Lagarta-do-cartucho continua sendo a praga chave do milho. Segundo o pesquisador e entomologista Ivênio Rubens de Oliveira, da Embrapa Milho e Sorgo, doze anos com milho Bt no campo foram suficientes para não ter quase nenhum evento funcionando mais devido ao mau manejo. “Com o advento do Bt, da segunda safra, voltamos a ter problemas com percevejos. Hoje não tem uma praga chave tão salientada. São pragas chaves dentro do sistema de produção”, salientou.
Como fazer o controle quando se tem gerações sobrepostas e efetivar o controle? Oliveira disse que se não conhecer o problema da paisagem como um todo, todos os esforços para controlar as pragas não surtirão efeito.
Desafios
Um dos problemas apontados é que a Spodoptera fugiperda tem feito o papel de lagarta rosca, levando a um estrago nas plantas. “De V4 até V5 tem sido comum que a planta de milho esteja secando o ponteiro. [O produtor ou técnico] Acha que é lagarta elasmo e não é. Na fase de espiga, a Spodoptera tomou o lugar da Helicoverpa zea”.
Entre os motivos dessa forma de atuação do inseto é que ela é estrategista e possui capacidade ampla de adaptação. Ataca todos os órgãos da planta com muita facilidade: folhas do cartucho, colmo tenro, pendão floral e espiga.
Braquiárias, milheto, plantas daninhas tolerantes a herbicidas são outros hospedeiros. Oliveira aposta na crotalária para rotação que a Spodoptera não usa como hospedeira. “No caso do consórcio do milho com braquiária, ela não é praga da pastagem. Ela só a usa como hospedeiro”, aponta.
O uso do milho Bt ainda é uma das principais estratégias para o manejo da lagarta do cartucho. São 196 cultivares disponíveis na safra 2019/2020, sendo 66,8% (131) – eventos transgênicos e 33,2% (65) – cultivares convencionais. “A maioria de cultivares é transgênica, mas tem aumentado a quantidade de cultivares convencionais, e seu manejo é o mesmo”.
Mas ele faz uma ressalva: “A tecnologia embarcada nas cultivares não é só de genética Bt, mas de produtividade. Porém, não se pode pensar em adotar a tecnologia Bt como estratégia exclusiva de MIP. Mesmo com o uso da tecnologia Bt é importante manter o monitoramento periódico e adotar medidas de controle assim que os níveis de ação recomendados para cada tecnologia seja atingido”.
De olho na lavoura
O monitoramento periódico é uma estratégia fundamental para tomada de decisão de controlar ou não. A forma de se fazer isso é com armadilhas ou visualmente; número de amostras/de armadilhas, antes do plantio. “Os olhos têm que estar mais atentos para verificar em diferentes estruturas da planta”, alerta o pesquisador.
Oliveira chama a atenção para o monitoramento da lavoura que deve ser realizado o tempo todo. “Com mais rigor a partir da emergência das plantas, tecnologia Bt e tratamento de sementes protegem nas duas primeiras semanas”.
As lagartas maiores sobreviventes na área (são mais de 100 hospedeiros potenciais, incluindo milho tiguera e braquiária). No controle, será feita a cobertura da área: calda, bicos, regulagens. “A ocorrência de lagartas maiores sobreviventes na área que precisam ser controladas desde os estádios de desenvolvimento iniciais das plantas. Medidas de controle tem foco nas lagartas menores e dificilmente são eficientes para as lagartas acima de 1,5 cm”, alerta.
O monitoramento é importante em plantas até V8-V9, vistoriando sempre as folhas do cartucho da planta. A nota de injúria de até 3 significa que as lagartas ainda estão pequenas e o controle será mais efetivo.
Estratégias
As estratégias para controle de Spodoptera frugiperda com armadilhas é adotar medidas de controle quando forem capturadas três mariposas, utilizando parasitoides, bioinseticidas, inseticidas químicos, nessa ordem. “Precisamos conhecer os grupos químicos para saber o posicionamento adequado.”
Sobre controle biológico, Oliveira disse que existem mais de 200 produtos registrados junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (AGROFIT) para o controle de S. frugiperda em milho, entre eles os bioinseticidas à base de Bt e baculovírus. “O momento certo da aplicação (liberação) é fundamental.
O Trichogramma liberado quando nas armadilhas de feromônio indicarem a captura de três adultos de S. frugiperda/armadilha. É necessário focar na fase de ovos. E os bioinseticidas não tem efeito de Knock down, ou seja, as lagartas não morrem imediatamente”, explica.
Segundo o pesquisador, “produtos biológicos à base de Bt e Bv devem ser tratados de maneira diferente durante o processo de aplicação e avaliação de sua eficiência no campo. Eles atuam por ingestão e não por contato”, salienta.
Sobre a tecnologia BT, Oliveira fala que o “Bt sempre mata mais eficientemente lagartas recém-nascidas, no máximo entre três e quatro dias de idade, segundo instar, dependendo da espécie.”
Ele salientou o fato que quando as lagartas são mortas pelos Baculovírus em gramíneas, como o milho, “nem todas as lagartas sobem para a parte superior das plantas como em leguminosas (soja), em que este fator é mais facilmente observado.”
Quanto à tecnologia para aplicação de bioinseticidas, são utilizados os mesmos equipamentos convencionais usados para os inseticidas químicos. “Mas quando for o caso da lagarta do cartucho usar bico tipo leque e regulagem cuidadosa. Levar em consideração o tamanho (idade) das plantas e área que está sendo coberta”, explica. A aplicação também pode ser feita via água de irrigação.
Assistência
O pesquisador deixou um último recado: “Devemos intensificar a assistência agronômica em todas as lavouras, com profissionais competentes e com ótima qualidade em seus serviços. É integrar os trabalhos de instituições de pesquisa e de ensino, empresas, produtor rural, extensionistas, consultores, cooperativas, associações e todos os envolvidos na cadeia produtiva”.