Wagner Marques
waguinho740@gmail.com.br
Diego Antônio Domingos
diego.domingos@ldc.com
Graduandos em Agronomia – Faculdade do Grupo FAEF
Adilson Pimentel Júnior
Engenheiro agrônomo, doutor em Agronomia e professor – Centro Universitário de Ourinhos (Unifio)
O trigo é um dos principais cereais consumidos no mundo e possui uma grande demanda, tanto para consumo humano quanto para a indústria de alimentos. O Brasil é um grande importador de trigo, o que cria oportunidades para os agricultores produzirem trigo localmente e suprirem parte dessa demanda.
Esta é considerada uma boa opção de cultivo no Brasil por diversos motivos. Temos alta demanda interna por trigo devido ao seu consumo generalizado na forma de pães, massas, bolos e outros produtos alimentícios.
Essa demanda constante e crescente cria oportunidades de mercado para os produtores de trigo. O país também possui uma extensa área territorial e uma variedade de climas que permitem o cultivo de trigo em diferentes regiões do país – desde as mais frias do Sul até as regiões de clima mais quente do Centro-Oeste, há condições climáticas adequadas para o cultivo de trigo em diferentes épocas do ano.
O setor agrícola brasileiro tem adotado tecnologias avançadas para o cultivo de trigo, incluindo o uso de sementes melhoradas, fertilizantes, técnicas de manejo do solo e maquinário moderno. Isso contribui para aumentar a produtividade e a qualidade dos grãos, tornando o cultivo de trigo mais eficiente e rentável.
Limitações
Apesar da diversidade climática do Brasil, algumas regiões enfrentam limitações para o cultivo de trigo devido ao clima tropical predominante. O trigo é uma cultura de clima temperado, e o Brasil depende, em grande parte, de importações de países com climas mais adequados, como Argentina, Estados Unidos e Canadá, para suprir a demanda interna.
A produção de trigo no Brasil muitas vezes enfrenta problemas de competitividade em relação a outros países produtores. Isso ocorre devido a fatores como altos custos de produção, logística, infraestrutura limitada e burocracia, o que dificulta a expansão e o crescimento da produção nacional.
Algumas regiões do Brasil ainda têm acesso limitado a variedades de trigo mais adaptadas ao clima tropical, que possuem maior resistência a doenças, maior produtividade e melhor qualidade dos grãos.
A falta de variedades adequadas pode afetar a produtividade e a competitividade do trigo nacional. A importação de trigo muitas vezes é uma opção mais econômica para suprir a demanda interna, especialmente quando o mercado internacional apresenta preços competitivos.
A importação é facilitada devido à existência de acordos comerciais e à disponibilidade de trigo de qualidade a preços mais baixos em outros países.
Cenário mundial
A quebra de safra dos principais produtores de trigo ao redor do mundo tem uma influência significativa nos preços do trigo a nível global. Quando ocorrem eventos climáticos adversos, como secas, enchentes, geadas ou doenças, em grandes regiões produtoras de trigo, a oferta global do cereal pode ser reduzida.
Isso leva a uma diminuição da disponibilidade do produto no mercado internacional e, consequentemente, a um aumento nos preços.
Quando os principais produtores de trigo enfrentam uma quebra de safra, há uma maior demanda de outros países para compensar a oferta reduzida. Isso pode resultar em aumento dos preços do trigo, tanto nos mercados internacionais como domésticos dos países importadores.
No contexto brasileiro, a influência da quebra de safra nos preços do trigo pode ser sentida, principalmente, pelas importações. O Brasil é um dos maiores importadores de trigo do mundo, uma vez que a produção nacional não é suficiente para atender à demanda interna.
Assim, quando ocorrem quebras de safra em países produtores relevantes, como a Argentina, o aumento dos preços internacionais do trigo pode afetar os preços do cereal no mercado brasileiro.
Portanto, o cultivo de trigo oferece aos produtores brasileiros a oportunidade de diversificar suas atividades agrícolas, reduzindo a dependência de outras culturas. Isso pode ajudar a mitigar os riscos associados a variações de preços, condições climáticas e demanda de mercado de outras culturas agrícolas.
Mercado
O trigo cultivado no Brasil pode ser utilizado tanto para o consumo interno como para a exportação, agregando valor à produção agrícola do país. A produção de trigo de qualidade pode resultar em grãos com melhor valor comercial, abrindo oportunidades para mercados específicos, como a indústria de panificação, fabricação de massas e outros derivados.
Este cultivo gera empregos e estimula a economia local, tanto nas regiões produtoras quanto na cadeia de suprimentos relacionada. Isso inclui atividades como produção de sementes, insumos agrícolas, transporte, armazenamento, processamento e comercialização do trigo, contribuindo para o desenvolvimento regional e a geração de renda.
Aumentar a produção nacional de trigo tem o potencial de reduzir a dependência do Brasil em relação às importações. Isso pode trazer benefícios econômicos ao país, como uma maior segurança alimentar, a redução do impacto de variações cambiais nos preços do trigo importado e a promoção da autossuficiência em um dos principais alimentos consumidos pela população.
Mais benefícios da triticultura
Além da rentabilidade, o cultivo de trigo também oferece uma série de benefícios agronômicos importantes. Pode ser incluído em sistemas de rotação de culturas, o que ajuda a diversificar a produção agrícola e a melhorar a saúde do solo.
A rotação de culturas reduz a pressão de pragas e doenças específicas de determinadas culturas, melhora a estrutura do solo, aumenta a matéria orgânica e os nutrientes disponíveis e contribui para a sustentabilidade do sistema agrícola como um todo.
O cultivo de trigo promove a formação de raízes profundas e densas, o que melhora a estrutura do solo. As raízes do trigo ajudam a soltar o solo, facilitando a penetração de água e ar, o que, por sua vez, melhora a drenagem e a aeração do perfil.
Isso é particularmente benéfico em solos compactados ou com baixa estrutura. O trigo desempenha um papel importante na ciclagem de nutrientes no solo. Durante seu crescimento, o trigo absorve nutrientes, como nitrogênio, fósforo, potássio e micronutrientes, do solo.
Quando a planta é colhida e os resíduos vegetais se decompõem, esses nutrientes são devolvidos ao solo, enriquecendo-o e tornando-os disponíveis para as culturas subsequentes.
O trigo possui um sistema radicular robusto e uma cobertura vegetal densa, o que ajuda a proteger o solo contra a erosão causada pelo vento e pela água. A cobertura proporcionada pelas plantas de trigo também ajuda a reduzir a perda de solo e nutrientes por meio da erosão, preservando assim a qualidade e fertilidade do solo.
O cultivo de trigo também pode auxiliar no controle de plantas daninhas, principalmente quando combinado com práticas adequadas de manejo. O crescimento vigoroso das plantas de trigo e a formação de uma cobertura densa podem suprimir o desenvolvimento de plantas daninhas, reduzindo sua competição com a cultura principal.
Ciclagem de nutrientes
Em relação à ciclagem de nutrientes, o trigo contribui para a melhoria do solo através da devolução de nutrientes ao solo durante o processo de decomposição dos resíduos vegetais. Quando as plantas de trigo são colhidas, seus resíduos, como caules e folhas, são deixados no solo.
Esses resíduos se decompõem ao longo do tempo, liberando nutrientes que foram absorvidos pelas plantas durante seu crescimento. O cultivo de trigo pode auxiliar no controle de nematoides, que são pequenos vermes parasitas do solo que podem causar danos significativos às culturas agrícolas.
Existem duas maneiras principais pelas quais ele contribui para o controle de nematoides. O trigo possui substâncias químicas em suas raízes e resíduos vegetais que têm propriedades alelopáticas, ou seja, podem inibir o crescimento e a reprodução de nematoides.
Essas substâncias são liberadas no solo e podem afetar negativamente os nematoides, reduzindo sua população e, consequentemente, os danos que eles causam às culturas.
Em sistemas de rotação de culturas, ele pode interromper o ciclo de vida dos nematoides e reduzir sua população no solo. Ao alternar o trigo com outras culturas que não são hospedeiras dos nematoides, ocorre uma diminuição da disponibilidade de alimento e do ambiente adequado para a reprodução dos parasitas, resultando em um controle mais efetivo.
O que esperar
No que diz respeito às perspectivas para o cultivo de trigo no Brasil, existem alguns fatores que podem impactar o mercado agrícola. O consumo de produtos à base de trigo continua a crescer no Brasil devido ao aumento da população e à mudança nos hábitos alimentares.
Isso cria oportunidades para os produtores nacionais atenderem à demanda crescente e reduzirem a dependência das importações.
O setor de pesquisa agrícola tem investido em melhoramento genético e tecnologias para aumentar a produtividade, a resistência a doenças e a qualidade dos grãos de trigo. Com variedades mais adaptadas e tecnologias avançadas, espera-se um aumento da produtividade e da rentabilidade para os produtores brasileiros.
Além das tradicionais regiões produtoras de trigo no Sul do Brasil, estão sendo realizados estudos e experimentos para expandir o cultivo para outras áreas, como o Cerrado e o Nordeste do país. Isso pode diversificar a produção e reduzir a vulnerabilidade às variações climáticas e a fatores externos.
O cultivo de trigo é influenciado pelas condições climáticas, e o Brasil ainda enfrenta desafios relacionados a eventos climáticos adversos, como geadas, secas e chuvas excessivas. A adoção de técnicas de manejo e o investimento em sistemas de irrigação mais eficientes são essenciais para minimizar os riscos e aumentar a estabilidade da produção.
Pesquisas avançam
O Brasil tem conseguido aumentar sua produção interna de trigo com investimentos em tecnologia, pesquisa e manejo adequado. Com isso, espera-se um aumento na produtividade e expansão da área cultivada, o que pode levar a uma maior autossuficiência na produção de trigo, deixando a dependência externa como as importações.
O desenvolvimento das variedades de trigo mais produtivas, resistentes a doenças e adaptadas às condições climáticas brasileiras, por meio de melhoramento genético, pode manter o aumento da produção e da qualidade do trigo nacional e fazer com que os produtores tenham uma lucratividade positiva.