Cristiane de Pieri – Bióloga, doutora em Ciência Florestal e docente do Curso de Agronomia – FAEF, Garça (SP) – pieri_cris@yahoo.com.br
Christiane Ceriani Aparecido – Bióloga, doutora em Agronomia/Proteção de Plantas e pesquisadora científica – Instituto Biológico – São Paulo (SP) – christiane.aparecido@sp.gov.br
Novas tecnologias e sistemas de produção sustentáveis vêm sendo estudados, desenvolvidos e adotados nas várias regiões do País visando alcançar maiores produtividades, sem a abertura para exploração de novas áreas.
Levando em conta a fisiologia da planta, intensificaram-se estudos sobre os efeitos de substâncias orgânicas modificadoras do desenvolvimento vegetal, capazes de aumentar significativamente a produtividade. Esse emprego, na agricultura, vem se tornando prática viável, com o objetivo de explorar o potencial produtivo das culturas.
Como o nome diz, os bioestimulantes são provenientes de materiais biológicos, portanto, são tidos como uma mistura de hormônios vegetais, nutrientes, microrganismos (fungos e bactérias), enzimas, substâncias húmicas (formadas por ácidos húmicos, fúlvicos e huminas, resultantes da decomposição da lignina no solo por microrganismos), aminoácidos, resíduos e subprodutos agroindustriais, além de extratos de algas, como os do gênero Ascophyllum sp.
Quem são eles
Os bioestimulantes são substâncias complexas (como vitaminas, aminoácidos, hormônios, glucosídeos, etc.) e, devido ao grau de complexidade, essas substâncias agem em sinergismo, o que acarreta em ganho de produtividade no campo, pois agem em diferentes funções fisiológicas na planta, potencializando o seu desenvolvimento. Tais substâncias atuam estimulando os processos naturais dos vegetais.
Benefícios
Esses compostos auxiliam no aumento da produtividade agrícola, além de ser uma prática sustentável, sem agressão ao meio ambiente. Promovem inúmeros benefícios que auxiliam no crescimento e no desenvolvimento do vegetal: propiciam o enraizamento e a brotação de novos ramos; auxiliam a planta no equilíbrio hormonal (as substâncias húmicas estimulam a produção dos hormônios vegetais: giberelina, citocinina e auxina; atuam na síntese da enzima ATPase de membrana, favorecendo o enraizamento da planta; estimula a germinação de sementes e acelera o crescimento das plantas); ajudam na manutenção da fertilidade do solo, promovendo o equilíbrio do ecossistema (macro e microfauna do solo) e isso auxilia na disponibilidade, absorção, translocação e eficiência de nutrientes, tais como nitrogênio e fósforo.
A maior capacidade de retenção de água resulta, também, em maior porosidade do solo e, consequentemente, melhor oxigenação; na formação de quelatos orgânicos; aumentam a atividade antioxidante da planta, somando a tolerância a vários estresses de origem abiótica (hídrico, salino, altas e baixas temperaturas) e, embora não tenham relação direta contra agentes bióticos, como pragas e doenças, os bioestimulantes promovem melhor desenvolvimento das plantas e essas tornam-se menos suscetíveis ao ataque de fitopatógenos, etc.
A aplicação dos bioestimulantes na agricultura pode ser feita via semente, diretamente no solo, pela irrigação, pela incorporação em fertilizantes ou, ainda, via foliar. Utilizá-lo não exime o uso da adubação com fertilizantes químicos. Seu uso potencializa o efeito da absorção e translocação, propiciando, dessa forma, posteriormente, a redução de insumos químicos.
Aplicação
Como qualquer produto, cuidados devem ser tomados na aplicação para não se ter efeitos negativos. Deve-se averiguar a composição do produto, dosagem, recomendação, como aplicar e a melhor época de aplicação na cultura desejada.
Seu uso vem sendo cada vez mais implantado na agricultura para obtenção de maiores rendimentos devido aos resultados constatados em diferentes espécies de valor econômico.
Na cultura da soja, há muitos relatos de alta produtividade, gerando cerca de quatro a dez sacas por hectare a mais com o emprego de bioestimulantes.
Em algodoeiro, a aplicação destas substâncias complexas resulta em plantas mais vigorosas, com maior massa seca, comprimento e porcentagem de emergência.
Em plântulas de milho crescidas em solução nutritiva com bioestimulantes, houve aumento da área de superfície radicular e incremento significativo no peso seco das plântulas. Em campo, também se observa incremento na produtividade.
Em trigo foi constatado aumento na produção de grãos e no teor de proteínas, quando cultivado com bioestimulantes.
Em citros, o uso de bioestimulantes estimula o crescimento das raízes, seja pela elongação celular e/ou pelo aumento da biomassa. Assim, com o sistema radicular mais eficiente, mesmo em solos mais pobres a planta pode apresentar produção mais elevada.
Pesquisas
Estudos em condições controladas possibilitaram observar que, ao serem utilizados esses bioestimulantes, há uma retenção do nitrogênio no solo, na forma de amônio (disponível para a absorção pelas raízes das plantas).
Como as raízes das plantas de citros apresentam crescimento lento, quanto maior a disponibilidade e menor a perda por lixiviação, melhor será o aproveitamento pela planta.
Existem relatos, também, do aumento no número de ramos da laranjeira Pêra 69 dias após a primeira aplicação de bioestimulantes na dose de 1,0 L por hectare, conforme recomendação do fabricante, sendo que, somado a este resultado, o peso médio dos frutos por árvore também aumentou, quando comparado ao tratamento controle.
Em hortaliças, como alface americana, alface romana, alho, batata-doce e tomate, bioestimulantes promoveram estímulo enzimático (H+ ATPase), incidindo assim no maior número de raízes e maior absorção de nutrientes, elevando a produção dessas em testes em laboratório, cultivo protegido e em campo.
No que se refere à produção de mudas, constatam-se resultados positivos dos ácidos húmicos como promotores do crescimento vegetal para a cultura da alface, ocorrendo aumento de cerca de 20% a mais de massa seca da parte aérea, em relação à plantas que não são cultivadas com bioestimulantes.
Aumento no desenvolvimento e na produtividade em videiras, café (Coffea arabica), rabanete, cenoura, maracujá amarelo, em gramados e em espécies arbóreas, como nos gêneros Quercus, Fagus e Betula também foi observado utilizando bioestimulantes.
Em pomares de maçã gala, o uso de bioestimulantes, além de melhorar os parâmetros de qualidade, reduziram a incidência da doença sarna da macieira em folhas e em frutos. Convém ressaltar que esta é uma das principais doenças foliares da cultura, sendo constatada em todas as regiões produtoras.
Qual escolher?
Há muitos produtos no mercado com diferentes compostos que podem ser utilizados na produção agrícola. Com relação aos custos, o litro de um produto custa, em média R$ 100,00.
Dependendo da cultura em questão e conforme as recomendações da bula do fabricante, para aplicação foliar, por exemplo, o produtor deverá utilizar, no mínimo, 100 ml do produto para o preparo de calda a ser pulverizada em área equivalente a um hectare.
Assim, em culturas que exijam quatro aplicações durante o período vegetativo/reprodutivo, serão gastos cerca de R$ 40,00/ha no que se refere ao produto. Como resultado destas aplicações, já foi relatado o aumento de cerca de 20% em produtividade.
Observa-se, portanto, que a utilização dos bioestimulantes, seguindo as recomendações dos fabricantes, poderá gerar um expressivo aumento da produtividade e, consequentemente, financeiro para o produtor, além da questão ambiental, uma vez que a utilização de produtos que contaminem o ambiente e que possam causar danos à saúde de trabalhadores do campo e consumidores pode ser minimizada.