Emerson Trogello
Professor do IF Goiano Campus Morrinhos
emerson.trogello@ifgoiano.edu.br
Emanuelle Vicente Silva
emanuelle_vicente02@hotmail.com
João Victtor Rodrigues de Oliveira
joao_victtor123@hotmail.com
Graduandos em Agronomia – IFGoiano Campus Morrinhos
O Brasil planta, hoje, uma área de aproximadamente 40 milhões de hectares de soja, distribuídos em praticamente todos os Estados, sujeitos a diferentes latitudes (fotoperíodos), altitudes (temperaturas) e condições de solo, precipitação, manejo, sistemas produtivos e pressões de fatores bióticos (insetos, daninhas e doenças).
É impensável que poucos materiais genéticos possam atender a esta diversidade de ambiente proporcionada à cultura.
Desta forma, e devido ao amplo cultivo/demanda, diferentes empresas mantenedoras de genéticas de soja disponibilizam ao mercado produtor brasileiro uma ampla variedade de cultivares. Cabe ao produtor ou assistente técnico escolher as cultivares que melhor se adéquam à sua área de cultivo.
Grupos de maturação
Para esta escolha, é fundamental termos dados que nos forneçam informações para a tomada de decisão. Uma das primeiras informações a serem conhecidas é a latitude da área de semeio, uma vez que esta irá impactar diretamente no fotoperíodo (comprimento do período de luz diário).
Este fotoperíodo impacta diretamente no ciclo para o florescimento da cultura soja, e a partir destas informações são gerados os grupos de maturação (GM) a serem recomendados para as diferentes regiões de cultivo.
Desta forma, um produtor que planta um material de GM 7.6 em Goiás não pode optar por um material de GM 5.5 semeado nas regiões do Rio Grande do Sul, pois este, certamente terá um ciclo muito curto na região, não tendo tempo para vegetar e formar o “corpo” da planta.
O produtor tem um limite de GMs recomendados para a sua região de cultivo, sendo importante se atentar a eles.
Próximo passo
Ainda com relação aos GMs, dentro da faixa recomendada para a região de cultivo, o produtor pode optar por GMs menores a maiores, impactando assim na escolha de cultivares de ciclo precoce, médio ou normal.
Há uma tendência para a escolha de ciclos mais precoces, propiciando assim janelas para o cultivo de uma segunda safra. No entanto, a escolha do GM e consequente ciclo do material deve levar em conta o seu sistema produtivo.
Áreas/talhões onde não será semeada a cultura de segunda safra podem e devem receber materiais de ciclos mais longos, visando reduzir o risco de perdas por fatores principalmente ambientais, como o estresse hídrico.
Ainda, áreas de abertura, que serão o primeiro ciclo da cultura soja, devem ter ciclos mais longos priorizados, uma vez que estes se mostram menos suscetíveis a estresse.
Capacidade de colheita
Além de observar o sistema produtivo, o produtor deve se atentar à sua capacidade operacional de colheita. A nível de Brasil, como um todo, vemos que o produtor prioriza a capacidade operacional do plantio, buscando sempre posicionar os materiais de soja de forma rápida no campo, aproveitando as melhores janelas de plantio.
Entretanto, a capacidade operacional de colheita não acompanha esta janela de plantio. Desta forma, o escalonamento de diferentes GMs e consequente ciclo pode dar um fôlego maior no ato da colheita, evitando as perdas comuns neste momento de manejo.
Condições ambientais
Ainda pensando na escolha do ciclo do material, o produtor deve se atentar que muitas condições ambientais não podem ser controladas com o manejo. Imaginamos semear um único material, em uma única janela de plantio, com único ciclo, período de florescimento e enchimento de grãos.
Caso tenhamos um estresse hídrico no momento do florescimento/enchimento de grãos, o potencial de perda produtiva na área se faz extremamente elevado. Quando ampliamos o leque de materiais e, consequentemente, ciclos, damos a oportunidade para que alguns materiais não coincidam o seu período de florescimento/enchimento de grãos com o período de estresse, resultando assim em uma média produtiva da lavoura como um todo maior e de menor risco.
Mapeamento
Além destes fatores macro, é de extrema importância que o produtor mapeie os seus talhões de cultivo. Este princípio da agricultura de precisão pode e deve ser utilizado para a escolha de materiais genéticos.
Talhões com alta incidência de nematoides, por exemplo, devem ter cultivares de soja posicionadas que sejam tolerantes às espécies/raças de nematoides ali presentes. Áreas de solo menos férteis devem ter ali posicionadas cultivares de soja que tenham maior rusticidade e menor exigência de ambiente, mesmo este tendo menor caixa produtiva, uma vez que neste ambiente de baixa fertilidade natural, buscamos uma estabilidade produtiva.
Áreas de pivô, com alta fertilidade e potencial de investimento, podem ser reservadas para um cultivo de segunda safra com milho, por exemplo. Desta forma, devemos posicionar ali um material de ciclo mais precoce, com alta caixa produtiva, semeado na primeira janela e revestido de um excelente manejo.
Ou seja, a produtividade das áreas é altamente dependente da relação genótipo (material genético) x ambiente. Posicionar um material de alto teto produtivo em ambientes que não ofertam as condições para expressar este potencial é aumentar o risco e reduzir a lucratividade do sistema. O contrário também se faz verdadeiro.
Sucessões de cultivo
Ainda nesta busca por diversidade de materiais, devemos pensar nas sucessões de cultivo de soja. Utilizar a mesma cultivar por vários anos consecutivos pode acarretar problemas de produção, como o acúmulo de pragas e doenças, que se adaptam à cultivar utilizada, se multiplicando e utilizando como morada e alimento, além de aumentar a probabilidade de infecção no ano seguinte, causando danos nas próximas safras.
Outro problema é a resistência a herbicidas, pois o uso repetido e ininterrupto de um mesmo herbicida pode desenvolver resistência nas plantas daninhas, dificultando seu controle de forma eficiente.
Resistência das daninhas
Ao imaginar a utilização de um único material por várias safras seguidas, podemos estar forçando o uso de alguns poucos herbicidas, aumentando a pressão de seleção. Este risco está cada vez mais presente, com o lançamento das plataformas de resistência a 2,4-D, Dicamba e outros.
No entanto, é sabido que não conseguimos extrair do material genético o seu potencial produtivo a campo, uma vez que não ofertamos a ele as condições ambientais ou de manejo necessárias e exigidas.
Desta forma, uma recomendação é sempre escolher o material genético e trabalhar o mesmo dentro de sua propriedade/talhão, buscando, por meio da observação e levantamento de dados, ofertar a ele a melhor população de plantas, adubação, época de plantio, etc.
Ao trocar de material ano após ano, não conseguimos ter familiaridade com o mesmo, sem conseguir, assim, entender quais são suas exigências de ambiente e restringindo o seu potencial produtivo a campo.
Desta forma, a escolha de materiais genéticos adaptados a sua área, ao seu ambiente, ao seu manejo e a sua capacidade operacional de colheita é um dos principais pontos dentro do processo produtivo.
Aquela velha frase ainda se faz verdadeira aqui: “não devemos colocar todos os ovos em apenas uma cesta, uma vez que a agricultura é diversa e se faz uma empresa a céu aberto, sujeita a inúmeros riscos e exigindo a diversificação, até mesmo de materiais genéticos a serem posicionados”.