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Trabalho desenvolvido pela Emater-MG, em Muriaé, na Zona da Mata, é ideal para pequenos produtores
Uma praga que provoca perdas consideráveis nas lavouras cafeeiras pode ser controlada sem o uso de agrotóxicos. É o que mostra uma experiência implantada pela Emater-MG, no município de Muriaé, na Zona da Mata, para combater a broca do café. O trabalho desenvolvido na Fazenda Santa Rosa consistiu em adaptar para as características da região o protótipo de uma armadilha desenvolvida pelo Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) para atrair com uma isca o besouro (hypothenemus hampei), que causa o problema. A larva desse besouro se alimenta dos frutos do cafeeiro, danificando ou mesmo destruindo totalmente os grãos.
O experimento, testado em uma unidade demonstrativa na propriedade de um cafeicultor familiar, conseguiu reduzir em 80% o nível de infestação do inseto em um cafezal de um hectare, com o uso de armadilhas feitas de garrafas pet. A iniciativa permitiu observar e comparar com outra lavoura, na mesma fazenda, onde não foram adotadas as armadilhas. “Na lavoura que não teve esse controle, o ataque da broca chegou a 2,5% dos frutos. Na lavoura com tratamento com a isca alimentar, o ataque da broca foi de 0,5%“, explica o engenheiro agrônomo, Robério de Oliveira Torres, da Emater-MG de Muriaé.
O resultado da iniciativa foi considerado excelente pelo agrônomo, sendo compartilhado com cafeicultores da região. “Os benefícios com a utilização dessa armadilha são valiosos: proteção do cafezal, proteção à saúde dos agricultores e consumidores e do meio ambiente, pois não deixa resíduos que coloquem em risco animais e lençol freático. Além disso, não podemos esquecer a parte econômica dessa tecnologia, pois o ataque da broca diminui, o que freia a queda dos frutos, que ganha mais peso e melhora a qualidade da bebida do café. O custo também é menor, cerca de R$ 80 por hectare ao ano“, garante.
A armadilha
O técnico Robério de Oliveira explica que a armadilha é constituÃda de uma garrafa pet de dois litros, com abertura lateral. Ela é usada de cabeça para baixo, com a tampa de plástico fechada. Na parte inferior da garrafa, é colocada uma mistura de água com detergente. Para cada 200 ml de água, é necessário 1 ml de detergente.
Dentro da garrafa pet, na parede interior, é afixado um vidro de 20 ou 30 mililitros com um atrativo alimentar, que serve de isca. Para cada litro da mistura, são necessários, 750 ml de álcool metÃlico (metanol), misturado com 250 ml de álcool etÃlico (etanol) e 10 gramas de café moÃdo e torrado. Como o metanol é um produto tóxico, é necessária a orientação de um técnico para a manipulação. Na tampa do vidrinho, é feita uma pequena abertura para dispersar o aroma.
A engenhoca é então fixada no pé de café, na altura de um metro e meio. O inseto é atraÃdo pelo cheiro da mistura. Como há pouco espaço para o besouro voar dentro da garrafa pet, ele acaba caindo na água com detergente e morrendo. A orientação do técnico é para que essas garrafas capturadoras sejam montadas quando o grão do café começa a se desenvolver, o que acontece geralmente nos meses de setembro e outubro. Devem ser espalhadas 25 armadilhas por hectare, com uma distância de 20 metros entre elas. A mistura da isca e a água com detergente devem ser completadas sempre que necessárias. Os técnicos também alertam que durante a colheita, o produtor deve manter a lavoura sem restos de café no chão e não deixar frutos nos pés. Isso ajuda a ter um controle mais eficiente da broca.
“Esta metodologia de controle é excelente para o pequeno produtor. Além do baixo custo, é mais segura e ecológica, pois os produtos encontrados hoje no mercado para combater a praga são muito tóxicos“, explica o coordenador técnico regional da Emater-MG, Ricardo Tadeu Galvão..
Café em Muriaé
A cafeicultura tem grande importância econômica e social para o município de Muriaé e região e por isso o escritório local tem norteado suas ações na agroecologia. “Temos trabalhado muito com práticas agroecológicas, que visam constituir uma agricultura e pecuária mais natural. Procuramos evitar o uso indiscriminado de agrotóxicos e em muitos casos eliminando-os“, relata Robério de Oliveira. Segundo o agrônomo da Emater-MG, já faz parte da rotina de trabalho da unidade, a indicação de caldas alternativas para combater pragas e até o uso da homeopatia para lidar com a pecuária. “Temos parcerias com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia e com grupos que buscam tecnologias alternativas“, informa.
De acordo Oliveira, Muriaé tem cerca de 2 mil hectares de café, sendo aproximadamente 1,5 mil hectares em produção. Para este ano, o município tem produção estimada em 33 mil sacas de 60 quilos de café. Já Minas Gerais é o estado maior produtor e exportador de café do mundo, com safra estimada entre 22 a 24 milhões de sacas, respondendo por 67% do café arábica produzido no Brasil, numa área plantada de 1,1 milhão de hectares, distribuídos em 587 municípios, envolvendo e gerando na sua cadeia produtiva 3 milhões de empregos diretos e indiretos.
Mais informações sobre a armadilha para o controle da broca do café podem ser obtidas na regional da Emater-MG de Muriaé, com o coordenador técnico Ricardo Tadeu, pelo telefone (32) 3271-1343 ou no e-mail ricardo.tadeu@emater.mg.gov.br . Outra opção é falar no escritório local da Emater-MG, com o Robério Torres, pelo telefone (32) 3722-5799 e pelo e-mail roberio.torres@emater.mg.gov.br .