Uma técnica de plantio aplicada nas terras baixas gaúchas foi capaz de garantir uma ótima produtividade da soja na região, caracterizada por solos com deficiência em drenagem natural.
Bons resultados foram registrados em estudo de viabilidade do uso do sistema sulco-camalhão, em que a cultura é plantada no trecho mais elevado (camalhão) e os sulcos laterais servem para escoamento da água de drenagem e irrigação e por onde passam os rodados das máquinas.
O trabalho foi feito em seis propriedades com lavouras de soja e milho com o objetivo de adaptar culturas de terras altas às terras baixas gaúchas. Com a irrigação por sulcos houve aumento, na primeira safra do experimento, de mais de 20 sacas por hectare (sc/ha) em comparação à média de produção da área ao lado, que não usou essa tecnologia.
Já na segunda safra o aumento foi de 26 sc/ha. O custo médio pela aplicação da tecnologia de sulco-camalhão ficou em R$ 637,00/ha. Em dois anos de trabalho, a equipe de pesquisadores, técnicos e produtores envolvidos no Projeto Sulco considerou os dados animadores.
“Os resultados têm sido muito bons, gerando estabilidade de produção. No sistema convencional, em anos secos ou de muita chuva, a produção de soja e milho é baixa. Já em anos em que está tudo bem com o clima, produz bem. E no sistema sulco-camalhão do Projeto Sulco temos tido boas produções com estabilidade”, destaca o pesquisador da Embrapa Clima Temperado José Maria Parfitt. O projeto é realizado em parceria público-privada.
Conforme os resultados desse trabalho, ao adubar bem a cultura da soja, é possível alcançar cerca de cinco mil quilos por hectare, com boa estabilidade e usando boas cultivares. Com a cultura do milho não é diferente, é possível chegar à produção de 12 toneladas do grão ano a ano, independentemente das condições climáticas.
[rml_read_more]
“A primeira safra do Projeto (2019/2020) foi extremamente seca, com perdas de produtividade nas lavouras do Estado, mas as áreas-piloto de soja irrigada produziram, em média, 20 sc/ha a mais do que as áreas não irrigadas na mesma propriedade, com produtividade média de 66,3 sc/ha. Essa produtividade corresponde ao peso da produção total obtida na colheita, ajustada para a umidade de 13% e descontadas as impurezas”, avalia Parfitt.
Viabilidade econômica
Quanto à viabilidade econômica, foi preciso considerar as cotações da época, os custos adicionais para a realização da irrigação e da drenagem por sulco-camalhão, resultando uma média de 3,5 sc/ha, indicando excelente viabilidade econômica do sistema. “Os custos adicionais incluem a suavização, a construção dos sulcos-camalhões, a aquisição dos politubos e o custo da água e energia para irrigação”, ressalta Centeno.
Há pouco tempo foram colhidas as áreas da safra 2020/21 nas propriedades-piloto do projeto, que apresentaram produtividade mais alta que a da safra anterior. “Um dos produtores parceiros é Geovani Weber, do município de Formigueiro (RS). Ele alcançou 105,8 sc/ha, muito próximo do potencial produtivo da soja em terras baixas do RS, estimado em 107 scs/ha (6,4 ton/ha) pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)”, diz Parfitt.
Apesar de o regime de chuvas da safra 2020/21 ter corrido normalmente, as áreas irrigadas pelo sistema sulco-camalhão produziram, em média, 23 sacas a mais por hectare do que as áreas de sequeiro do mesmo produtor. “Os custos adicionais para a implantação e execução da irrigação por sulco-camalhão foram um pouco maiores do que na safra anterior e, mesmo com os preços da saca de soja a R$ 170,00, foram equivalentes a R$ 683,00/ha. De qualquer forma, o retorno financeiro para o produtor foi excelente”, observa Centeno.
“Esse sistema implementado pelo projeto trouxe ótima experiência de plantio com o uso do sulco-camalhão, mostrando que funciona perfeitamente. Pretendo fazer esse manejo de plantio em toda minha lavoura de várzea”, confirma.