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Falhas na pulverização comprometem controle da Helicoverpa armigera

 

Manoel Ibrain Lobo Junior

Engenheiro agrônomo e consultor em Tecnologia de Aplicação de Defensivos Agrícolas, Auditor GlobalGAP IFA (Boas Práticas Agrícolas)

lobo@pulverizador.com.br

Crédito Shutterstock
Crédito Shutterstock

Há cerca de 40 anos atrás, as quantidades de ingredientes ativos aplicados nas diversas culturas comerciais giravam entre 3.000 a 4.000 gramas (três a quatro quilos) por hectare de cultura tratada.

Em função da forte atuação sustentável das empresas fabricantes nacionais e estrangeiras de agroquímicos, do alto nível de tecnologia empregada no desenvolvimento de novas moléculas e dos elevados valores investidos nessas novas tecnologias, atualmente, na maior parte dos tratamentos, as quantidades médias de ingredientes ativos estão entre as doses de dois até 80 gramas aplicados por hectare.

Os reflexos

Essa redução nas doses de ingredientes ativos aplicados nas culturas e, de certa forma, também no meio ambiente, possibilitaram menores impactos ambientais, porém, os agroquímicos tornaram-se muito mais técnicos, necessitando cada vez mais de novas técnicas de aplicação, mais eficientes e mais seguras, pois as quantidades aplicadas são mínimas e os produtos são muito mais concentrados.

Tomate atacado pela Helicoverpa armigera - Crédito Cecília Czepak
Tomate atacado pela Helicoverpa armigera – Crédito Cecília Czepak

Por exemplo, um defensivo agrícola com ação de contato aplicado na cultura das hortaliças (cenoura, tomate, alho, etc.) objetivando o controle de lagartas (inseticida), na dose do ingrediente ativo por hectare de quatro gramas, caso seja aplicado por pulverizadores terrestres, normalmente será solubilizado em um volume entre 70 a 100 litros de água. Caso seja aplicado por aeronaves agrícolas, esse volume de água (veículo) será ainda mais reduzido, entre 10 a 15 litros por hectare.

Se acaso os equipamentos aplicadores (pulverizador ou avião) não forem devidamente regulados e calibrados, e se as técnicas e os bicos/atomizadores produtores de gotas não forem corretamente selecionados, são grandes os riscos dessa aplicação nas hortaliças não conseguir o sucesso esperado no controle químico dos alvos biológicos.

Interferência

Muitos fatores intrínsecos interferem na qualidade da tecnologia de aplicação dos defensivos agrícolas. Uma “boa pulverização“ é baseada na correta seleção dos tamanhos de gotas a serem produzidas, que serão definidas levando-se em consideração os tipos e a localização dos alvos biológicos, os volumes de aplicação, estágio de desenvolvimento das culturas-alvo, condições meteorológicas dos locais das aplicações, classes e modos de ação dos produtos a serem aplicados, dentre outros fatores.

É fato que não existem “produtos ruins“, “agroquímicos que não funcionam“, desde que sejam adquiridos de empresas idôneas e corretamente posicionados. Em mais de 90% dos casos, quando acontecem as “falhas nos controles químicos/biológicos“ nas culturas, as causas são certamente ocasionadas pelas incorretas técnicas empregadas.

Pulverização em tomate - Crédito Luize Hess
Pulverização em tomate – Crédito Luize Hess

A Helicoverpa

No caso da lagarta Helicoverpa, como também no caso de outras lagartas, em função dos hábitos de movimentação e localização, existe a necessidade de serem produzidas e depositadas gotas com classificação de tamanhos “finas e muito finas“ nas folhas dos baixeiros (entre o período de 10h às 14h).

Por meio da realização de testes comparativos em campo, utilizando papéis sensíveis como indicadores de deposição de gotas, é possível visualizar a maior eficiência das gotas finas e muito finas de atingirem os alvos localizados nos baixeiros (terço inferior) das plantas.

Se acaso essas gotas muito finas, com diâmetros semelhantes ao de um fio de cabelo ou de um fio de linha de costura (80 a 120 micra) não forem “protegidas“ por um bom adjuvante de calda “antievaporante“ (óleos minerais, vegetais, organossiliconados, glicerinados, lecitinados, etc.), serão rapidamente consumidas pelas altas temperaturas e baixas umidades relativas, perdendo rapidamente seus tamanhos, ficando mais leves, com menores velocidades de queda e mais suscetíveis às rajadas de vento (perdas pela deriva).

Volumes aplicados

Muitos produtores ainda utilizam altos volumes de calda (acima de 200 litros por hectare), objetivando maiores pressões operacionais, maiores velocidades e menores gotas, objetivando atingirem as lagartas. Porém, quanto maior o volume de água aplicado, menor será a concentração do ingrediente ativo nas gotas produzidas que atingirão os alvos.

Por meio de trabalhos práticos em campo foi possível constatar uma maior eficiência dos inseticidas quando aplicados em menores volumes de calda (70 a 100 litros por hectare). É fato que as gotas produzidas que atingiram os alvos “carregavam“ maiores quantidades de ingredientes ativos. Dessa forma, essas gotas foram mais efetivas no controle dos insetos-alvos.

Além de serem observados, em campo, que volumes de 100 litros (de água) por hectare foram mais efetivos que volumes de 200 litros nas aplicações de inseticidas, é importante citar também uma certa relação entre as menores velocidades operacionais com as maiores eficiências nas deposições de gotas com classificação de gotas finas e muitos finas nas folhas localizadas nos terços inferiores das culturas adensadas.

Em uma recomendação técnica e planejada para serem utilizados menores volumes de calda, é importante ficar muito claro que somente será reduzido o volume da água aplicada (somente a água como o veículo).

Sempre devemos obedecer à risca as recomendações de doses de agroquímicos recomendadas pelas empresas nacionais e estrangeiras de agroquímicos.

Essa matéria você encontra na edição de abril da revista Campo & Negócios Hortifrúti. Adquira a sua.

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