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Sorgo granífero expande para novas áreas de cultivo

Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), a estimativa brasileira para a cultura do sorgo, safra 2023/24, é uma área de 1.417,6 mil ha, com produtividade de 3.074 kg.ha-1, totalizando uma produção de 4.357,2 mil t.

Thiago Alberto Ortiz
thiago.ortiz@prof.unipar.br

Franciely S. Ponce
francielyponce@gmail.com

Silvia Graciele Hulse de Souza
silviahulse@prof.unipar.br
Engenheiros agrônomos, doutores em Agronomia e professores – UNIPAR (campus Umuarama-PR)

O aumento da área ocupada com milho e a redução da sazonalidade de seu cultivo têm mudado a importância relativa das pragas e doenças na cultura, tendo a cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis) assumido papel importante nos últimos anos.

A ocorrência da praga se dá em diversos países do continente americano, principalmente no Brasil, Argentina, Guatemala, Costa Rica, México, Venezuela, Estados Unidos, Peru e na Colômbia.

No Brasil, a cigarrinha tornou-se uma praga-chave na cultura do milho, principalmente a partir da safra de 2014/15 nas regiões sudeste e centro-oeste do país.

Doenças seguem crescimento do milho

O crescimento das áreas cultivadas com milho “safrinha”, em todo Brasil, vem contribuindo para o aumento das populações e, consequentemente, das doenças cujos patógenos a cigarrinha é vetor.

Com a possibilidade de cultivo de milho durante o ano inteiro no Brasil, ocorreu a quebra da sazonalidade de plantio, resultando em aumento de pressão da praga.

Assim, a praga tem se tornado um desafio no manejo da cultura do milho pela transmissão de dois molicutes, o Spiroplasma kunkelii, que causa a doença conhecida como enfezamento pálido, e o Phytoplasma asteris, responsável pela ocorrência do enfezamento vermelho no milho.

Além dos molicutes, pode ainda transmitir um vírus para as plantas sadias (Maize rayado fino virus), conhecido como risca do milho ou raiado fino ou virose risca.

Atenção

As doenças do milho, chamadas de enfezamentos, têm ganhado bastante atenção recentemente. Associadas às altas populações de D. maidis, podem causar danos severos e trazer prejuízos aos produtores, principalmente em regiões mais quentes do Brasil, que é, justamente, onde o milho é cultivado em mais de uma safra ao ano.

Essas doenças afetam o desenvolvimento, a nutrição e a fisiologia das plantas infectadas que, por conseguinte, têm sua produtividade comprometida.

A ocorrência dos enfezamentos e os níveis populacionais da cigarrinha-do-milho vêm aumentando em diversos estados do Brasil, com surtos maiores identificados em regiões agrícolas na Bahia, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Paraná.

As perdas devido aos enfezamentos podem chegar a 100%, em função da época de infecção e da suscetibilidade do híbrido semeado.

Cada fêmea pode depositar de 400 a 600 ovos, sendo que a temperatura ideal para incubação é entre 26 – 28℃, com duração de oito a 10 dias. Após a emergência das ninfas, elas passam a viver em colônias, junto aos adultos, preferencialmente dentro do cartucho do milho, onde permanecem protegidas.

A longevidade dos adultos pode chegar a oito semanas, sendo que seu ciclo de vida gira em torno de 25 a 30 dias, numa temperatura média de 25℃.

Opção para o controle da população

A reprodução da praga ocorre somente em plantas de milho, teosinto e em espécies do gênero Tripsacum, apesar de ela utilizar outras espécies de plantas como abrigo na entressafra.

As populações da cigarrinha e o inóculo dos patógenos tem ocorrido com mais frequência e em níveis populacionais mais altos no cultivo safrinha. Além do milho tiguera, a semeadura de lavouras de milho em diferentes datas, sem a utilização de uma calendarização, promove condições favoráveis para uma oferta ininterrupta e abundante do milho, servindo como ponte verde.

Isso favorece a permanência e o aumento da população de cigarrinha e a ocorrência dos enfezamentos.

Na ausência do milho, a cigarrinha pode utilizar a migração por longas distâncias como estratégia de sobrevivência, bem como a diapausa (espécie de estado de dormência em insetos) em restos culturais de milho, em plantas alojamentos e em plantas voluntárias.

Mobilidade

O inseto apresenta, portanto, alta mobilidade e seu controle depende de um conjunto de ações simultâneas que fazem parte do Manejo Integrado de Pragas (MIP).

O controle eficaz desta praga apresenta-se como um desafio, pois deve-se ter foco nas complexas interações entre diferentes agentes e fatores que compõem o MIP.

Ainda não está estabelecido um nível de controle (NC) para a cigarrinha-do-milho, sendo avaliado, para isso, a presença ou ausência da praga na cultura, especialmente durante o período crítico de infecção (V1 a V5).

Mesmo se houvesse o NC para insetos-vetores, é extremamente baixo. Devido a isto, inseticidas têm sido indicados, pois um único inseto infectado pode contaminar várias plantas.

Portanto, a rotação de culturas com a cultura do sorgo tem se mostrado vantajosa em razão da menor suscetibilidade à praga, quando comparado à cultura do milho.

A cultura do sorgo

O sorgo (Sorghum bicolor [L.] Moench) pertence à família das Poaceae, sendo uma planta herbácea monocotiledônea. É o quinto cereal mais produzido no mundo, atrás apenas de trigo, arroz, milho e cevada.

Seu cultivo doméstico para consumo humano e animal ocorreu na África tropical. Por esse motivo, se adaptou bem ao clima brasileiro, sendo desenvolvidas várias cultivares para facilitar o cultivo.

Agronomicamente, os sorgos são classificados em cinco grupos: granífero, sacarino, forrageiro, vassoura e biomassa. O sorgo granífero possui porte mais baixo que o forrageiro, tendo por finalidade a produção de grãos ou sementes.

Além disso, ainda pode ser usado como pastagem e feno, podendo fornecer aos animais na forma de ração (grãos secos) ou na forma de silagem (grãos úmidos). No entanto, não apresenta a mesma eficácia da produção de silagem, já que não possui grande quantidade de matéria verde.

O sorgo é praticamente tão nutritivo quanto o milho, no entanto, possui a semente um pouco menor, o que pode dificultar a semeadura se não houver os implementos adequados para isso.

Ele também possui rendimento similar ao do milho para alimentação animal, ainda com o benefício de evapotranspirar menos, o que faz com que o uso da água pela planta seja mais eficiente.

Mitos e verdades

Embora o sorgo seja reconhecido, entre as culturas produtoras de grãos, como mais tolerante ao estresse hídrico, sendo assim recomendado para o cultivo em períodos de menor intensidade e regularidade das chuvas, é erroneamente considerado adequado para o cultivo em solos ácidos e de baixa fertilidade.

Sorgo na segunda safra

O cultivo de sorgo na segunda safra tem aumentado significativamente nos últimos anos no Brasil, principalmente no sudeste e centro-oeste, em virtude da sua adaptabilidade ao clima quente, mesmo sob condições de deficiência hídrica, característica desfavorável à maioria dos cereais.

Isso permitiu o cultivo e o estabelecimento da cultura em regiões com distribuição pluviométrica irregular, abaixo dos 600 mm, como por exemplo no nordeste brasileiro.

Cresce o cultivo de sorgo na safrinha

 O sistema radicular do sorgo é bem desenvolvido, extenso e fibroso, o que auxilia no uso eficiente dos recursos hídricos e minerais. A faixa de temperatura ideal varia entre 33 – 34℃, sendo que acima de 38℃ e abaixo de 16℃ a produtividade pode ser comprometida.

Todas essas características evolutivas possibilitam a sobrevivência em ambientes extremamente secos.

Cenário atual

Nos últimos anos, o sorgo granífero tem se constituído em uma excelente opção para compor o sistema de produção de grãos, sendo cultivado na segunda safra (safrinha) em sucessão à cultura da soja.

A expansão do cultivo se deve às instabilidades climáticas, especialmente pelos períodos de deficit hídrico, que vêm ocorrendo na segunda safra com a cultura do milho, e pelo aumento da incidência da cigarrinha-do-milho.

Além disso, o sorgo granífero apresenta menor custo de produção em comparação ao milho, é menos suscetível às pragas, como a cigarrinha-do-milho, tolera altas temperaturas, suporta déficits hídricos e ainda assim gera grandes produtividades, o que o torna uma opção viável para regiões que possuem essas características.

Desta forma, a cultura do sorgo se torna uma ótima alternativa em comparação ao cultivo de milho safrinha, pelo fato de que a cultura vem sofrendo perdas significativas, chegando a 70% com a pressão da cigarrinha.

Detalhes que fazem a diferença

Em plantio de sorgo na safrinha, não é comum o uso de adubação nitrogenada, sendo que este mineral fica requerido no solo originado das culturas de verão, como por exemplo, milho e soja.

Porém, muitas vezes os resíduos dessa adubação anterior são um fator limitante para o desempenho favorável da cultura do sorgo, pois as quantidades fornecidas acabam sendo insuficientes.

Por esta razão, muitas vezes o desempenho da cultura do sorgo é dependente das doses de nitrogênio aplicados anteriormente, não descartando uma possível adubação na cultura durante o seu ciclo.

Vantagens do cultivo do sorgo

A cultura do sorgo apresentou expressiva expansão nos últimos anos agrícolas. Do ponto de vista agronômico, este crescimento é explicado, principalmente, pelo alto potencial de produção de grãos e de matéria seca da cultura, além da sua capacidade de suportar estresses ambientais.

Deste modo, o sorgo tem sido uma excelente opção para produção de grãos e forragem em todas as situações em que o déficit hídrico e as condições de baixa fertilidade dos solos oferecem maiores riscos para outras culturas, notadamente o milho.

Do ponto de vista de mercado, o cultivo de sorgo em sucessão às culturas de verão tem contribuído para a oferta sustentável de alimentos de boa qualidade para alimentação animal e de baixo custo, tanto para pecuaristas como para as agroindústrias de rações.

Além disso, o sorgo apresenta melhor resistência às altas temperaturas, desenvolvendo melhor que outras culturas em locais desfavoráveis a outros cereais, tendo como um dos fatores de resistência a sua raiz mais profunda e ramificada.

Outra característica importante do sorgo é ter um menor custo de produção em relação a outras fontes energéticas.

Motivos para o cultivo do sorgo granífero na safrinha:

– Maior segurança frente às variações climáticas durante o ciclo da cultura;

– Boa tolerância à seca;

– Maior janela de plantio na safrinha (até 15 – 25/03, conforme a região), permitindo safrinha em sucessão às cultivares de soja de ciclos mais longos;

– Elevado potencial produtivo em condições marginais ao cultivo do milho, chegando a mais de 100 sc.ha-1;

– Potencial produtivo entre 120 – 140 sc.ha-1, dependendo do manejo e da adubação;

– Menor custo de produção (1,0 saca de 500 mil sementes semeia mais de 2,0 ha) e de manejo em relação ao milho;

– Não é atacada significativamente pela cigarrinha-do-milho, constituindo grande oportunidade em áreas com dificuldade de manejo e controle dessa importante praga;

– Permite plantio direto da soja no verão, formando palhada e suprindo plantas de difícil controle e tolerantes ao glifosato, bem como evita a proliferação de milhos voluntários com gene RR na safrinha;

– Na maior parte, não existem doenças de sorgo comuns ao milho;

– Reduz população de nematoides nos solos.

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