Maria Luiza de Lima Castro
Engenheira florestal – Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
mcastro.luiza30@gmail.com
Kamilla Crysllayne Alves da Silva
Engenheira florestal e mestranda em Recursos Florestais – Universidade de São Paulo (USP)
kamilla.alves@usp.br
Na instauração de povoamentos florestais, um dos aspectos primordiais é a qualidade da muda, visto que é um insumo que possui interferência direta na produtividade e qualidade do produto final.
Diante disso, estão sendo realizadas pesquisas visando aumentar a qualidade de mudas e reduzir custos da produção, definindo as melhores metodologias, recipientes, substratos e fertilização para a produção de mudas florestais, que devem apresentar altas taxas de sobrevivência e desempenho após o plantio.
O que fazer?
O manejo adequado da água nos sistemas de produção de mudas se faz fundamental para a produtividade e o resultado da qualidade das mudas. O déficit de água interfere de maneira negativa no crescimento vegetativo, podendo ocasionar estresse hídrico e, dessa forma, prejudicar o funcionamento fisiológico e, consequentemente, o seu crescimento.
Os efeitos do déficit hídrico nos viveiros são responsáveis por provocar uma série de efeitos negativos nas mudas. Uma irrigação ineficaz, no que se desrespeito à baixa disponibilidade de água, é capaz de atingir o sistema radicular, dificultando a distribuição de nutrientes para as demais partes da planta, ocasionando a diminuição na taxa de crescimento e desenvolvimento, além de causar o fechamento dos estômatos, que podem acarretar na diminuição da taxa de fotossíntese e, possivelmente, morte da planta.
Erros e acertos
A irrigação nada mais é que a relação entre a quantidade de água que certa espécie precisa e a aplicada para suprir as necessidades da planta. Diante disso, quais são os erros mais comuns que podemos encontrar nos viveiros clonais?
É de conhecimento de todos que cada região possui características climáticas distintas e, por consequência disso, a necessidade hídrica pode variar de acordo com sua localidade. Além disso, o modelo de irrigação, o tipo de substrato e características da espécie podem, cada vez mais, dificultar a especificação de volume de água necessário.
Os viveiros, em sua maioria, utilizam irrigação por microaspersão, microaspersão invertida e por gotejamento. No entanto, uma das desvantagens do método de microaspersão invertida ou a irrigação manual com regador, utilizada em viveiros de pequeno porte, é sua ineficiência, pois muito da água aplicada é perdida, ou seja, não consegue alcançar o substrato.
Em razão dessa limitação nos sistemas mais utilizados por viveiristas, pode motivar a falta de água nos torrões.
Um outro elemento marcante é o microclima em ambientes fechados. Assim como na natureza, o efeito estufa também ocorre em ambientes protegidos e é responsável por elevar a temperatura dentro dos viveiros.
O material utilizado na estrutura dos viveiros florestais facilita o processo de efeito estufa, pois é pouco permeável à radiação de ondas longas (refletida pela terra). Diante disso, boa parte da radiação não consegue sair e fica retida no interior da estufa, fazendo com que haja um aumento na temperatura interna e facilite a desidratação do substrato.
Recomendações
Os efeitos prejudiciais da carência de água no crescimento e na produção de mudas podem ser combatidos por meio de uma irrigação monitorada e planejada, que tem por medida melhorar as condições locais para que se tenha um bom desenvolvimento.
Outro ponto é o espaço de aeração, que é um atributo equivalente ao mínimo percentual de ar identificado após a irrigação e livre drenagem. Conforme o substrato for secando, esse espaço vai se ocupando pelo ar (macroporos). À medida que vai diminuindo o espaço, este é ocupado pela água, tornando-se facilmente disponível (mesoporos).
Dessa forma, o início da próxima irrigação é realizado perto do volume de água tamponante (microporos). Essa água pode ser utilizada pelas plantas, todavia, precisa de um grande gasto energético para sua absorção.
Fluxo de água
Recipientes de maior altura têm mais fluxo de água por gravidade, visto que a base maior funciona como uma barreira onde a água está na pressão atmosférica ou potencial zero. Por conseguinte, a altura reduzida das células impede a drenagem e favorece a capacidade de retenção da água, o que pode levar ao encharcamento do substrato mais facilmente.
Diante disso, é recomendado conhecer com precisão o limite de saturação para evitar as perdas de água por drenagem e baixa oxigenação por saturação do sistema radicular.
Uma alternativa para estimar as entradas e saídas da água em um sistema de mudas em recipientes é o uso de lisímetros eletrônicos de pesagem. Esse tipo de equipamento usa a medida automatizada de células de carga instaladas abaixo de uma estrutura ou suporte, mensurando a variação de peso.
Dessa maneira, se há consumo de água pelas mudas ou ocorre a evaporação, no lisímetro sucede uma diminuição do peso do volume de controle que é proporcional à evapotranspiração.
Apesar de, a princípio, os lisímetros terem sido criados para quantificação da água percolada do solo, hoje, em estudos de hidrologia, a lisimetria é uma técnica muito usual para a determinação do balanço hídrico de um sistema em condições de pesquisa. Além do mais, pode ser empregada e adaptada em viveiros clonais.
Como otimizar o sistema
Durante a irrigação em viveiros, muitos fatores podem influenciar na eficácia dessa atividade e qualidade da água, como exemplo, o excesso de matéria orgânica, a presença excessiva de calcário (água dura), que acarreta no entupimento dos bicos de irrigação, gerando problemas no sistema de irrigação, e excesso de sais de sódio.
Além de trazer prejuízos às propriedades físicas e químicas do solo, ocasiona a redução generalizada do crescimento das mudas produzidas, provocando sérios prejuízos à atividade viveirista.
Outro fator que pode se alterar é o pH da água, a qual se recomenda estar em torno de 6,5 e 8,4. Não se encontrando dentro desse intervalo, pode ser um indicador de anormalidade na qualidade da água ou presença de íons tóxicos, sendo capaz de agir negativamente na população microbiana do solo e causar danos ao sistema radicular.
Inúmeros outros fatores relacionados à água de irrigação podem estar correlacionados com a produtividade das mudas, sem contar a presença de patógenos, que via água de irrigação podem dizimar uma produção no viveiro.
Torrão
A formação ou estabilidade do torrão é uma característica pretendida para a produção de mudas, tendo em vista que atenua os estresses sofridos pelas plantas no momento do transplante.
Esta formação do torrão acontece quando ocorre uma boa formação do sistema radicular, e permite a retirada da plântula com o substrato aderido à mesma. E, para que haja uma boa formação do sistema radicular, é necessário que o substrato forneça água e nutrientes, além de características como porosidade e densidade ideal para cultivo de mudas.
Por causa da sensibilidade do torrão das mudas, a irrigação deve ser ordenada com base no fornecimento de água na quantidade precisa e no momento propício. Dessa forma, para uma maior eficiência, faz-se necessário que os produtores criem um cronograma de irrigação, monitorando a umidade nos substratos.
É fundamental promover a eficiência do uso da água devido à escassez e ao desperdício da mesma, que geram impactos negativos ao ambiente e à qualidade do torrão das mudas. Cabe ressaltar que, para a umidade do torrão permanecer constante, garantindo o equilíbrio entre a disponibilidade de água e o ar para as raízes, o sistema necessita de maior frequência e menor volume de irrigação.
Manejo correto
A irrigação é fundamental em todas as etapas do cultivo e deve respeitar cada estágio de desenvolvimento da plântula e a necessidade hídrica de cada espécie. No geral, são estabelecidos três estágios: o inicial (repicagem), o intermediário (desenvolvimento) e o final (rustificação).
Nesses casos, o ideal é fazer a setorização dos canteiros para permitir a maior flexibilização da quantidade de água aplicada e intervalos de tempo.
O aperfeiçoamento das técnicas e sistemas de irrigação mais adequados para cada fase e tipo de cultivo são primordiais para a otimização da produção. A rega deve ocorrer ao menos duas vezes ao dia e em horários com temperaturas mais amenas, como no início da manhã e no final da tarde.
Lembrando sempre de dar atenção à quantidade de água definida, pois assim como o déficit hídrico pode ocasionar problemas, a irrigação em excesso também poderá causar danos às mudas, com o aparecimento de fungos e a lixiviação dos nutrientes do substrato. Somente na fase final, na rustificação, o volume de água deve ser reduzido.
O excesso de calor também é prejudicial às culturas e contribui para o ressecamento do torrão. Existem algumas técnicas e equipamentos que auxiliam na redução do calor nos viveiros.
Mudanças na estrutura dos viveiros podem resultar em melhores condições de microclima, como as telas de sombreamento, utilizadas somente em dias e horários mais quentes, que ajudam a refletir a radiação. A construção de viveiros com pé-direito mais alto influencia diretamente no clima, uma vez que o ar quente tende a subir e se mantém longe das plântulas.