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Cultivo de tomilho

Existem inúmeras espécies de tomilho originárias de regiões da Europa, Ásia e África banhadas pelo Mediterrâneo. No Brasil, três são encontradas com mais facilidade: uma delas é o tomilho comum, que se caracteriza por ter folhas pequenas e estreitas, usadas na culinária tanto frescas quanto secas. O tomilho-limão possui folhas verde-claras e sabor cítrico e é usado apenas fresco; e o tomilho-variegado se destaca pelas suas folhas bicolores

Roberta Camargos de Oliveira Engenheira agrônoma e pós-doutora em Produção Vegetal – Universidade Federal de Uberlândia (ICIAG-UFU) robertacamargoss@gmail.com

Fernando Simoni Bacilieri Engenheiro agrônomo e doutor em Agronomia – UFU ferbacilieri@zipmail.com.br

Tomilho -Créditos: shurtterstock

Em cultivos de extensas áreas, a escolha pelo tomilho leva em consideração majoritária seu papel aromático, por se tratar de uma espécie que exala compostos voláteis (metabolismo secundário das plantas). Estes compostos causam certa repelência aos insetos-pragas e podem ser adotados em áreas adjacentes, com especial impacto em cultivos orgânicos.

As áreas de tomilho para fins comerciais (consumo in natura, desidratado, óleos essenciais) ainda são esparsas e de pequena extensão relativa (comparado a outras culturas), sendo, sem dúvidas, muito inferior ao seu potencial de uso.

O Estado que se destaca na produção brasileira é o Paraná, e isso pode estar relacionado a questões culturais (que acabam gerando demandas diferenciadas), disponibilidade de assistência técnica (foco e acesso) e condições edafoclimáticas. 

A Espanha é responsável por cerca de 90% da produção mundial de óleo de tomilho, sendo o restante pulverizado em regiões da França, Alemanha, Suíça, Portugal, Itália, Bulgária, Hungria, Turquia e Grécia. Atualmente não há estatísticas disponíveis sobre o mercado global, mas estima-se que a produção de óleo essencial seja em torno de 4,0 toneladas por hectare.

Manejo

O espaçamento utilizado para o cultivo é em torno de 25-35 x 30-80 cm, sendo a profundidade de semeadura em torno de 0,1 a 0,2 cm. As espécies usuais consorciadas com o tomilho são berinjela, batata, tomate e couve.

Estudos levantam que menores densidades de plantio nas entrelinhas de tomilho podem proporcionar aumento no teor de óleo essencial, no entanto, faz-se necessário levar em consideração as condições do local de plantio e variedade, para garantir a correta infiltração de luz no dossel da planta, verificar o grau de competição entre plantas (competição intraespecífica) e ajustes no manejo da nutrição para atender a demanda de forma equilibrada.

Solo e adubação

Os solos mais adequados para o cultivo de tomilho são os que apresentam estruturação mais solta (arenosos), boa drenagem, boa profundidade para auxiliar na atividade do sistema radicular e sem impedimentos físicos (compactação) e químicos (acidez e desequilíbrio de bases). Portanto, para cultivos comerciais, é necessário realizar análise de solo para verificar o teor de nutrientes e, em especial, a necessidade de correção (calagem).

Por ser uma espécie rústica, não apresenta altas exigências nutricionais, se desenvolvendo bem mesmo em solos com pouca quantidade de nutrientes. É recomendável que seja aplicado adubo orgânico em quantidades leves a moderadas, pois a fertilização que estimula o desenvolvimento vigoroso vegetativo (adubos químicos altamente solúveis ou em altas quantidades) descaracteriza a composição das plantas, por reduzir o aroma e o sabor do tomilho.

Esta alteração no padrão de desenvolvimento das plantas ocorre pela dinâmica metabólica, em que há alta oferta de estímulos (nutrição). Assim, a planta tem um descompasso entre metabolismo primário e secundário, com rotas do metabolismo secundário menos ativas, redução na produção de metabólitos (quantidade e intensidade) e também sua disponibilidade nos tecidos vegetais.

Preparados orgânicos (caldas produzidas nas propriedades ou biofertilizantes comerciais) podem ser utilizados para maximizar o rendimento de tomilho. Em alguns casos, produtores têm testado também preparações microbiológicas (contendo microrganismos benéficos), com resultados positivos, como o aumento no conteúdo de importantes componentes químicos de qualidade antioxidante.

Condições climáticas

O tomilho pode ser cultivado nos mais variados tipos de clima, tendo restrições relacionadas aos períodos com maiores pluviosidades, que devem, preferencialmente, ser evitados.

A cultura não se desenvolve de forma satisfatória em condições de excesso de umidade, sendo o prejuízo observado desde a cerosidade das folhas até alterações consistentes na composição de metabólitos secundários (quantidade de compostos e intensidade de cada composto).

Quanto à quantidade de luz, há uma relação direta entre a intensidade luminosa e o número de glândulas de óleos essenciais, o que favorece o desenvolvimento e rendimento da cultura. As plantas se desenvolvem (produzem) ao longo de todo o ano, porém, para maximizar o rendimento deve-se plantar em época quente e seca.   

O estresse hídrico leve induzido tem impacto positivo, o que tem sido relacionado ao aumento no teor de carvacrol, γ-terpineno e p-cimeno. É importante ressaltar que é preciso experiência e conhecimento técnico com a cultura para realizar o estresse induzido (ajuste no sistema de irrigação), pois o efeito pode ser indesejado se realizado de forma inadequada, como a redução do teor de timol, por exemplo.

Pragas e doenças

As pragas mais comuns do tomilho são cigarrinhas, nematoides e vários lepidópteros. Esses insetos causam danos em plantas jovens e ocorrem mais comumente em condições quentes. Em geral, os danos causados por pragas e doenças não são relevantes na cultura do tomilho, devido a sua rusticidade, variabilidade genética e baixa extensão das áreas cultivadas no Brasil.

As doenças que podem ocorrer e gerar preocupações referem-se aos fungos de solo Fusarium oxysporum e Pythium spp. Conhecer o histórico da área e fazer o uso de rotação de culturas e manejos que priorizem a biodiversidade microbiana, como uso de fertilizantes orgânicos e outros, auxilia na redução de problemas de desequilíbrio de populações de microrganismos capazes de gerar os prejuízos ao sistema radicular, os quais são refletidos no desenvolvimento geral das plantas.

Curiosidades

Pesquisas estão sendo desenvolvidas para melhor entender a dinâmica das plantas aromáticas e seus potenciais. Formulações a partir de óleos essenciais e extratos naturais para a aplicação via pulverização e tratamento de sementes em hortaliças, visando o controle de doenças e pragas, podem trazer novas alternativas de controle para os sistemas de cultivo, não só com o uso exclusivo dos princípios ativos das plantas, como também a combinação e/ou alternância com outras moléculas sintéticas, o que pode ser uma ferramenta interessante para auxiliar na rotação de mecanismos de defesa dos cultivos.

Na agricultura regenerativa, agroecologia e orgânica, que tem princípios naturais como prioridade, a comprovação científica e o entendimento da dinâmica das plantas aromáticas trazem avanços consideráveis para auxiliar na lapidação e incremento de complexidade de vida no sistema e consequente aumento de proteção, interação e produtividade.

É válido recordar que quanto maior a complexidade de vida no sistema (biodiversidade), mais blindado, forte e resiliente o sistema se estabelece, com isso, a adição estratégica de plantas que exalam voláteis, como o tomilho e seus parentes (espécies da mesma família botânica, como manjericão, manjerona e orégano, entre outros), pode ganhar ainda mais destaque e relevância.

O óleo essencial de tomilho tem sido estudado como aditivo em produtos armazenados para contenção de Aspergillus flavus, fungo comum em grãos (amendoim, nozes, sorgo e outras oleaginosas), que pode contaminar os alimentos antes, durante ou após o processamento. A. flavus é um dos causadores das aflatoxinas, toxinas produzidas pelos microrganismos que estão relacionadas com câncer (hepatocarcinógenos).

Nascimento (2020) verificaram que o óleo essencial de tomilho promoveu redução da germinação de esporos, alteração da permeabilidade da membrana celular e lise celular em A. flavus, sendo eficaz a partir da concentração de 500 µL L-1.

Em cultivos comerciais com a finalidade de produção de óleos essenciais é necessário atentar-se às interações entre a genética, as condições climáticas (época de cultivo e colheita) e a nutrição fornecida às plantas, uma vez que estes fatores podem gerar consideráveis alterações na composição e perfil cromatográfico das espécies aromáticas.

Ainda, há uma escassez de informações detalhadas quanto à resposta à interação dos fatores citados para a maioria das espécies medicinais de amplo uso e interesse, devido ao baixo investimento em pesquisa para obtenção de resultados e avanços do conhecimento quanto à produção em larga escala.

No entanto, o crescente despertar para meios mais sustentáveis de produção, bem como extensos relatos de ações de compostos e extratos de plantas em diversas áreas, tanto na saúde humana como no uso como aditivos alimentares, fará com que a demanda aumente, o que poderia forçar e ampliar a produção, por efeito da dinâmica da oferta e da demanda.

Colheita

O ciclo de cultivo do tomilho é em torno de 120 dias a partir da semeadura. No período que antecede a floração e no início da floração, as plantas possuem máxima concentração de compostos secundários, portanto, com sabor e aroma mais acentuado, sendo o mais indicado para a colheita.

A colheita doméstica é realizada cortando os ramos que serão consumidos (de acordo com a necessidade). Já em áreas de cultivo em escala, coletam-se os ramos das plantas na altura de 10 a 15 cm do solo, atentando-se para deixar a planta em boas condições para que ocorra brotação eficiente e permita um novo ciclo de crescimento.

A colheita deve ser realizada após o desaparecimento do orvalho da manhã e, de preferência, em dias ensolarados. É possível realizar até três colheitas consecutivas mantendo satisfatório o conteúdo de compostos biologicamente ativos na matéria-prima. A partir do quarto corte ocorre queda na qualidade da produção, sendo recomendável realizar a substituição da plantação.

Pós-colheita

A produção gira em torno de 1.000 – 6.000 kg ha-1 de massa seca. O teor de óleo essencial de cultivares de tomilho normalmente representa 1,5 – 6,5% da massa seca das folhas.

De acordo com as exigências europeias, para as lavouras serem rentáveis é necessário que produzam material vegetal com teor superior a 1,2% de óleo (geralmente obtido por hidrodestilação), com teor dos componentes timol e carvacrol representando, juntos, pelo menos 40%.

Os ramos frescos podem ser armazenados congelados por até um ano. No entanto, a maior parte do tomilho colhido é destinado à desidratação (secagem). Neste caso, os ramos são organizados em pequenos buquês e colocados sob suportes para sustentação para perder água para o ambiente, que deve ser fresco, seco e arejado.

O material é considerado seco quando a quantidade final de água está em torno de 8 – 12%. Em volumes de produção maior, a secagem é realizada com ar aquecido (secadores), sendo o controle da temperatura e da duração da secagem fundamental para a manutenção do teor e da qualidade do óleo essencial. A temperatura não deve exceder 40°C para não perder os compostos voláteis.

Antes e após a secagem, as plantas passam por um processo de limpeza, para remover contaminantes biológicos, metálicos ou minerais. Existem vários equipamentos no mercado que são utilizados para esta finalidade, sendo a escolha do produtor de acordo com os investimentos disponíveis e exigências dos mercados consumidores.

Comercialização

A forma de comercialização de tomilho depende da região e do objetivo de produção. In natura e desidratado podem ser encontrados em feiras, supermercados, sacolões e demais varejos. Já os óleos essenciais são comercializados entre indústrias, como matéria-prima para uma gama de produtos.

A rentabilidade do cultivo de espécies aromáticas e medicinais como o tomilho é altamente potencial. Com empenho, conhecimento técnico e ajuste de manejos visando alto rendimento é possível chegar a rendimentos acima de dez vezes ao retorno obtido em commodities como soja e milho.

Portanto, observa-se que esta área subutilizada apresenta alto impacto econômico, ambiental e social (emprego e saúde). Investimentos em áreas para a expansão do cultivo podem gerar retornos apreciáveis, considerando a baixa pressão competitiva do mercado.

No entanto, ainda se faz necessário levar as informações ao consumidor, por meio de marketing e mídias, uma vez que, entendendo melhor as ações e impactos benéficos dos compostos na saúde por meio da alimentação e outros usos, há uma tendência a adotar novos hábitos alimentares e novos sabores, diversificando a ingestão de bioativos e tornando o organismo mais resiliente a adversidades.

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