12 anos, aproximadamente, com corte final estimado com idade de 20 a 25 anos.

Em sistemas de mistos foi plantada juntamente com espécies como guanandi (Calophyllum brasiliense), louro-pardo (Cordia trichotoma), canafístula (Peltophorum dubium), jequitibá branco (Cariniana estrelensis), ipê felpudo (Zeyheria tuberculosa), entre outras, onde o jequitibá rosa se destacou com melhor forma e crescimento.

Alguns sistemas agroflorestais também foram realizados juntamente com a cultura da pupunha, mas podem ser plantados com diversas outras culturas, somente observando que o jequitibá rosa forma copa grande, portanto, sua sombra é densa. As folhas do jequitibá rosa são apreciadas pelos animais bovinos, portanto, em consórcio com pecuária essa informação deve ser levada em consideração.

 Em Garça, no interior de São Paulo, em plantios acompanhados pela mesma empresa foram avaliados diversos modelos de plantio com a espécie, onde em um dos modelos de plantio misto as árvores encontravam-se aos 11 anos com DAP médio de 15 cm e altura média de 13 m.

Em sistema agroflorestal, aos nove anos de idade, se obteve resultados melhores de DAP médio de 21 cm e altura média de 14 m, o que se deve provavelmente ao fato de que tiveram mais adubações que o plantio misto. Porém, em ambos modelos a espécie se mostrou com excelente forma de fuste e crescimento satisfatório e homogêneo.

Diante desse aspecto, o jequitibá rosa se apresenta como uma opção rentável e promissora para plantios puros e mistos, visando suprir a demanda de madeiras nobres.

Investimento

O investimento por hectare é calculado em R$ 35 mil a R$ 40 mil por hectare ao longo do ciclo. A expectativa de produtividade em plantio puro é de alcançar de 200 a 300 metros cúbicos de madeira em tora por hectare.

Cotações realizadas por Rodrigo Ciriello, diretor comercial  da empresa Futuro Florestal, em 2018, demonstraram que o metro cúbico de madeira serrada verde era comercializado no atacado paulista pelo preço de R$ 1.300,00 a R$ 1.500,00 por metro cúbico.

Já no varejo, madeireiras da região da Rua do Gasômetro em São Paulo comercializavam com preços bem superiores. Dependendo da dimensão e formato da madeira serrada, algumas lojas chegavam até R$ 5.000,00 o metro cúbico.

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