Rayla Nemis de Souza
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Rafael Rosa Rocha
rafaelrochaagro@outlook.com
Engenheiros agrônomos e mestres em Ambiente e Sistemas de Produção Agrícola – Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT)
O Brasil é um dos principais produtores de batata. De acordo com FAO, no ano de 2021 a produção do hortifrúti no País foi de 3,8 milhões de toneladas em uma área de cerca de 110 mil hectares.
Detendo de um consumo que vem crescendo a cada ano, o produtor brasileiro de batata enfrenta normalmente um grande problema que dificulta o aumento de produtividade de suas lavouras – a pinta-preta (Alternaria solani).
A pinta-preta se caracteriza pela formação de lesões circulares concêntricas de coloração escura nas folhas e nos ramos da batata. O surgimento se dá pela formação de manchas pequenas, na qual se desenvolvem lesões castanho-escuro, e dentro delas se formam os conídios.
Lesões nas hastes são caracterizadas por serem pardas e alongadas, podendo ou não apresentar halos concêntricos. As lesões em tubérculos de batata são escuras, circulares e irregulares, com bordos de cor púrpura ou bronzeada.
Sintomas
Nas plantas adultas, os sintomas surgem primeiramente nas folhas mais velhas e evoluem para as partes mais novas da planta, causando grandes prejuízos, tanto na produção como na qualidade do produto.
O fungo consegue sobreviver nos restos culturais e infecta outros plantios, como berinjela, cebola e tomate. A doença também pode ser transmitida por sementes contaminadas.
Danos
Regiões que apresentam temperaturas mais elevadas, entre 24 a 34ºC, e alta umidade do ar são propícias para a disseminação do fungo. A doença pode causar sérios danos à batata, com intensa redução da área foliar, queda do vigor das plantas, depreciação de tubérculos e consequentemente redução do potencial produtivo.
É comum que as lavouras sofram perdas entre 10 a 50%, mas sob condições de altas temperaturas e umidade prolongada as perdas podem chegar até 70% nas épocas de maior ocorrência da doença.
Dessa forma, para o produtor alcançar bons resultados é necessário manter um acompanhamento climático constante, com o controle das doenças, evitando o cultivo em áreas propensas ao acúmulo de umidade. Cultivares nacionais possuem resistência intermediária à pinta-preta, mas ainda se faz necessário o uso de fungicidas.
Controle
Para um controle eficaz, a orientação é seguir um programa eficiente de aplicação de fungicidas protetores e específicos, desde o início do desenvolvimento da cultura até a colheita. Os fungicidas protetores à base de cobre, mancozeb, chlorothalonil, fluazinam e methiram são muito utilizados.
Possuem amplo espectro de ação, baixa fungitoxidade e proporcionam bons níveis de controle sob baixa pressão da doença. Esses produtos possuem custos relativamente baixos, dessa forma, podem ser aplicados de forma preventiva durante todo o ciclo da cultura.
O tempo de proteção na planta varia de seis a nove dias, sendo aconselhável aplicar a cada sete dias.
Os triazóis, referentes inibidores da biossíntese de ergosterol, são caracterizados por sua alta eficiência no controle da pinta-preta. Esses fungicidas possuem uma admirável capacidade preventiva e curativa, ação sistêmica e efetividade utilizando doses relativamente baixas.
Alguns triazóis podem causar fitotoxidez a plantas jovens de batata. Em relação ao controle biológico, formulações à base de Bacillus pumilus e Bacillus amyloliquefaciens têm sido recomendadas para o controle da pinta-preta na cultura da batata.
Fique atento à nutrição
É importante ressaltar que a boa nutrição das plantas é fundamental para o controle da doença. A falta de nitrogênio causa a senescência prematuramente das plantas, tornando-as mais suscetíveis.
Níveis apropriados de potássio, magnésio e matéria orgânica no solo melhoram o vigor e a longevidade das plantas e podem diminuir a intensidade da pinta-preta, enquanto a falta de fósforo pode aumentá-la.
Por meio da irrigação controlada é possível mitigar a doença. Evite umidade prolongada nas folhas, irrigações noturnas ou no final da tarde, reduza a frequência das regas em campos que já apresentam sintomas ou enquanto as condições climáticas forem favoráveis. O uso de sistemas de irrigação localizada pode minimizar a manifestação da doença.
Antes da implantação da cultura, algumas medidas de controle podem ser tomadas na intenção de prevenir o surgimento da doença, como: escolha do local de plantio, evitando áreas sujeitas ao acúmulo de umidade, circulação de ar limitada e a proximidade de lavouras em fase final de ciclo.
Deve-se, também, atentar às sementes utilizadas, dando preferência a sementes e mudas sadias, evitando plantio de cultivares/híbridos tolerantes. Procure não fazer plantios adensados, e elimine os restos culturais e tubérculos doentes, dessa forma reduzindo as fontes de inóculo e, consequentemente, a ocorrência da doença.
Recomenda-se realizar vistorias constantes da cultura, a fim de identificar focos da doença e facilitar as tomadas de decisões.