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Inovações e tecnologias em pulverização

Maione Almeida de Souza Engenheira agrônoma, mestre em Produção Vegetal e gestora de Mercado e Projetos – Grupo Agromaione@grupoagromg.com.br

Felipe César Salema felipe@grupoagromg.com.br

Rudiane Larissa Dutra Ferreira rudiane@grupoagromg.com.br

Engenheiros agrônomos e técnicos de Pesquisa e Desenvolvimento – SIGA

Pulverização – Crédito: Luize Hess

O tomateiro é uma das culturas mais acometidas por uma grande diversidade de pragas e fitopatógenos, desde a fase de muda até o final do ciclo. Algumas pragas e doenças são mais ou menos importantes em determinada fase da lavoura, mas isso não impede que elas ocorram em estágios fenológicos diferentes durante o ciclo de produção.

Um dos grandes desafios da produção de tomates, hoje, é exatamente manejar as pragas e doenças da cultura, e ao final de tudo obter uma boa produtividade. A inovação em pulverização do tomateiro está intimamente ligada às mudanças de práticas agrícolas, no manejo fitossanitário da lavoura, em que os produtos biológicos ganham cada vez mais espaço, com resultados cada vez mais eficientes.

Quando comparamos o ano de 2019 com 2020, observamos que houve um aumento na ordem de 135% em relação ao número de registro de produtos biológicos, o que reforça essa tendência mundial, no uso do produto. Tudo isso, quando somado às boas práticas agrícolas e ao monitoramento de pragas e doenças, certamente levará ao sucesso de produção na tomaticultura brasileira.

Outra possibilidade é trabalhar a sanidade da lavoura, por meio de uma nutrição balanceada e uso de indutores de resistência, buscando respostas de defesas naturais da própria planta.

Tecnologia de aplicação

Ao discutir sobre tecnologia de pulverização, muitas variáveis devem ser analisadas, pois o tema é multidisciplinar. São muitos os pontos que devemos ficar atentos, dentre eles: o modo de ação dos produtos, misturas de tanque, princípios ativos, grupos químicos, manejos de resistência da praga ou microrganismo fitopatogênico, fertilizantes e defensivos foliares, formulações, ordem de mistura, qualidade de água de aplicação, dentre outros inúmeros fatores que, somados, compõem o sucesso ou fracasso de uma pulverização.

Além disso, é importante mencionar o estado de conservação dos pulverizadores, sejam eles costais ou tratorizados, e os bicos, que muitas vezes, o que observamos na prática é que não estão em condições adequadas de uso.

Sem falar sobre a calibração dos equipamentos e mão de obra qualificada, que estão diretamente relacionadas à quantidade de calda que o alvo biológico irá receber e determinam o sucesso da operação.

Novidades

A interpretação e a análise de dados são competências em alta, buscadas em profissionais do futuro para qualquer área, e na agronomia não seria diferente. Nesse sentido, saber interpretar as condições climáticas que exercem influência, tanto no ciclo de vida das pragas quanto em fitopatógenos, pode ser a chave para o sucesso das pulverizações.

Os sistemas de previsão de doenças, apesar de não serem uma novidade, ainda não estão disponíveis para todas as doenças, culturas e regiões, devido à dificuldade de montar um banco de dados que cruze as informações e probabilidades de ocorrência de determinada doença naquela região sob determinada condição climática.

A chave do sucesso se concentra na integração das estratégias de controle, como o uso de bioprodutos, indutores de resistência, tecnologia de aplicação, monitoramento de pragas e doenças, fungicidas multissítios e rotação do modo de ação.

Mistura correta de produtos

A qualidade da pulverização se inicia na identificação prévia e correta da praga ou doença, bem como a escolha do momento da aplicação. É de suma importância estabelecer o melhor horário da aplicação, que deve ser nos momentos mais frescos do dia, com temperaturas entre 20 e 30°C, e a umidade relativa do ar ideal entre 70 e 90%.

Após o monitoramento das condições para uma boa aplicação, devemos nos atentar à qualidade da água utilizada na calda, que deve ser livre de impurezas e com o pH levemente ácido, entre 4 e 6, para a maioria dos produtos.

Quando necessário, o ajuste das faixas de pH da calda pode ser feito por meio de adjuvantes, que além de ajustar a faixa adequada, garante uma melhor performance da calda.

Quando o assunto é a escolha dos produtos, é importante o produtor saber do ciclo de vida da praga ou fitopatógeno e como as condições climáticas interferem no ciclo de vida do alvo biológico. Dessa forma, a recomendação do produto para determinada fase será mais assertiva.

Aditivas, sinérgicas e antagônicas

 Outro ponto de relevância é a famosa mistura de defensivos agrícolas nas pulverizações. Quando falamos em misturas, podemos citar as aditivas, sinérgicas e as antagônicas.

 A mistura aditiva é aquela que, ao adicionar mais um produto na calda, um não interfere na eficiência do outro. Na sinérgica, a adição de outro produto é superior aos produtos isolados, ou seja, melhora a eficácia da calda. Já na antagônica, a mistura obtida prejudica ou diminui a eficiência da calda em relação à aplicação dos produtos de forma individual.

Em relação às pragas do tomateiro, é importante se atentar ao modo de ação dos inseticidas, pois a maioria age no sistema nervoso da praga. Com isso, temos que rotacionar os produtos, buscando defensivos com diferentes modos de ação, como os respiratórios, musculares, fisiológicos e biológicos.

O mesmo princípio deve ser seguido para os fungicidas, buscando rotacionar os modos de ação dos produtos recomendados, como: síntese de ácidos nucleicos, divisão celular, respiração, síntese de aminoácido e proteínas, síntese da metionina, ruptura da membrana e diversos outros.

 Sempre priorizar as misturas aditivas, em que um produto vai agir em lugares distintos e auxiliará o outro no controle da praga e/ou fungo, diminuindo assim a resistência aos produtos e melhorando a sua ação.


Na ordem certa

A ordem dos produtos adicionados À calda deve respeitar a sequência: pó molhável (WP), grânulos dispersíveis (WG), suspenção concentrada (SC), concentrado emulsionável (EC) e, por último, concentrado solúvel (SL).

Durante a adição dos produtos a calda deve ser agitada para se obter uma mistura homogênea e os produtos não ficarem no fundo da caixa, gerando resíduos que diminuem a eficiência da pulverização.


Interferência direta

Outros fatores importantes que influenciam na tecnologia de aplicação são a pressão do sistema, tamanho de gota e a boa distribuição da calda. Todas essas variáveis, juntamente com o volume de calda de pulverização, que para o tomate é em torno de 700 a 1.000 litros/hectare, são importantes para um bom controle, e garantem que os produtos fitossanitários alcancem o alvo desejado, ocorra o menor acúmulo de resíduo nos alimentos, menor risco ambiental e de contaminação para o aplicador.

Conhecimento é fundamental

Um dos principais erros do tomaticultor está relacionado a falta de conhecimento técnico, que fica evidenciado pela rotação apenas dos grupos químicos dos produtos, quando os modos de ação também deveriam ser rotacionados.

Isto acarreta em baixa eficiência dos produtos e uma possível resistência das pragas e fitopatógenos do tomateiro aos produtos aplicados. Outro erro rotineiro é a falta de vazio sanitário, sendo uma prática comum plantios sequenciais de tomate em áreas próximas, onde o plantio mais velho serve de hospedeiro de pragas e de doenças, ou até mesmo de outras plantas hospedeiras, facilitando o contágio das lavouras mais novas.

Observamos, a campo, que o produtor, para facilitar e diminuir a sua mão de obra com pulverização, adicionam à sua calda produtos foliares, o que pode prejudicar a performance da mistura por elevar o pH de sua calda, dependendo da composição do produto. 

Muitas vezes a mistura não fica homogênea e resulta em uma baixa efetividade da calda, entupimento dos bicos, ou ainda pode provocar uma fitotoxidez nas plantas.

Na prática, muitos produtores acabam fazendo sub e super dose de produto, o que contribui para a seleção de indivíduos resistentes, diminuindo a eficiência dos defensivos.

 Outro fator importante é a pressão de serviço e o volume de calda, utilizados abaixo do necessário, fazendo com que o alvo não seja atingido e o resultado do controle das pragas e doenças não seja satisfatório.

Investimento x retorno

Devido à alta pressão de doenças e pragas, a cultura do tomate exige um elevado número de aplicações de defensivos, fator que contribui para o alto custo de produção da lavoura.

Uma calda preparada para controle da requeima no tomateiro (Phytophtora infestans) tem um custo de aproximadamente R$ 1.300,00/hectare, porém, em poucos dias, em condições favoráveis, pode acabar com 100% da produção se a doença não for controlada.

Quando falamos em pragas, os maiores gastos com aplicações de inseticidas, no geral, são para o controle da traça-do-tomateiro (Tuta absoluta). O gasto aproximado é de até R$ 6.600,00/hectare/ciclo. Em contrapartida, o não controle desta praga pode acarretar em uma perda de 25 a 50% dos frutos por hectare.

Normalmente, um hectare de tomate possui 12.000 plantas, com uma produção média de 1.008.000 frutos. Supondo uma perda de 40% dos frutos pela falta de controle, tanto pela não utilização de defensivos como pelo seu uso inadequado, resultaria na quebra de 403.200 frutos/hectare.

Levando em consideração o preço médio de R$ 50,00 da caixa de 20 kg de tomate (~110 frutos), o prejuízo para o produtor seria de R$ 183.250,00. Com isso, entende-se que a tecnologia de aplicação não se baseia apenas em aplicar determinado produto, mas sim na interação de todos os fatores, para que não ocorram gastos desnecessários e riscos de perdas de produtividade. 

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