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Análise de solo

Marco Túlio Gonçalves de PaulaEngenheiro agrônomo e mestre em Qualidade Ambiental – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)mtulio.agro@gmail.com

Análise de solo – Crédito: Shutterstock

A ferramenta mais usada há tempos na agricultura, para se conhecer a fertilidade, os teores nutricionais e a condição química agricultável do solo é a análise de mesmo, mas pouco se sabe sobre o combo de benefícios que esse conhecimento da terra pode fornecer às culturas semeadas em sequeiro (soja, milho, sorgo, girassol, entre outras).

Em muitas propriedades rurais, a análise de solo não é feita da forma correta, tanto na amostragem quanto na profundidade, ou até mesmo não seguindo as condições da cultura que será implementada.

Uma amostra para enviar ao laboratório de análise química e física do solo deve representar um talhão homogêneo, ou seja, mesmo não havendo divisão física na gleba de solo (carreador, estrada etc.), se a área apresentar divisões visuais, hídricas e manchas de solos diferentes, essas áreas devem ser tratadas à parte, para que se tenha a melhor recomendação de correção possível.

Nas áreas de cultivos anuais, o ideal é que, antes de iniciar o período chuvoso, seja feita análise química do solo e recomendação de correção através dos insumos, geralmente calcários diversos, gesso agrícola, entre outros.

Recomendações

No sistema de semeadura direta sobre a palhada, devemos retirar amostras de solo na camada de 0 – 20cm de profundidade e em camadas mais profundas. Essas primeiras amostras analisadas (0 – 20cm) determinarão a recomendação de calcário e qual o mais adequado à área.

As amostras das camadas mais profundas (20 – 40 cm, 40 – 60 cm, 60 – 80 cm, etc.) determinarão a necessidade de uso do condicionador de solo, sendo o mais comum o gesso agrícola. No sistema de plantio convencional, em que há o revolvimento do solo, devemos coletar uma amostra na profundidade de solo que será revolvida pelo maquinário e amostras abaixo da faixa arada.

A amostra da camada de solo revolvida determinará a recomendação de calcário e qual o melhor produto para a área, que será aplicado e posteriormente incorporado com o revolvimento do solo. A amostra da faixa mais profunda de solo determinará a recomendação de gesso agrícola.

Correções do solo

Quando se conhece todas as faixas do solo, as correções com calcário, usando o mais adequado, e com gesso agrícola, favorecem o ambiente para o desenvolvimento das raízes. Quanto mais o solo é corrigido em profundidade, maior é o crescimento das raízes nessas camadas. Portanto, em situação de veranico, as plantas demoram mais a perder o contato com a faixa úmida de solo, pois as raízes estão mais fundas.

Quimicamente falando, o que é ocorre é que o calcário disponibiliza óxidos de cálcio e magnésio, que se quebram, disponibilizando os nutrientes Ca e Mg e formando óxido de alumínio, que precipita para as camadas mais profundas por ter carga neutra. O gesso agrícola desce mais facilmente no perfil do solo e disponibiliza cálcio e enxofre.

O sulfato de cálcio se quebra na presença da umidade do solo, disponibilizando cálcio e formando sulfato de alumínio, além de disponibilizar também o enxofre. Ano após ano, com o manejo de correção com calcário e gesso agrícola, o alumínio vai precipitando cada vez mais, tornando mais profunda a camada ótima para o desenvolvimento radicular, além de potencializar a absorção de água e demais nutrientes, como cálcio, magnésio e enxofre.

Entenda melhor

Mas, qual a diferença do método utilizado na agricultura de precisão com o método convencional de recomendação de correção de solo? Quando a recomendação é feita por um agrônomo especialista em correção de solo pelo método do equilíbrio das bases, a única diferença da agricultura de precisão para a convencional é o tamanho do talhão.

Na agricultura de precisão o talhão é formado por grids menores, de meio, um ou dois hectares, portanto, utiliza-se a máquina de aplicação em taxa variável, enquanto na agricultura convencional a amostra representa um talhão visualmente homogêneo e maior, possibilitando aplicar o corretivo com aplicação em taxa fixa.

Dicas importantes

A recomendação de correção da camada superficial se dá pelos mesmos cálculos, escolhendo sempre a quantidade e o tipo de calcário apropriado para cada solo. A recomendação para as camadas mais profundas com gesso agrícola se dá em função do tipo de solo, do teor de cálcio e de alumínio dessas mesmas camadas.

A amostragem correta a ser feita deve ser representativa do talhão homogêneo analisado. O ideal é coletar o solo com sonda ou ferramenta adequada (boca de lobo) na camada de 0 – 20 cm e colocar em um balde ou embalagem, e no mesmo ponto coletar as camadas mais profundas de acordo com a necessidade da área (20 – 40 cm, 40 – 60 cm…).

O importante é sempre separar as camadas em baldes ou embalagens diferentes. Após coletar em um ponto, escolhem-se outros cinco a oito pontos, pelo menos, de forma aleatória, evitando manchas de solo diferentes, com acúmulo maior de matéria orgânica ou outras características, e se faz a coleta das mesmas camadas, colocando cada uma no respectivo balde ou embalagem.

Após coletar todos os pontos, é necessário homogeneizar o solo presente em cada balde (referente a cada camada amostrada) e enviar uma amostra de 0,5 a 1,0 kg desse solo homogeneizado para o laboratório de análise química. A identificação do talhão, da propriedade, do proprietário, data de coleta e descrição da camada (0 – 20 cm, 20 – 40 cm, 40 – 60 cm…) também é de suma importância.

Fique de olho!

A planta tem um potencial enorme de emissão de raízes, porém, no campo, vários são os fatores de impedem esse desenvolvimento radicular, sendo pragas, doenças de solo, compactação, presença de alumínio, além da quantidade tolerada pela planta, nematoides, entre outros. Por isso, antes de implementar a cultura deve-se atentar e amenizar todos esses efeitos negativos.

Por meio da correção e condicionamento das camadas superficial e subsuperficial do solo, o fator alumínio já deixa de ser um problema. Ao inserir no manejo também o controle de pragas, doenças e nematoides, e utilizando sempre de práticas desfavoráveis à compactação do solo, favorecemos a emissão de raízes pela planta em todos os pilares possíveis.

Uma planta com sistema radicular mais sadio e desenvolvido é uma planta mais sustentada, com maior taxa de absorção de água e nutrientes, com menor chance de sofrer estresse hídrico e tombamento, e com um potencial produtivo mais elevado.

Pela análise de solo também se pode recomendar a adubação dos macro e micronutrientes necessários à planta, portanto, a adubação de base e cobertura, os complementos com micros e as demandas em geral da planta serão fornecidas no manejo de fertilidade, resultando numa planta mais tenra, saudável, com menores possibilidades de ataque de pragas e doenças e com uma colheita mais farta.

Pensando em soja, o ciclo da cultura é muito curto, quanto comparado às diversas plantas cultivadas no Brasil, então, alguns dias de estresse hídrico representam, em porcentagem, uma boa parte da vida das plantas, e prejudica totalmente a capacidade produtiva delas.

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