Talis Melo Claudino – t.claudino@unesp.br
Jesion Geibel da Silva Nunes – jesion.geibel@unesp.br
Engenheiros agrônomos e mestres em Agronomia/Energia na Agricultura – UNESP/FCA de Botucatu
Tarciso Melo Claudino – Técnico agrícola e graduando em Engenharia Mecânica Empresarial – FURG-RS – t.claudino@furg.br
No cenário atual da produção agrícola, em geral nota-se que houve aumento de produção e produtividade (produção por área) nos diversos cultivos de plantas superiores, como soja, milho, algodão, cana-de-açúcar, entre outras.
Concomitantemente ao aumento da produção, houve também aumento da quantidade de fertilizantes minerais que são utilizados na agricultura. A Figura 1 mostra uma correlação entre a quantidade de fertilizantes entregues ao mercado e a produção total de grãos no Brasil nos últimos anos (ANDA, 2021; CONAB, 2021).
Entretanto, sabemos que grande parte dos fertilizantes que são aplicados no solo para posterior absorção pelas raízes das plantas são perdidos. As principais formas de perdas ocorrem por lixiviação (nitrogênio e potássio), volatilização (nitrogênio) e fixação (fósforo).
Em média, o aproveitamento do N, K2O e P2O5 é, respectivamente, de 50%, 70% e 20 – 30% da quantidade total aplicada. O fósforo é o nutriente com menor porcentagem de aproveitamento (20 a 30%), motivo pelo qual aplicam-se de três a cinco vezes a quantidade exigida pela planta.
Solos brasileiros
Em solos tropicais, como ocorre no Brasil, há predominância de óxidos de ferro e alumínio. O fósforo reage com esses óxidos, tornando-se indisponível para as plantas. Isso ocorre principalmente em solos com maior teor de argila e baixo teor de matéria orgânica.
As formas mais encontradas de P fixado são os fosfatos de cálcio, ferro e alumínio. O P fixado será liberado somente pela ação de microrganismos, que liberam exsudados ácidos e quebram a forte ligação covalente entre o P e os óxidos.
Assim, devemos utilizar de diferentes táticas de manejo para liberação do fosfato indisponível, bem como a implementação de técnicas onde este composto seja mais bem aproveitado pelas plantas.
Organominerais
O uso de fertilizantes organominerais tem se mostrado uma alternativa para aumentar a eficiência de aproveitamento do fósforo. Esse tipo de fertilizante é definido como a mistura ou combinação de fertilizantes orgânicos com minerais. Enquanto fertilizantes minerais fosfatados têm aproveitamento na faixa de 20 – 30%, os organominerais podem ser de 50 – 70%, dependendo da fonte e quantidade do material orgânico, e tecnologias que são introduzidas na formulação.
O melhor aproveitamento do P advindo de organominerais se deve ao aumento da superfície de contato do fósforo com o material orgânico, e assim o nutriente é protegido pela matéria orgânica por meio de ligações mais fracas, como pontes de hidrogênio.
Pesquisa
Na Figura 1 estão apresentados os resultados de um estudo, realizado pelo primeiro autor deste artigo. Foram testados dois tratamentos (1-fertilizante mineral e 2-fertilizante organomineral) em condições de campo na cultura da soja, cultivar AG 3680, no período de outubro a fevereiro de 2019, em um latossolo vermelho Eutroférrico típico A, sob sistema de semeadura direta da soja em sucessão ao milho.
O tratamento 1-fertilizante mineral foi representado pela dose de 220 kg ha-1 da mistura física de MAP e cloreto de potássio, com concentrações de 6% de N, 32% de P2O5 e 10% de K2O; o tratamento 2-fertilizante organomineral foi representado pela dose total de 220 kg ha-1 da mistura física de MAP, cloreto de potássio e turfa, com concentrações de 6% de N, 32% de P2O5, 10% de K2O e 10% de turfa (material orgânico).
Observa-se, na Figura 2, que a altura de plantas, o número de entrenós por planta, o número de vagens por planta e a produtividade de grãos de soja foram maiores no tratamento que combinou fertilizantes minerais e orgânicos (tratamento 2-fertilizante organomineral), quando comparado àquele em que foram utilizados apenas fertilizantes minerais (tratamento 2-fertilizante mineral).
A produtividade de grãos aumentou em 868 kg ha-1 com o uso de turfa na composição do fertilizante. Isso se deve à proteção dos elementos químicos pelo material orgânico (turfa), como por exemplo o fósforo, que apresenta relevantes problemas de fixação no solo, aumentando o tempo de disponibilidade para ser absorvido pelas raízes e, consequentemente, sendo mais bem aproveitado.
Sendo assim, pode-se concluir que a utilização de organominerais na agricultura é uma forma eficaz de se produzir, podendo contribuir para um sistema de cultivo mais rentável e ecologicamente sustentável.
Figura 2. Altura de plantas (a), número de entrenós (b) e de vagens (c) por planta; e produtividade de grãos de soja (d) em função da aplicação de fertilizante mineral e organomineral.