Por César Borges*
O Brasil é o maior produtor mundial de soja, uma potência que encontra mercado aberto e é reconhecido pela tecnologia e qualidade de seu produto. Uma parcela dos produtores rurais brasileiros – pequena, é verdade – ainda opta pelo plantio de soja livre, ou seja, não transgênica. Na safra 2021/22, estima-se que 2% da área cultivada em todo o país seja convencional, com Mato Grosso liderando, sendo responsável por cerca 45% dessa produção. No estado, 3,3% da área total será plantada com soja convencional.
À frente do Instituto Soja Livre a partir de agora e pelos próximos dois anos, tenho a importante missão de fortalecer a imagem da soja convencional e fomentar o cultivo entre os produtores rurais brasileiros. Afinal, temos mercado aberto na Europa e um potencial se abrindo – a nossa principal cliente China. Só para se ter uma ideia, a classe média chinesa é maior que toda a população brasileira e eles precisarão do fornecimento regular de soja convencional para consumo humano.
Uma pesquisa da empresa europeia Euromonitor revela que 55% dos consumidores daquele continente analisam o rótulo dos produtos em busca de indicação de que são alimentos livres de transgênicos, o que nos mostra que a qualidade pesa muito na hora das compras. A pesquisa indica ainda que 40% desse público está disposto a pagar mais por estes produtos, indicando que os consumidores de soja convencional e de produtos sustentáveis são um público fiel.
Para o produtor rural também é um bom momento: a soja convencional está atrativa na comercialização, chegando a uma média de prêmio de US$ 6,00 por saca atualmente. Desta forma, a receita líquida fica positiva em relação à transgênica em até seis sacas a mais por hectare, chegando a mais de R$ 800 por hectare.
Mas para chegarmos a uma grande área plantada de soja livre de transgênicos, precisamos percorrer um caminho de foco em tecnologia e marketing. Os produtores rurais brasileiros sabem fazer o seu trabalho dentro da porteira e não é à toa que se destacam mundialmente pela eficiência.
O trabalho de comunicação e imagem do Brasil no exterior precisa ser bem feito e é algo discutido pelo agronegócio de forma geral há um bom tempo. É urgente mostrarmos nosso potencial, nossa forma de trabalhar e nossos produtos para o mundo.
Neste esforço de comunicação, é fundamental divulgarmos o bem-sucedido modelo de trabalho que resultou na concretização da chamada “soja livre”, envolvendo consumidores, iniciativa privada e governo. Cada vez mais informados e exigentes, os consumidores clamam por produtos “limpos”, ambiental e socialmente corretos.
Esta demanda foi prontamente identificada pelos elos da cadeia produtiva da soja. A pesquisa e o melhoramento genético nacional tiveram papel fundamental, sobretudo as sementeiras que se empenham em permanecer nesse nicho entregando excelência em qualidade. Os produtores ousaram, investiram e venceram o desafio de cultivar variedades convencionais, não-transgênicas. A indústria, de sua parte, abriu as portas para o grande mercado internacional, utilizando-se de sua expertise comercial e na experiência de desenvolvimento de produtos finais com as especificações reclamadas pelos consumidores.
Todo esse esforço contou ainda com o apoio estratégico da Embrapa, que, de forma inovadora, investe na pesquisa, desenvolvimento e lançamento de variedades de soja não-transgênicas, de elevada resistência e alta produtividade. O resultado dessa soma de forças é a posição de destaque que a “soja livre” verde e amarela tem no mercado internacional.
É preciso, entretanto, fazer mais.
Cabe a nós mostrarmos a todos os consumidores que temos o produto que estão procurando, plantado e produzido com tecnologia e sustentabilidade. O Instituto Soja Livre buscará sempre estar à frente desta pauta como interlocutor dos produtores rurais, empresas, governos brasileiros e de outros países e, também, dos consumidores finais.
*César Borges é empresário, conselheiro da Caramuru Alimentos e está presidente do Instituto Soja Livre (ISL) na gestão 2021-2023.