Autores
Lorena Domingues Gomes – Graduanda em Engenharia Agronômica – Faculdade Galileu – lorena_domingues2012@hotmail.com
Bruno Novaes Menezes Martins – Engenheiro agrônomo, doutor em Agronomia/Horticultura – FCA/UNESP e professor da Faculdade Galileu – brunonovaes17@hotmail.com
Dentre as hortaliças folhosas, a alface é considerada a mais popular e consumida no Brasil e no mundo, mesmo com as diferenças climáticas e hábitos alimentares. Ocupa uma área equivalente a 91.172 ha, com produção de 1.701.872 toneladas, com uma produtividade estimada de 18 t ha-1.
Apesar da expressividade econômica, a cultura é suscetível a diversas doenças, entre as quais podemos destacar as de origem viral, pelo fato de frequentemente causarem perdas significativas na produção. Os principais vírus que infectam a alface são os tospovírus transmitidos pelo tripes, que causa a doença popularmente conhecida como “vira-cabeça”.
Os tospovírus são transmitidos de maneira circulativa propagativa por diferentes espécies de tripes. O vírus é adquirido pelo vetor no estádio larval, ao se alimentar de uma planta doente. O inseto, ao atingir o estádio adulto, transmite o vírus para plantas sadias durante a sua alimentação (Sakate et al. 2016).
Características do vetor
De acordo com Lima et al. (2016), na alface, os insetos são encontrados dentro das folhas em desenvolvimento, no ápice da planta e na face inferior das folhas já expandidas, ficando abrigados entre dobras e reentrâncias, muitas vezes em colônia.
Os sintomas peculiares são as manchas necróticas e bronzeamento das folhas, que se concentram geralmente de um lado da planta, levando à curvatura desta. A infecção é caracterizada por uma murcha marginal, amarelecimento, bronzeamento de folhas internas e da nervura, presença de anéis cloróticos e necróticos e paralisação generalizada do crescimento da planta, podendo leva-la à morte.
Vale ressaltar que a severidade de sintomas é influenciada por fatores como: cultivar, fase fenológica da planta no momento da infecção e condições ambientais. Além disso, as plantas podem ser afetadas pela doença em quaisquer fases de desenvolvimento.
Altas infestações, além de provocarem grandes perdas de produção, causam danos consideráveis às folhas da cultura, afetando diretamente a qualidade do produto e tornando as plantas inviáveis para a comercialização. Quanto mais precoce ocorrer a infecção, maiores serão os prejuízos na lavoura, podendo até ocasionar a morte de plantas.
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A infestação da população de insetos é favorecida por períodos mais quentes e secos, pela ocorrência de veranicos prolongados na estação chuvosa ou em condições de baixas temperaturas associadas à estiagem.
Controle
Em geral, deve-se salientar que não existem medidas curativas para o controle de viroses, ou seja, uma vez a planta infectada, não há agrotóxicos que possam ser utilizados para o combate. Entretanto, o controle é focado no inseto-vetor, sendo o primeiro passo a inspeção do cultivo.
ARTE COM A INF. ABAIXO
Formas de controle:
1. As mudas de alface devem ser produzidas em viveiros telados com antecâmara na entrada e pedilúvio no seu interior;
2. Uso de tela antiafídeo para as laterais do viveiro;
3. Quando possível, pintar as telas laterais externas do viveiro com tinta prateada para repelir os tripes;
4. Uso de armadilhas adesivas de coloração amarela e azul para captura de insetos adultos. Deve-se colocar as armadilhas entre as fileiras de plantio e nas bordaduras da lavoura, fixando-as em estacas na altura correspondente ao ápice das plantas;
5. Ajustar a época de plantio: evitar o período de maior ocorrência da praga;
6. Em campo aberto, deve-se plantar contra o vento predominante, pois há uma redução na disseminação do vetor oriundo de cultivos velhos para os novos;
7. Evitar plantios próximos a cultivos de outras plantas hospedeiras: girassol, crisântemo, tomateiro, fumo, batata, berinjela, abóboras, morangas, pepino, melancia, soja, feijoeiro e algodoeiro;
8. Utilização de barreiras físicas com culturas, por exemplo, cana-de-açúcar, milho ou capim-elefante;
9. Eliminação de plantas espontâneas que sejam hospedeiras de tripes e tospovírus (beldroega, caruru, maria-pretinha e joá-de-capote) próximo à área de cultivo;
10. Utilização de cobertura do solo com mulching contendo superfície refletora da luz solar (coloração prateada ou branca) pode dificultar a colonização dos tripes;
11. Adubação e irrigação balanceada, partindo do princípio de que uma planta equilibrada nutricionalmente apresenta maior resistência ao ataque de pragas. Da mesma forma, a irrigação por aspersão pode contribuir para a redução da população de pequenos insetos, como pulgões, tripes, etc., eliminados por lavagem;
12. Eliminar soqueiras de culturas anteriores: o objetivo é destruir o substrato que pode atuar como hospedeiro intermediário de pragas;
13. Eliminar as plantas jovens de alface que estejam infectadas com os vírus;
14. Utilizar o tratamento químico com inseticidas registrados para o controle de tripes na cultura da alface, de acordo com as recomendações do fabricante;
15. Como alternativas aos inseticidas químicos, podem ser utilizados extratos vegetais, por exemplo, o neem.
Cuidados
É importante ter cuidado com a formulação e a dosagem recomendada, pois pode se tornar nocivos à saúde humana e ao meio ambiente. Além disso, pode propiciar a seleção de populações de tripes resistentes aos ingredientes ativos. Deve-se sempre procurar equilíbrio entre eficiência e seletividade.
É recomendado evitar as horas mais quentes do dia para que o produto não fique diretamente exposto, evitando assim a rápida evaporação da água e a degradação dos produtos.
Deve-se respeitar o período de carência de cada produto aplicado, conforme informações do fabricante, e sempre utilizar equipamento de proteção individual (EPI), desde o preparo da calda até a fase de limpeza e armazenamento das embalagens vazias dos produtos utilizados.
Deve-se, ainda, utilizar equipamentos e calibragem recomendada que proporcionem a correta colocação do produto biologicamente ativo no alvo, em quantidade necessária, de forma econômica e uniforme, com o mínimo de contaminação de outras áreas.
Custo para combater x custo para prevenir
O custo pode variar de acordo com o tamanho da área e com os métodos a serem adotados. É importante salientar a eficiência do MIP (Manejo Integrado de Pragas), que forma um pacote tecnológico dinâmico, levando em consideração os efeitos negativos que cada método de controle individual pode ter na sociedade e no meio ambiente, podendo ser adotados isoladamente ou associados harmoniosamente, numa estratégia de manejo baseada em análise de custo/benefício que leva em conta o interesse e /ou impacto nos produtores, sociedade e ambiente.