Autores:
Giovani Belutti Voltolini – Engenheiro agrônomo, mestre e doutorando em Agronomia/Fitotecnia – Universidade Federal de Lavras (UFLA) – giovanibelutti77@hotmail.com
Ademilson de Oliveira Alecrim – Engenheiro agrônomo, mestre, doutor em Agronomia/Fitotecnia – UFLA e bolsista do Consórcio Pesquisa Café
A cafeicultura atual é privilegiada no que diz respeito às tecnologias, isto porque frequentemente diversas atualizações são inseridas nesta cadeia, fazendo com que os cafeicultores sempre possam lançar mão de estratégias e manejos que impactem diretamente na produção.
Ademais, sabe-se da recorrência de aumentos na produção mundial deste grão, visto que o consumo é cada vez maior, devido também ao mercado exponencial de cafés especiais, refletindo diretamente na produção cafeeira, de modo a demandar incrementos produtivos nas lavouras, sobretudo por meio da inovação e aperfeiçoamento dos sistemas produtivos e da aceitação dos cafeicultores quanto às novas tecnologias.
Neste sentido, técnicas como o melhoramento genético, a mecanização, novas técnicas de pós-colheita, além de novos produtos utilizados na cafeicultura fazem com que este aperfeiçoamento seja possível.
Pesquisas a todo vapor
Diversas instituições de pesquisas atuam diretamente na obtenção de cultivares de café com maior teto produtivo, atrelado ainda às características de resistência ou tolerância a fatores bióticos e abióticos. Ainda, existem pesquisas ligadas à busca por cafeeiros mais precoces, com maior potencial de gerar frutos com qualidade sensorial superior à já existente, e também visando características que auxiliem no processo de colheita mecanizada, como a arquitetura das plantas e força de desprendimento dos frutos.
Dentre estas instituições, se destacam a UFLA, UFV, Embrapa, Epamig, Incaper, IAC, Iapar, Fundação Procafé, e muitas outras que diariamente pesquisam por uma cafeicultura mais rentável, sustentável, ecológica e com foco, principalmente na busca por melhorias em todos os aspectos da cadeia produtiva do café.
Entretanto, verificou-se que, apesar do grande impacto destas tecnologias que atuam de modo a impulsionar a produção cafeeira, alguns fatores climáticos fizeram com que a produção desta última safra fosse reduzida.
Desta forma, no mês de janeiro de 2019 houve veranico acentuado, sobretudo, ressalta-se que neste mês ocorre grande parte do enchimento dos frutos, e coincidentemente, época das adubações nos cafeeiros, que pela falta de chuva, foram pouco eficientes, acarretando em problemas com a granação dos frutos.
Relatos da maioria das regiões cafeeiras dão conta de que cerca de 30% da produção de cafeeiros arábica cultivados em MG e SP tenham sido afetados em função desta adversidade climática.
Ainda, observou-se a ocorrência de fortes geadas em diversas regiões do parque cafeeiro nacional, principalmente em algumas regiões do Cerrado Mineiro e do Sul de Minas, afetando assim a produção desta safra, com consequências negativas para 2020, em função dos danos em lavouras sob sistema de safra zero que estavam podadas e também de cafeeiros jovens, com produção crescente.
Realidade atual
Na maioria das regiões cafeeiras a florada ocorreu no início de outubro, e foram mais de 20 dias de intensa radiação solar, aliado à condição de estiagem, sem a ocorrência de chuvas. Assim, já é possível a ocorrência de relatos nas regiões cafeeiras de perdas em função desta adversidade climática, que possivelmente, se for realmente verificada, irá influenciar negativamente na produção do parque cafeeiro nacional.
Desta forma, relata-se, com recorrência, grande queda no número de “chumbinhos” das plantas, além da mumificação precoce de alguns frutos logo após a florada, no início do enchimento dos frutos.
Portanto, os dados até então estabelecidos norteiam a produção nacional, porém, já com esta dúvida sobre a possível interferência desta condição de estiagem e calor demasiado no período pós-florada.
Estados e regiões | Produção, em milhões de sacas | |
Safra 2019 | Safra 2020 – 1ª estimativa | |
Minas Gerais | 24,55 milhões de sacas | 31 milhões de sacas |
Sul/Oeste | 14 milhões de sacas | 17,5 milhões de sacas |
Triângulo A. Paranaíba | 4,59 milhões de sacas | 6 milhões de sacas |
Zona da Mata e Jequitinhonha | 5,96 milhões de sacas | 7,5 milhões de sacas |
Espírito Santo | 13,5 milhões de sacas | 14 milhões de sacas |
Arábica | 3 milhões de sacas | 4,5 milhões de sacas |
Canéfora | 10,5 milhões de sacas | 9,5 milhões de sacas |
São Paulo | 4,34 milhões de sacas | 6 milhões de sacas |
Bahia | 3 milhões de sacas | 4 milhões de sacas |
Rondônia | 2,2 milhões de sacas | 2,4 milhões de sacas |
Paraná | 953 mil sacas | 900 mil sacas |
Outros | 766,7 mil sacas | 750 mil sacas |
Total Brasil | ~ 49,31 milhões de sacas | ~ 60 milhões de sacas |
Regiões | Área (mil ha) | ||
Nova | Adulta | Total | |
Minas Gerais | 204.111,0 | 1.033.443,1 | 1.237.554,1 |
Espírito Santo | 36.737,0 | 400.287,0 | 437.024,0 |
São Paulo | 11.845,0 | 206.406,0 | 218.251,0 |
Paraná | 1.980,0 | 36.120,0 | 38.100,0 |
Rondônia | 6.180,0 | 64.878,0 | 71.058,0 |
Bahia | 9.180,0 | 107.885,0 | 117.065,0 |
Outros | 6.576,0 | 36.479 | 43.055,0 |
TOTAL | 276.609,0 | 1.885.498,1 | 2.162.107,1 |
Potencial do Cerrado Mineiro
Sabe-se que a região do Cerrado Mineiro possui grande destaque na produção cafeeira nacional, sobretudo por ser relativamente nova quando comparada às demais regiões, pois a exploração cafeeira nestas áreas se iniciou muito depois de outras áreas de destaque, como o Sul de Minas, Alta Mogiana e o Estado do Paraná.
Neste sentido, após a ocorrência de fortes geadas que devastaram a cafeicultura do Paraná, muitos cafeicultores migraram suas produções para a região do Cerrado Mineiro, fazendo com que, a partir da década de 70, as áreas com plantio cafeeiro começassem a ser alavancadas.
Atualmente, o Cerrado Mineiro é conhecido como o berço tecnológico das áreas cafeeiras, por ser consagrado em técnicas como a irrigação e também a predominância da mecanização em todas as atividades de manejo, aliado também à cafeicultura empresarial, com grandes polos produtivos.
Por isso, a região se mostra oposta a outros modelos de cafeicultura, como o Sul de Minas, onde predominam pequenos polos produtivos e devido ao fato da ocorrência de áreas declivosas, com menores índices de mecanização.
Tecnologias
Em se tratando de tecnologia, diversos trabalhos são realizados na região do Cerrado Mineiro, muitas vezes em parceria com instituições de pesquisa e extensão ligadas à cadeia produtiva do café, como a Epamig, Fundaccer – Fundação de Desenvolvimento do Café do Cerrado, Federação dos Cafeicultores do Cerrado, e também muitas associações e cooperativas que ajudam os cafeicultores visando uma cafeicultura mais sustentável.
Neste sentido, por meio de parcerias destas instituições, alguns projetos foram criados visando a busca por incrementos em produtividade, como a parceria entre a Epamig e a Fundaccer, que originou um projeto de adaptabilidade e estabilidade de novas cultivares na região do Cerrado Mineiro com o objetivo de gerar o mapeamento das áreas de aptidão cafeeira para cada cultivar testada.
Dentre estas cultivares, se destacam a MGS Aranãs, MGS Paraíso 2 e também os Catiguás MG 2 e 3, que são materiais com foco em grandes produtividades, com resistência a patógenos e grande potencial sensorial para qualidade destes cafés.
Com certeza, 27 sacas por hectare de produtividade ainda é muito pouco, pensando no potencial produtivo cafeeiro. Com a adequação de novas cultivares, associado às novas tecnologias, acreditamos que estes valores possam alcançar entre 40 e 50 sc/ha nos próximos anos.