22.6 C
Uberlândia
sexta-feira, novembro 22, 2024
- Publicidade -spot_img
InícioDestaquesCrise dos insumos agrícolas já afeta safra 2022/23

Crise dos insumos agrícolas já afeta safra 2022/23

Lavoura – Crédito: Shutterstock

A crise dos insumos agrícolas já afeta a safra 2022/23 e uma possível intensificação dos problemas é motivo de preocupação para o agronegócio brasileiro. Isso se deve ao fato de que boa parte das matérias-primas que compõem fertilizantes e defensivos agrícolas utilizados em território nacional são importadas da China, Rússia e Índia. Por sua vez, esses países vêm enfrentando obstáculos para manter o ritmo de produção, além de estarem limitando os embarques pela necessidade de priorizar o abastecimento local. Além disso, as rupturas na cadeia de suprimentos, a inflação e os custos de produção da atividade, em patamares cada vez mais elevados, devem aumentar ainda mais em consequência do conflito entre Rússia e Ucrânia no Leste Europeu.

Dr. Bob Fairclough, Especialista em Tendências Globais da Kynetec, empresa de pesquisa de mercado especializada em saúde animal e agricultura, destaca que os produtores de todo o mundo estão percebendo que há um desafio na cadeia de suprimentos e que nem sempre poderão contar com insumos que desejam e na época mais adequada. “O problema é mais agudo nas Américas, mas o novo cenário internacional pode trazer reflexos mais intensos também em outras localidades”, alerta.

Fairclough pontua que atualmente nos EUA os estoques podem ser considerados baixos, especialmente para herbicidas à base de glifosato, glufosinato, dicamba, 2,4-D e atrazina; e para os inseticidas bifentrina e lambda-cialotrina. Já no Canadá, há registros da falta de glifosato. No Brasil, por sua vez, os produtores relatam o desabastecimento de atrazina, diquat e cada vez mais de glifosato. Fora das Américas, embora os níveis de estoque estejam mais baixos que o usual, ainda não há uma situação de desabastecimento que acarretaria em uma crise de insumos.

No entanto, Camila Guimarães que lidera a área de negócios Crop Subscription da Kynetec Brasil, afirma que o cenário internacional é desafiador para o agronegócio brasileiro, considerando não somente o desabastecimento, mas também a alta dos preços. Isso porque os insumos agrícolas, a depender do cultivo, podem representar até 60% do custo de produção atualmente e, sendo o país tão dependente das importações, é fortemente impactado pela oferta restrita e elevação de preços. Este cenário reflete mudanças no comportamento de adoção dos agricultores no ciclo 2022/23, além de desafiar as margens da atividade no campo. “Mais do que nunca a palavra eficiência operacional deverá fazer parte do agronegócio brasileiro. Todos que atuam na cadeia agro, passando por indústrias de insumos, canais de distribuição, produção agrícola e tradings, devem buscar melhoria de processos”, diz Camila Guimarães.

Desta forma, para se manter como importante mercado produtor de alimentos e gerador de riqueza, o agronegócio brasileiro deverá se reinventar, buscando aumentar a capacidade local de produção de fertilizantes, além de um uso mais inteligente dos insumos agrícolas.

Alguns dados sobre o momento – Dados levantados pela Kynetec revelam diferentes nuances sobre a situação. No caso dos fertilizantes de solo, a oferta está limitada globalmente, na atual safra, devido às crises energéticas tanto na Ásia quanto Europa, reduzindo as cotas de exportação. Outro agravante é a falta de containers que ainda repercute nos preços dos fretes marítimos. Entre o janeiro de 2021 e janeiro de 2022, os preços em reais por tonelada de alguns desses insumos, como MAP, KCl e Ureia, aumentaram acima de 140%, como mostram dados de levantamento no MT da CONAB, com risco de crescimento futuro. No caso dos defensivos, o preço de importação de diversas moléculas como glifosato, acefato, atrazina, malathion está mais caro pela falta de suprimentos, com um acréscimo em reais que foi de 13,0 a 77,1%, entre janeiro e outubro de 2021, para acefato e glifosato, respectivamente (de acordo com estudo e consolidação da Kynetec, com base em informações de ComexStat, Cogo e desk research). Assim, com o aumento nos custos desses insumos, espera-se um maior custo de produção para as indústrias sementeiras, o que deve ser repassado ao agricultor. Com a alta da inflação neste cenário, espera-se uma evolução de preços das sementes ao redor de 20,0 a 25,0%.

O custo de produção dos itens de nutrição vegetal também sofreu um reajuste intenso, considerando a limitação de oferta e preços de algumas de suas matérias-primas. No entanto, apenas parte desse valor deve ser repassado para a ponta durante a temporada 2022/23, sinalizando um aumento de preços na ordem de 20%.

Já os biodefensivos devem sofrer menor impacto. Com a produção concentrada na indústria nacional e local, e domínio dos players sobre o suprimento de micro e macro-organismos, espera-se um menor aumento de preços frente a outros mercados. A variação deverá ser fruto do aumento de inflação e da demanda mais aquecida pelos bioprodutos, principalmente aqueles com potencial de substituição parcial dos químicos.

A Líder de Crop Subscription da Kynetec Brasil enfatiza ainda que as turbulências no cenário internacional, em especial relacionadas ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia, podem agravar a crise global de insumos agrícola e elevar ainda mais esses números. “O acesso ao petróleo e ao gás natural da região da Ucrânia certamente será afetado por uma indisponibilidade temporária ou permanente. E além do petróleo, trigo e milho já registram forte alta em suas cotações, uma vez que a região é importante produtora e exportadora dessas commodities e uma possível redução de oferta reajusta os preços para cima. Há também importantes plantas de fertilizantes na região, que provavelmente terão sua produção afetada. Rússia e Belarus respondem por aproximadamente um quarto dos fertilizantes importados pelo Brasil, o que traz um risco direto e imediato para o Agro nacional”, completa.

Possíveis soluções – A longo prazo, não há dúvidas de que o agronegócio brasileiro tem tecnologia para implementar técnicas que possibilitem substituir, ao menos parcialmente, insumos químicos por orgânicos e organominerais, diminuindo a dependência das importações. No entanto, a curto prazo, a solução não é tão simples.

Camila Guimarães explica que em algumas classes de insumos, como biodefensivos, fertilizantes foliares e biofertilizantes, a indústria nacional tem condições de se adaptar e suprir mais fortemente a demanda. Isso porque são produtos que contam com participação maior de matérias-primas de origem nacional, alguns até com matriz de produção 100% local. “Mas é preciso ter em mente que quanto mais complexo é o produto, mais complexa é sua cadeia de suprimentos, envolvendo matérias-primas de diferentes regiões do mundo. Neste cenário, a maioria dos insumos agrícolas está em cadeias globais, por conta da disponibilidade de minérios e gás natural, por exemplo”, detalha. “Isso reforça nossa visão sobre o possível redirecionamento de produtores rurais brasileiros em busca de fontes locais de nutrição ou de técnicas de manejo que visem o uso mais inteligente de insumos”, finaliza.

ARTIGOS RELACIONADOS

Corteva Agriscience premia ganhadores do concurso Colheita Farta Safra 21/22 que atingiram alta produtividade de soja

Iniciativa conta com a auditoria do Desafio Nacional de Máxima Produtividade de Soja do CESB e estimula o incremento da produção da oleaginosa em todo o Brasil

Conexão Andav promove evento

O evento conta com a participação de 21 mulheres entre palestrantes, moderadoras e painelistas ...

Escolha da cultivar de soja é fundamental para a obtenção de altas produtividades na lavoura

Itens como clima, solo, histórico de pragas e doenças e objetivos do produtor são chave para a escolha da semente. Pioneer®, marca de sementes da Corteva Agriscience, traz orientações ao sojicultor que podem auxiliar nesta tomada de decisão

Safra de grãos será 20% menor em Santa Catarina, estima FAESC

A escassez hídrica vivida no ano em Santa Catarina impactará drasticamente na safra de grãos 2020/2021 e na produção de leite no Estado. A avaliação é...

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!