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Pior doença da bananeira

Pesquisa – Crédito: Bruno de Andrade

Cientistas da Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA) estão obtendo resultados promissores com o fungo Trichoderma asperellum no controle de outro microrganismo do mesmo reino, o Fusarium oxysporum f.sp. cubense (Foc), causador da murcha de Fusarium, uma das piores doenças da bananeira, antes conhecida como mal-do-panamá.

O uso de inimigos naturais contra doenças de plantas faz parte de uma estratégia sustentável, bem consolidada no Brasil, conhecida como controle biológico. Os testes de campo realizados nos últimos cinco anos no norte de Minas Gerais incluem práticas de manejo integrado de pragas (MIP), com variedades resistentes via melhoramento genético convencional, e manejo cultural aliados ao uso do T. asperellum.

Os fungos do gênero Trichoderma se destacam pela eficiência como agentes de controle biológico de plantas no Brasil, mas o isolado utilizado nessa pesquisa foi considerado o melhor da coleção da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).

Isso foi comprovado após oito meses de testes nos laboratórios e casa de vegetação da Embrapa. O resultado faz parte da tese de doutorado “Manejo integrado da murcha de fusarium em bananeira”, do analista Leandro Rocha, defendida na UFRB, sob orientação do pesquisador Fernando Haddad, ambos da Embrapa.

Incidência

O fusarium é capaz de sobreviver no solo por mais de 30 anos e é, atualmente, a pior ameaça a essa cultura, principalmente em perímetros irrigados, como o norte de Minas Gerais e o município de Bom Jesus da Lapa, na Bahia, grandes polos produtores da fruta, causando sérios prejuízos ao agronegócio.

A doença ataca também cultivares do subgrupo Prata, o preferido dos consumidores em diversas regiões do Brasil e que responde por, aproximadamente, 70% da área cultivada com banana no País.

Endêmica em todas as regiões bananicultoras do mundo, no Brasil a murcha teve impacto direto também na cultivar Maçã, diminuindo drasticamente sua presença no mercado devido à alta suscetibilidade ao patógeno.

Resultados vieram de pacote de soluções

Na pesquisa, o isolado Trichoderma asperellum mostrou-se muito eficiente como promotor de crescimento. “Muitos dos agentes de controle biológico também promovem crescimento e proteção de raiz e ele é um solubilizador de fósforo [torna solúvel esse elemento que originalmente é indisponível para a planta], o que otimiza a sua utilização. Os efeitos sobre a bananeira são melhorias no sistema radicular e na absorção de nutrientes, o que ajuda no combate ao patógeno porque a planta-mãe melhor nutrida responde melhor ao ataque do patógeno”, afirma Haddad.

A primeira parceira desse trabalho foi a Fazenda Borborema, localizada em Jaíba (MG), que possuía uma área completamente infestada pela murcha de fusarium e que não produzia mais bananas – nem mesmo a Nanica, que é resistente à raça 1, presente no Brasil.

O manejo foi estabelecido a partir do zero, antes do plantio, e montado um experimento com as variedades Prata, Maçã e a cultivar BRS Princesa [resistente à raça 1 de Fusarium] e com o pacote tecnológico da Embrapa, que incluía o Trichoderma.

“É preciso deixar claro que, por si só, o Trichoderma não consegue ter um efeito positivo sobre o Fusarium e resolver o problema. Isso se mostrou possível apenas com um pacote de medidas e vários tipos de tratamento aliados ao Trichoderma. Mas, com a banana Maçã, como ela é altamente suscetível, nem o manejo que adotamos foi eficiente e acabamos por perder todas as plantas do experimento”, conta Rocha

Interações com outros produtos

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Para ter sucesso com o Trichoderma, Rocha salienta o cuidado no uso concomitante com produtos químicos não compatíveis com o controle biológico e até mesmo com Bacillus spp., que são bactérias muito utilizadas nesse tipo de controle. “O Trichoderma que usamos não era compatível com a maioria dos bacilos utilizados pelos produtores de Minas Gerais e eles, normalmente, faziam aplicações conjuntas e não dava certo. Ou seja, fica claro que um outro tipo de manejo pode prejudicar o resultado”, alerta.

Um aspecto importante do trabalho, que avaliou cinco ciclos de produção, é que ele incluiu o manejo integrado de patógenos e pragas comuns à bananeira, como nematoides e broca-do-rizoma, que geralmente facilitam o ataque do fusarium. “O bom manejo dos nematoides faz com que a doença seja menos intensa no bananal. É todo um pacote, toda uma tecnologia de produção envolvida aí”, explica.

A banana BRS Princesa

Resistente à murcha de fusarium, a bananeira BRS Princesa tem porte médio a alto e características de tamanho, formato e gosto muito similares aos da Maçã. Foi desenvolvida pelo programa de melhoramento genético da bananeira da Embrapa e tem sido plantada com sucesso sob o cultivo orgânico, uma vez que é naturalmente resistente e dispensa a aplicação de agroquímicos

Parceria entre ciência e setor produtivo é fundamental

Com os parceiros de Jaíba, Pirapora e Janaúba, a equipe começou a realizar, nos experimentos, uma aplicação mensal via fertirrigação, que facilita a aplicação do agente de controle biológico, e manejos culturais, com correção de pH, adubos nítricos, cobertura vegetal, entrelinhas e variedades resistentes.

Haddad, que atualmente é supervisor do Setor de Gestão de Transferência de Tecnologia da Embrapa Mandioca e Fruticultura, destaca a parceria com as fazendas mineiras Borborema, Brasnica, Loschi e Marcos Ribeiro. “Há uma influência direta dos produtores, técnicos e consultores das fazendas nos direcionamentos da experimentação, devido à experiência desses parceiros na produção, tornando os resultados obtidos em ações economicamente viáveis e efetivas. Nós da pesquisa podemos pensar em uma recomendação que não seja viável economicamente. Por isso, é muito importante a participação dos técnicos, consultores e dos proprietários que possuem o conhecimento sobre a produção”, enfatiza.

“A ideia é que as fazendas produzam seu próprio Trichoderma, o que se chama de produção on farm, mas em uma produção controlada, com a nossa assistência, para assegurar a qualidade e a concentração do produto final, de forma a evitar desvio de resultado e contaminação do ambiente”, salienta o pesquisador.

Resultados animam produtores

Parceiro da Embrapa nas pesquisas, o produtor Saulo Bresinski Lage, ex-presidente da Associação Central dos Fruticultores do Norte de Minas (Abanorte), mostra esperança no controle biológico contra a doença. “O Trichoderma não é uma vacina, algo que se aplique e já tenha o resultado esperado, mas tem conseguido diminuir a ocorrência do fusarium. Eu acredito que é o caminho. Esse fungo tem feito pessoas perderem áreas de mais de 200 hectares de banana Prata, que é um custo muito alto e pode até inviabilizar a continuidade da produção do bananicultor”, conta.

Dilhomar Aguiar, gerente de produção do Grupo Borborema, em Jaíba, relata resultados satisfatórios com a tecnologia. “Estamos fazendo um trabalho em parceria com a Embrapa desde o fim de 2014. Iniciamos com a BRS Princesa (frutos da variedade ao lado) e hoje trabalhamos em uma área de 150 hectares com o Trichoderma produzido pela Empresa. Usamos outras marcas comerciais em 100% das fazendas. É uma das únicas formas de conviver com o Fusarium, fazendo todo o manejo integrado das práticas, como por exemplo redução de herbicidas, usar fontes mais nobres de adubação e evitar o uso de sais mais pesados como o cloreto e os sulfatos. E o Trichoderma se encaixa como uma opção dentro desse manejo”, explica.

Entretanto, Aguiar lembra que um dos entraves hoje no Brasil para o uso controle biológico é o custo. “Não conseguimos fazer 100% de controle biológico comprando os produtos comerciais. Por isso, queremos investir nas práticas on farm para multiplicar esses microrganismos dentro da fazenda. Dessa forma, conseguiremos reduzir custos e ser competitivos porque a margem da fruticultura não é tão grande. Os altos custos inviabilizam a nossa participação no mercado”, pondera.

Thiago Lage, responsável pela Frutsi Agronegócios, também de Jaíba (MG), é outro adepto do fungo e parceiro da Embrapa. “O uso do Trichoderma, os tratos culturais e o manejo necessário na bananicultura são todos muito importantes, assim como a parte nutricional. Estar com os nutrientes equilibrados no solo é fundamental para manter a capacidade de recuperar. Ele tem vários benefícios, para várias culturas, não só a banana. Salva muito a produção porque só com o manejo não se consegue virar o jogo”, constata.

No Perímetro Irrigado do Jaíba, o produtor Marcos Ribeiro foi outro parceiro a testar e aprovar o uso do fungo. “O Trichoderma da Embrapa é muito mais competente. Impressionante, nós injetamos cinco quilos de um Trichoderma, e os 200 gramas do microrganismo da Embrapa tiveram um efeito igual ou superior ao outro. É a possibilidade de baratear um insumo de extrema importância. O nosso calcanhar-de-Aquiles aqui no Jaíba é o Fusarium. Com essa parceria e a transferência da tecnologia, conseguiremos produzir para o nosso consumo. É muito significativa a economia que vamos fazer”, comemora.

Os experimentos iniciais foram realizados em áreas de médios e grandes produtores, mas a tecnologia vai estar disponível também para os pequenos. “Muitas vezes, com áreas pequenas, não podemos dispor de um trabalho de experimentação adequado, o que poderia comprometer a produção. Para trabalhar com cooperativas e associações, temos que oferecer um pacote mais determinado e ajustado para não haver prejuízo e nem perigo na sustentabilidade da agricultura familiar”, informa Haddad.

Nova raça de Foc preocupa produtores brasileiros

Em 1990 uma nova variante de Foc, que afeta seriamente as cultivares do subgrupo Cavendish, foi identificada no sul da Ásia. Denominada raça 4 tropical (R4T), tem se espalhado rapidamente na Ásia, com forte impacto na Indonésia, nas Filipinas e na China. Estima-se que mais de 100.000 hectares de banana já tenham sido destruídos pela doença. Estimativas apontam que mais de 80% das bananas produzidas atualmente no mundo sejam de variedades suscetíveis à raça 4, mais agressiva que a raça 1.

Já existem relatos de surtos recentes na Jordânia e Moçambique (2013); Paquistão, Líbano e Austrália (2015); Vietnã e Laos (2017); Mianmar e Israel (2018); e na Colômbia (2019). No Brasil a doença poderá atingir 90% da produção nacional.

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