Antonio Santana Batista de Oliveira Filho – Mestre em Agronomia e tutor presencial – UNOPAR-Balsas – a15santanafilho@gmail.com
Jefferson Carvalho Barros – Doutorando em Educação – Unijuí, professor e coordenador do curso de Agronegócio e da pós-graduação em Gestão Executiva no Agronegócio -Unibalsas – coord.agronegocio@unibalsas.edu.br
Eduardo Arouche da Silva – Mestrando em Engenharia de Sistemas Agrícolas – ESALQ/USP – eduardoarouche@usp.br
A cultura do café tem grande expressividade no agronegócio brasileiro e mundial, sendo que há vários anos o Brasil lidera o ranking de maior produtor de café do mundo. Dada a importância da cultura, a busca por avanços tecnológicos que visem o aumento da produção é constante. Os estudos avançam rapidamente, integrando soluções para uma agricultura mais rentável e sustentável.
As mudanças ambientais e as mudanças provocadas pelo manejo dos ambientes agrícolas levam à necessidade de adequação constante dos sistemas produtivos, pois um processo produtivo sadio durante todo o ciclo de cultivo na cultura do cafeeiro proporciona o desenvolvimento mais expressivo, com recursos disponíveis para formação de plantas vigorosas, resultando em uma maior produção e maiores rendimentos por área.
Os bioestimulantes
Condições adversas estão cada vez mais comuns durante o ciclo produtivo da cultura, sejam bióticas, como pragas e doenças, ou condições abióticas, como geadas ou secas extremas, fertilidade do solo, dentre outras, fato esse que exige a adoção de técnicas que possam impedir ou reduzir o efeito dessas intempéries sobre a cultura.
Nesse sentido, o uso de bioestimulantes tem sido uma prática bastante difundida em diversas culturas, dentre essas a do café. Os bioestimulantes podem ser definidos como sendo substâncias naturais ou sintéticas, obtidas da mistura de dois ou mais biorreguladores vegetais ou destes com outras substâncias (aminoácidos, nutrientes e vitaminas), que podem ser aplicados diretamente nas plantas ou em tratamento de sementes.
Nesse contexto, o bioestimulante funciona como um amenizador de danos causados por condições adversas durante o ciclo da cultura.
Quem são eles
São exemplos de bioestimulantes quatro grupos principais de substâncias: os aminoácidos e hidrolisados de proteínas, as substâncias húmicas, os microrganismos e inóculos, e os extratos de algas.
As condições estressoras nas plantas são capazes de levar a alterações fisiológicas e aumentar o estresse oxidativo, reduzindo a eficiência quântica do fotossistema devido a uma série de reações, como a inibição da fotossíntese, gerando uma super-redução da cadeia de transporte de elétrons, aumentado o escape de elétrons que reagem com o oxigênio molecular (O2) e formam espécies reativas de oxigênio (EROs), o que por fim resulta em menor produtividade.
Nesse contexto, são inúmeros os benefícios proporcionados pelo uso de bioestimulantes, pois estes têm a capacidade de aumentar a atividade antioxidante das plantas, ou seja, a planta se torna mais resistente às condições adversas às quais estão expostas.
Benefícios
Entre os principais benefícios dos bioestimulantes, pode-se citar o fato de que os bioestimulantes são produtos naturais, ou seja, não causam contaminação ao produto final, não expondo a cultura a produtos sintéticos. A utilização de um produto natural, eficiente e racional, como os bioestimulantes, pode ajudar a proteger o meio ambiente mediante a redução de aplicações excessivas de produtos químicos e aumento da resistência de pragas e doenças.
Outro benéfico é o fortalecimento natural da autodefesa da planta. Nesse sentido, a planta se torna mais resistente e capaz de ativar seus mecanismos de defesa quando atacadas por pragas e doenças.
Pesquisas
Souza et al. (2019), ao avaliarem o efeito do bioativador de solo no desenvolvimento inicial do cafeeiro, concluíram que o mesmo promoveu um melhor desenvolvimento inicial, refletindo em diâmetro, peso verde e seco, número de folhas por muda, área foliar, altura de planta, comprimento de raiz e relação parte aérea/raiz.
Manoel et al. (2015) obtiveram maior número de nós dos ramos plagiotrópicos no terço inferior da planta de cafeeiro com a utilização de bioestimulador, enquanto Silva Filho et al. (2012) observaram que houve uma alteração positiva na qualidade da bebida quando utilizado bioestimulador no cultivo.
Recomendações
Os bioestimulantes podem ser aplicados de diferentes formas, seja via semente, solo ou foliar. Na cultura do cafeeiro, as duas formas mais comum são aplicação via solo e foliar, ou a associação dessas duas.
O mercado já apresenta uma variedade de produtos comerciais que podem ser escolhidos pelo produtor de acordo com a necessidade da cultura, ou seja de acordo com a função que o produtor quer estimular na planta, seja ela crescimento, floração, frutificação dentre outras.
As diferentes formas de aplicação são alvos de estudos, em que Rios et al. (2020) realizaram a aplicação de bioestimulante na cultura do café 14 dias após o plantio, sendo realizadas as pulverizações (aplicação foliar) por seis vezes, com um intervalo de 15 em 15 dias de cada aplicação.
Souza et al. (2019) utilizaram a aplicação de bioestimulante na cultura do café após o transplante das mudas, realizando a aplicação de ativador de microbiota de solo, sendo feita a aplicação via solo somada a três aplicações líquidas via foliar.
Em campo, os resultados obtidos são plantas mais vigorosas e resistentes às diferentes condições adversas que possam ocorrer durante o ciclo de cultivo. Desse modo, é possível alcançar produtividades adequadas, mesmo quando a planta passa por condições de estresse, permitindo o pleno desenvolvimento da cultura do cafeeiro.
Além de resultados positivos em relação à oferta de resistência e autodefesa da planta, o uso de bioestimulantes também promove eficiência econômica por conta da utilização suficiente de fertilizantes e produtos químicos, pois uma planta sadia requer menor aplicação desses produtos, dessa forma, sendo economicamente viável ao produtor.
Erros
Os principais erros cometidos durante o uso de bioestimulantes se dão principalmente pela aplicação tardia do produto, condições em que a planta já sofreu os efeitos das condições adversas a que foi exposta e não consegue mais reaver a produtividade estimada.
Para evitar os principais erros, é necessário que o produtor esteja atento a essas condições, e ao perceber mínimas alterações no comportamento da mesma, buscar realizar a aplicação dos bioestimulantes.
Outra ação primordial e que deve ser preferencialmente realizada é a aplicação do bioestimulante antes mesmo da condição adversa acontecer, melhorando assim a defesa da planta e fazendo com que a mesma esteja preparada para resistir melhor.
Investimento
Os custos da aplicação de bioestimulantes são resultantes das horas de trabalho de máquinas agrícolas para realizar as aplicações, bem como o valor do produto comercial a ser adquirido, ou seja, esses custos se assemelham aos da aplicação de defensivos químicos na lavoura.
Avaliando que algumas condições adversas (pragas, doenças, condições climáticas) podem resultar em perdas de quase 100% das lavouras, o custo-benefício da aplicação de bioestimulantes é favorável para o produtor, visto que a aplicação impacta diretamente na produtividade final da cultura, reduzindo as perdas do produtor e, consequentemente, resultando em uma produção satisfatória.
Além disso, a aplicação de bioestimulantes pode reduzir gastos com defensivos, pois uma planta com defesas e propriedades antioxidantes adequadas consegue se manter mais saudável e essa, por sua vez, é capaz de resistir melhor a pragas e doenças. Desse modo, o produtor consegue reduzir os gastos com o uso de defensivos agrícolas.
Viabilidade
É notório que a relação custo-benefício é satisfatória para o produtor, em que avanços tecnológicos estão cada vez mais sendo inseridos no mercado, o que, em contrapartida, traz perspectivas positivas de crescimento da utilização de produtos biológicos, aliado a uma maior produtividade das culturas e menor impacto ambiental.