Fabrício Custódio de Moura Gonçalves – fabricio-moura-07@hotmail.com
Gean Charles Monteiro – gean.monteiro@yahoo.com.br
Doutores em Agronomia/Horticultura – UNESP/FCA, Botucatu
A acidez do solo limita a produção agrícola em diversas áreas do mundo, sobretudo, em virtude da disponibilidade e solubilidade do alumínio (Al3+), pela baixa saturação por bases e pela menor disponibilidade de fósforo (P).
No quesito desenvolvimento radicular das culturas, o Al3+, ao entrar em contato com a raiz, causa ruptura das células do periciclo e competição com o cálcio (Ca) pelos sítios de absorção das células radiculares, tornando as raízes mais curtas e grossas, com pouca formação de pelos radiculares.
Em pH ácido ocorre também efeito da absorção de H+ pelas raízes, que pode promover a ruptura da plasmalema (membrana plasmática) e, consequentemente, prejudicar o desenvolvimento radicular e a produtividade vegetal.
De maneira em geral, no Brasil, o material mais utilizado como corretivo de acidez, ou seja, para modificar as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo é o calcário, que, por sua vez, é eficaz para elevar o pH, os teores de Ca e de magnésio, a saturação por bases, além de reduzir os teores de Al3+ trocáveis no solo.
O solo com pH mais equilibrado favorece a atividade microbiológica, enquanto em pH ácido microrganismos decompositores de matéria orgânica têm sua atividade reduzida. Assim, com à aplicação de fonte de Ca, os microrganismos do solo passam a promover maior mineralização da matéria orgânica e fixação biológica de nitrogênio.
Manejo do cálcio
No Brasil, na maioria das áreas produtoras de cereais e fibras em sistema plantio direto, a aplicação de fontes de Ca tem sido realizada mediante aplicação de calcário na superfície, sem incorporação. Logo, demora mais tempo para o calcário reagir com o solo em profundidade, por causa de sua baixa mobilidade, fazendo com que o início da sua atividade no solo somente ocorra após um período de três a seis meses, o que pode prejudicar o desenvolvimento das culturas.
Resultados de pesquisa revelam que não têm sido obtidos aumentos na produtividade de grãos com a aplicação de calagem superficial em solos ácidos brasileiros cultivados sob plantio direto. Assim, opções de fórmulas solúveis de produtos à base de Ca ou micropartículas se apresentam como excelentes alternativas em condição de plantio da maioria dos solos brasileiros.
Enquanto o calcário convencional tem o tamanho das partículas variando de 50% < 0,3 mm e 50% > 0,3 mm, as micropartículas têm entre 0,0001 e 0,0002 mm. Dessa forma, quando se usa o calcário aplicado na superfície do solo, sem incorporação, considerando-se 1,0 hectare, tem-se a intenção de corrigir todo o solo de uma superfície de 10.000 m2 até 20 cm de profundidade.
Técnica
A aplicação de Ca no sulco de plantio, sobretudo em forma de micropartículas, tem o objetivo de proporcionar, em curto intervalo de tempo, condições favoráveis ao melhor desenvolvimento do sistema radicular e, consequentemente, maior absorção de água, conferindo à planta aumento de produtividade e resistência aos períodos de estresses.
Além disso, a sua aplicação do cálcio, por ser um elemento de difícil translocação nas plantas, é ideal que seja feita no solo próximo às raízes, para ser absorvido por fluxo de massa.
Dessa forma, os produtos à base de carbonato de cálcio aplicados em sulco de plantio são suspensões concentradas, com um tamanho de partícula muito pequeno. Além disso, a adição de aditivos nas formulações promove uma excelente suspensibilidade dessas partículas, evitando problemas com decantação no tanque e entupimentos no sistema de filtragem e bicos injetores.
A aplicação de cálcio no sulco de plantio pode ser efetivada também com o uso de pulverizador costal, equipado com kit de CO2, para garantir pressão e vazão constantes, além de uniformidade na distribuição do produto. Pode-se, ainda, adaptar a ponta do pulverizador entre os discos de deposição de sementes na semeadora-adubadora, onde as sementes são molhadas com a solução antes do fechamento do sulco.
O uso do elemento Ca, aplicado com o uso de injetores, como fertilizantes à base de cálcio líquido, acrescenta muito ao resultado do calcário. Essa tecnologia vem ganhando muito espaço nas principais regiões produtoras de soja, feijão, milho, algodão e trigo do Brasil.
Considerando-se o espaçamento utilizado para leguminosas, como feijão, o uso da correção à base de calcário em micropartículas localizadas no sulco, corrige-se, em 1,0 ha, o volume de solo localizado sob 1.000 m² de área (20.000 m de sulcos x 0,05 m), ou seja, dez vezes menos do que quando se aplica o calcário pelo método convencional.
Além disso, por causa do tamanho reduzido das micropartículas de calcário, a aplicação desse tipo de corretivo proporciona a reação mais rápida e localizada no sulco de semeadura, em relação à aplicação tradicional.
Vantagens
De maneira em geral, as fontes de carbonato de cálcio, quando aplicadas no sulco de plantio, criam um gradiente de Ca no solo próximo às raízes das plantas, que, por sua vez, estimula seu crescimento em profundidade, além de aumentar a atividade microbiológica próxima à rizosfera e garantir a resistência mecânica das plantas a estresses abióticos que possam causar injúrias ou acamamento, inclusive em condição de acidez.
Dentre outros benefícios da utilização desses produtos no sulco de plantio e à base de Ca, está a possibilidade de se utilizar vários nutrientes de maneira combinada, com doses fixas ou variáveis, na época e em locais certos, garantindo maior segurança e eficiência da fonte aplicada. Entre os nutrientes, boro, cálcio, magnésio, cobre, manganês e zinco podem ser combinados de forma líquida para serem aplicados diretamente no solo.
Na prática, à aplicação de Ca no sulco de plantio permite que as sementes com tratamento industrial sejam preservadas. Esta modalidade também pode assegurar, em alguns casos, mais eficiência no desenvolvimento dos embriões das plantas, desde o início da sua germinação até a formação das primeiras folhas e, por conseguinte, melhoria da produtividade.
A aplicação de solução com Ca no sulco de semeadura do feijoeiro-comum é eficiente para aumentar a produtividade de grãos, e em parte, justifica-se pela maior disponibilidade de P, podendo também ser influenciada por outros fatores (elevação de pH, maior disponibilidade de bases Ca, Mg e K), ocasionados pela ação da solução com Ca no sulco de semeadura.
Tecnologias a toda prova
No atual cenário, com diversas mudanças ambientais, o desenvolvimento de novas tecnologias permitem prolongar a vida útil, em que o uso do Ca de forma mais eficiente possibilita aumentar, desta forma, a produtividade, a competitividade e a sustentabilidade do sistema.
Também representa uma alternativa para melhorar a fertilidade de solos intemperizados que são pobres em bases, principalmente o Ca e o Mg, além do que, esses solos, em decorrência de pH ácido com elevados teores de hidrogênio (H) e alumínio (Al), tanto na superfície quanto na subsuperfície, afetam o desenvolvimento do sistema radicular da maioria das culturas comerciais.
Pesquisas relatam que a aplicação de Ca no sulco de plantio possibilita aprofundamento do sistema radicular e redução do estresse hídrico durante o período seco (inverno sem chuva), período esse que geralmente acontece para a maioria das regiões produtoras do Brasil, principalmente nos cerrados, poucos meses após o plantio de culturas de importância agrícola, como a cana-de-açúcar.
É importante ressaltar que a aplicação de Ca no sulco de plantio reflete em alta eficiência, quando o produtor segue as recomendações de uso dos fertilizantes, sobretudo a dosagem e seus intervalos de aplicações. De maneira em geral, quando essas fontes são bem manejadas, elas elevam a eficiência em produtividade, além do baixo custo.