Givago Coutinho
Doutor em Fruticultura e professor efetivo – Centro Universitário de Goiatuba (UniCerrado)
givago_agro@hotmail.com
A fruticultura encontra-se em processo de expansão e aumenta a necessidade de aquisição de mudas que viabilizem o sucesso de empreendimentos realizados neste setor. A muda é um dos componentes mais importantes em fruticultura. Neste sentido, quanto mais informações e conhecimentos adquiridos sobre esta atividade, maiores serão as chances de sucesso.
Além dos conhecimentos próprios da produção geral de mudas, ainda existem os conhecimentos específicos relacionados a cada espécie e cultivar.
Panorama
No setor frutícola brasileiro, dentre as fruteiras de clima temperado, o cultivo da ameixeira é o que menos prosperou. Tal fato se deve à falta de cultivares com boa adaptação climática, problemas fitossanitários e produção de frutas com baixa qualidade.
Além da pouca disponibilidade de cultivares adaptadas às condições climáticas e a baixa qualidade das mudas produzidas, problemas devido a infestações de doenças, como a bacteriose (Xanthomonas campestris pv. pruni (Smith) Dye), escaldadura das folhas (Xylella fastidiosa Wells et al.), ferrugem (Tranzschelia pruni-spinosae (Pers.) Diet) e viroses sempre interferiram no desenvolvimento da cultura da ameixeira.
Outro fator que ocasionou menos prosperidade no setor foi a baixa qualidade das mudas de ameixeira produzidas, sendo um problema sério, principalmente por causar insegurança ao produtor em relação aos investimentos necessários para implantação de pomares.
Atualmente, considera-se que grande parte dos problemas no setor de produção de mudas de ameixeira estão relacionados à falta de qualidade das mudas produzidas pelos viveiristas regionais. Neste sentido, a produção de mudas de ameixeira com alta qualidade, elevado padrão fitossanitário e com características homogêneas é essencial, por garantir a estabilização e autossuficiência do mercado interno, para produtores e consumidores.
Recomendações
Para a implantação do pomar de ameixeira, não é recomendado utilizar sementes para a formação de mudas do tipo pé-franco. Ao se utilizar sementes de cultivares-copa (que correspondem à parte aérea da planta na enxertia, sendo produtoras de frutos), ocorre a formação de plantas com alta variabilidade genética entre indivíduos, mesmo quando as sementes são provenientes da mesma planta.
Mudas obtidas por enraizamento de estacas também não utilizadas para implantação de cultivos comerciais de ameixeira.
São requeridas mudas que sejam clones da cultivar produtora de frutos a qual se deseja propagar. Isso faz com que seja garantida a fidelidade genética e, assim, a obtenção de um pomar mais uniforme. Isso pode ser obtido por qualquer método de propagação vegetativa. No caso da propagação da ameixeira, a principal forma utilizada é por enxertia.
Enxertia
A enxertia é o método mais conhecido e difundido entre os fruticultores e viveiristas para produção de mudas de ameixeira. Essa escolha é decorrente da simplicidade, praticidade e por necessitar de apenas uma única gema como material propagativo (no caso da borbulhia).
Além disso, a enxertia também proporciona a oportunidade de unir, numa só planta, características desejáveis de dois genótipos diferentes provenientes do porta-enxerto e copa, com diversas vantagens.
Os principais porta-enxertos destinados à formação de mudas de ameixeiras são obtidos por sementes de pessegueiros (Prunus pérsica). Em regiões tropicais e subtropicais, é utilizado o pessegueiro ‘Okinawa’.
Segundo a Embrapa Clima Temperado, a metodologia para enxertia da ameixeira pode ser realizada da seguinte forma: para a realização da enxertia, o porta-enxerto não deve apresentar brotações laterais até 40 cm de altura, as quais devem ser previamente eliminadas no momento da enxertia.
Borbulhia
Há dois tipos de gemas das quais pode ser realizada a enxertia: gemas ativas e gemas dormentes. A borbulhia de gema ativa tem a vantagem de proporcionar a obtenção da muda em apenas um ciclo vegetativo e é realizada entre o final de novembro e início de dezembro.
A borbulhia de gema dormente é realizada entre os meses de junho e julho, período que corresponde ao repouso das matrizes. Porém, esta forma de enxertia necessita de dois ciclos vegetativos para obtenção da muda formada.
São coletados ramos da planta matriz que apresentem diâmetro aproximado de 10 mm e as gemas utilizadas são as que estão localizadas entre a base e a porção mediana do ramo. É recomendável que a coleta de ramos seja realizada por profissional experiente que saiba diferenciar gemas vegetativas de frutíferas.
Os ramos retirados devem ser provenientes de plantas que já tenham frutificado, evitando produzir mudas que podem apresentar rejuvenescimento fisiológico, atrasando o início da frutificação.
Após a coleta, são eliminadas as partes situadas nas extremidades tanto superior quanto inferior, além das folhas, que devem ser cortadas logo abaixo da base do limbo, permanecendo o pecíolo com aproximadamente 10 mm de comprimento.
Após os cortes e retirada de folhas, os ramos devem ser mantidos à sombra, com a base mergulhada em água, sendo aconselhável retirar somente o material que será utilizado no dia.
É possível o armazenamento dos ramos por alguns dias, desde que estejam em fardos com diâmetro não superior a 30 cm, envoltos em papel úmido e envolvido por plástico, em seguida mantidos a temperatura de 6 e 8ºC, sendo identificados.
Tratos
Para a enxertia, é realizada uma incisão vertical com cerca de 3,0 cm e uma horizontal de 2,0 cm, em forma de “T” invertido, à altura de 30 cm do solo, que receberá a borbulha.
A borbulha é retirada na forma de um pequeno escudo de casca, com comprimento variável, e o lenho deve ser removido. Este escudo é introduzido na incisão em forma de “T” invertido.
A porção do escudo que sobressaiu ao corte horizontal do “T” é cortada e amarra-se firmemente com fita de polietileno (geralmente a de número 8), iniciando-se o amarrio de baixo para cima.
Deve ocorrer uma pequena sobreposição à faixa anterior a cada volta da fita ao redor da haste do porta-enxerto, que tem por objetivo não permitir a penetração de água no corte, que poderá causar a morte do enxerto.
Após cinco dias após a enxertia, é realizada a quebra da haste do porta-enxerto a aproximadamente 10 centímetros do ponto de enxertia, para o lado oposto. É deixada uma ligação por uma porção de casca e lenho ao restante da planta.
Esta operação evita que a dominância apical possa exercer qualquer influência, o que pode prejudicar o desenvolvimento das brotações do enxerto, inibindo o início da brotação. Ao permanecer ligada à planta, a copa permitirá a continuação da elaboração de hormônios e nutrientes por meio de suas folhas, que serão levados ao enxerto, induzindo sua brotação.
Cerca de duas semanas após a quebra da haste da copa, a mesma é totalmente retirada, com um corte realizado pouco acima do local da enxertia e também são retiradas as brotações que tenham se desenvolvido abaixo da região de enxertia.
Mais tarde, quando o enxerto apresentar crescimento superior a 10 cm, pode ser realizada a retirada de ramos “ladrões” ou esladroamento. Posteriormente, 20 dias após a enxertia é feita a retirada da porção situada acima do enxerto, com o corte da haste em bisel.
A muda estará pronta para o plantio no campo quando atingir altura entre 70 e 100 cm de altura e diâmetro mínimo e 15 mm. A comercialização da muda poderá ser em raiz nua ou na própria embalagem em que foi produzida.
Plantio
De maneira geral, as mudas devem ser plantadas no inverno, preferencialmente entre 15 de junho e 15 de agosto, quando estão sem folhas. Se a área possuir declividade acima de 2%, o que a torna suscetível à erosão, o plantio se realiza seguindo as curvas de nível.
A cova deve ter espaço suficiente para acomodar todas as raízes, que devem ficar sem dobras e bem distribuídas. Quando se usa matéria orgânica, a cova deve ter dimensões mínimas de 40 x 40 cm.
Normalmente, os tipos de materiais mais usados são cama de aviário e esterco de curral bem curtido, que em seguida são misturados ao solo retirado da cova, fechada em seguida.
As mudas devem ser plantadas na mesma altura em que se encontram no substrato, não devendo enterrar demasiadamente ou plantar superficialmente, expondo-se as raízes. Assim, elas devem ficar no solo na mesma altura em que estavam no viveiro.
Não é recomendável o plantio das mudas quando o solo se encontrar em condições de encharcamento e pegajoso. Isso evita possíveis problemas com compactação ou formação de bolsas de ar próximo às raízes.
Após o plantio, pode-se cobrir a área ao redor da muda com algum tipo de cobertura vegetal, como palha ou capim seco. Feito isso, rega-se a muda. A produção tem início já no segundo ano e se estabiliza a partir do quinto ano.
Cultivares de ameixeiras
Até fevereiro de 2023 constavam na página Registro Nacional de Cultivares (RNC) no portal do Mapa, 76 cultivares de ameixeira (Prunus spp.) registradas no Brasil. Grande parte dessas cultivares foram lançadas e registradas antes do ano 2000.
Recentemente, foram lançadas e registradas três novas cultivares de ameixeira, sendo que até 2019 haviam registradas 73 cultivares de ameixeira.
Novidades
Recentemente, em 2021, foi relatado por pesquisadores da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) a identificação de uma nova variedade de ameixeira por um fruticultor na cidade de Videira (SC).
Esta cultivar é proveniente de uma mutação da cultivar de ameixeira Letícia, que não necessita de polinização cruzada e aparentemente apresenta um leque de vantagens mais significativas em relação à cultivar original.
A nova cultivar já se encontra registrada e recebeu a denominação de ‘Letícia’ AF (AF vem a ser “autofértil”), sendo que o processo de proteção já se encontra em andamento. Os pesquisadores apontam que poderão ter mudas disponíveis para plantios já nos próximos anos.
Os pesquisadores têm observado pegamento mais expressivo de frutos nas plantas de Letícia AF, quando comparado à cultivar ‘Letícia’ original, mesmo sem nenhuma outra cultivar polinizadora.
Tal fato permite eliminar a necessidade de instalação de 10 a 15% de plantas de cultivares polinizadoras do pomar, cujos frutos geralmente não têm valor comercial
Saiba mais
Em geral, uma das principais causas de perdas consideráveis de produtividade e qualidade na cultura da ameixeira é provocada por agentes infecciosos. As perdas podem variar entre 20 até 100%, dependendo da variedade e virulência do isolado ou patógeno envolvido.
A perspectiva do marco inicial de incentivo ao programa de certificação de mudas de ameixeira será baseada na disponibilização de material propagativo, com identidade genética e alto padrão fitossanitário.
Neste sentido, deverá ocorrer incentivo à adoção de normas e padrões de produção que irão refletir diretamente sobre a comercialização nacional de frutas, aumentando a qualidade do produto colocado à disposição dos consumidores e reduzindo, assim, as importações.