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Controle biológico da mosca-branca em algodão

Daniele Maria do Nascimento Engenheira agrônoma e doutora em Agronomia/Proteção de Plantas – UNESP, Botucatudonascimentodm@gmail.com

Marcos Roberto Ribeiro Junior Engenheiro agrônomo e doutorando em Agronomia/Proteção de Plantas – UNESP, Botucatumarcos.ribeiro@unesp.br

Uma das mais importantes pragas para diversas culturas de importância econômica, a mosca-branca (Bemisia tabaci) vem chamando a atenção nas lavouras de algodão. A praga não é novidade, introduzida no Brasil na década de 1920, se disseminou rapidamente por todos os cultivos, e hoje vem causando danos consideráveis em outras culturas, como a soja, feijão e o tomate.

O sistema produtivo adotado em algumas regiões produtoras, onde o algodão é plantado após a soja, tem agravado ainda mais esse problema, devido à maior pressão de seleção da mosca-branca.

Danos

Os danos causados por esses insetos são diretos, decorrentes da sucção da seiva pelos adultos e ninfas, que injetam toxinas, causando anomalias no desenvolvimento da planta, e indiretos. Esse último ocorre quando, ao se alimentar das plantas, as populações de B. tabaci excretam parte do alimento ingerido, na forma de uma substância açucarada (honeydew).

Fungos do gênero Capnodium tiram proveito dessa substância para se desenvolverem, resultando na fumagina, que é uma camada preta de esporos fúngicos que recobrem as folhas e capulhos. As folhas têm sua atividade fotossintética reduzida e, no caso dos capulhos, a fibra fica com um aspecto pegajoso, reduzindo seu valor comercial. Esse fenômeno é conhecido como “fibra açucarada”.

Outro dano indireto é a transmissão de viroses. No caso do algodão, a mosca-branca transmite o vírus do mosaico comum (Abutilon mosaic virus – AbMV). As plantas infectadas apresentam folhas com lesões amareladas, que se tornam cloróticas e descoloridas, podendo ocorrer a queda das flores e frutos.

Manejo

Algumas práticas de manejo devem ser adotadas, como a eliminação de plantas daninhas das lavouras, que podem ser hospedeiras dessa praga, bem como restos culturais, impedindo que a mosca-branca complete seu ciclo. Usar armadilhas adesivas amarelas ou luminosas, para reduzir a população e eliminar plantas que estejam infectadas pelo vírus, também é recomendado.

Barreiras vegetais, com milho e sorgo, podem serem instaladas, impedindo a disseminação do inseto pelo vento. A rotação de cultura com essas plantas e outras gramíneas é recomendada.

Controle químico

Por muito tempo o controle químico tem sido uma das principais ferramentas para o controle da mosca-branca. Os sete inseticidas registrados para controle desta praga no algodão abrangem os grupos 1B (inibidores de acetilcolinesterase – organofosforados), 4A, 4C e 4D (moduladores competitivos de receptores nicotínicos da acetilcolina – neonicotinoides, sulfoxaminas e butenolides), 7C (mímicos do hormônio juvenil – piriproxifem) e 23 (inibidores da acetil CoA carboxilase – espiromesifeno).

Contudo, o uso repetido de inseticidas de um mesmo grupo aumenta o risco do desenvolvimento de populações resistentes. As falhas de controle se tornam um problema econômico, uma vez que os produtos que até então controlavam bem a praga, passam a não surtir mais efeito. Além do mais, esses inseticidas também atingem os inimigos naturais da mosca-branca.

Segundo o Comitê de Ação à Resistência a Inseticidas (IRAC), já existem relatos de resistência aos grupos químicos dos organofosforados, neonicotinoides e piriproxifem. Diante desse cenário nada animador, os cotonicultores precisam de novas alternativas para o manejo desta praga, e o controle biológico tem se mostrado eficaz.

Controle biológico

O mercado de produtos biológicos tem crescido no País, e com ele, a adoção dessa nova ferramenta pelos agricultores. Em 2021, 433 produtos biológicos já se encontravam registrados no Brasil, sendo que os bioinseticidas correspondiam a 50%. No cenário mundial, a expectativa é de que até 2025 esse ramo movimente em torno de US$ 8 bilhões.

O aumento na comercialização dos produtores biológicos tem sido impulsionado principalmente pela adoção dessas tecnologias pelos produtores de soja e cana-de-açúcar. Segundo dados da Consultoria Blink, apenas 5% do mercado de biodefensivos foi destinado à cultura do algodão no ano de 2021. Com o controle biológico em evidência, é importante destacarmos o que há disponível para os cotonicultores no manejo de mosca-branca.

Microbiológico para controle de mosca-branca

O fungo entomopatogênico Beauveria bassiana atua tanto nas larvas e pupas como nos adultos de mosca-branca. Os produtos comerciais são compostos por conídios viáveis, que quando aplicados, aderem ao corpo do inseto, onde germinam e penetram pela ação mecânica e enzimática do fungo.

Em até 72 horas, B. bassiana já terá colonizado o inseto por completo, levando-o à morte. Os insetos afetados ficam cobertos por um micélio branco que, em condições ideais de temperatura (em torno de 23ºC) e elevada umidade, esporulam.

Produtos disponíveis

Opções não faltam. Com o significativo avanço do mercado de produtos microbiológicos, já se encontram registrados junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), pelo menos 52 produtos à base de B. bassiana com recomendações no controle de mosca-branca, em qualquer cultura na qual ocorra.

Estão disponíveis nas seguintes formulações: pó molhável (WP), dispersão de óleo ou suspensão concentrada em óleo (OD) e grânulos dispersíveis em água (WG).

Como aplicar

O sucesso do controle biológico depende do momento da aplicação. Atenção deve ser dada às condições climáticas, sendo que o ideal é que a umidade relativa esteja acima de 70% e que as aplicações sejam realizadas nas horas mais frescas do dia (final da tarde ou à noite), de modo que os conídios do fungo não sejam expostos à radiação UV.

Temperaturas acima de 27ºC, por exemplo, podem inviabilizar os conídios e comprometer a eficiência do bioinseticida.

É importante ressaltar, também, que a calda deve ser preparada e usada no mesmo dia, de preferência, aplicar logo após o preparo. De modo geral, as aplicações se iniciam a partir do momento que forem constatadas populações de mosca-branca no campo, sendo recomendadas no máximo quatro aplicações por ciclo, com intervalos de 14 dias.

As doses, bem como a compatibilidade com demais produtos, devem ser consultadas na bula dos respectivos produtos.

Conclusões

As infestações por mosca-branca em lavouras de algodão têm se tornado cada vez mais frequentes e, se não realizado o manejo adequado, os danos serão significativos. Dentre as opções de controle disponíveis, e tendo em vista que esse inseto vem adquirindo resistência aos principais grupos químicos dos inseticidas, merece destaque os produtos microbiológicos à base de B. bassiana, que têm se mostrado eficientes no controle da mosca-branca em todos os estágios.

Ressalta-se que o produtor sempre deve buscar realizar o manejo integrado, ou seja, todas os métodos de controle disponíveis devem ser usados em conjunto, e nunca isoladamente.

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