Ana Elisa Lyra Brumat
Engenheira agrônoma e doutoranda em Ciências do Solo – Universidade Federal do Paraná (UFPR)
anaelisalbrumat@gmail.com
A diversidade biológica do solo refere-se à variedade de organismos vivos, incluindo bactérias, fungos, protozoários, nematoides, artrópodes e minhocas, bem como suas interações e funções no ecossistema do solo.
São responsáveis pela ciclagem de nutrientes com a decomposição da matéria orgânica, atuam no controle de pragas e doenças, melhoram a estrutura do solo e a resiliência das plantas a condições adversas, como seca, salinidade e doenças.
Biotecnologia em prol do agro
Dentro da diversidade biológica, a biotecnologia é usada para desenvolver bioinsumos, como microrganismos benéficos e bactérias fixadoras de nitrogênio, por exemplo, que são aplicados no solo para melhorar a qualidade e a disponibilidade de nutrientes para as plantas.
As bactérias que promovem o crescimento de plantas (PGPR) e as micorrizas podem ser isoladas, multiplicadas em laboratório e depois aplicadas ao solo, promovendo a simbiose entre as plantas e os microrganismos.
O termo “bactérias inteligentes” não é um conceito científico, mas é comumente utilizado para se referir a microrganismos benéficos do solo, especialmente bactérias, que desempenham funções específicas, como a fixação de nitrogênio feita pelos rizóbios, e a solubilização de fosfato, assim como a decomposição da matéria orgânica.
Já os condicionadores de solo são produtos adicionados ao solo para melhorar suas propriedades físicas, químicas ou biológicas. Eles podem ser projetados para combinar matéria orgânica com microrganismos benéficos, o que é o caso das “bactérias inteligentes”.
Funções no solo
A matéria orgânica é um componente essencial dos condicionadores de solo, tanto na forma de compostos orgânicos, resíduos de plantas, esterco, húmus, entre outros, enquanto microrganismos benéficos, como bactérias do solo, realizam funções específicas, como fixação de nitrogênio e a solubilização de fosfato.
Contudo, existem diferentes cepas ou tipos de “bactérias inteligentes” que devem ser escolhidos de forma adequada para as necessidades específicas dos agricultores, incluindo o tipo de cultura, as condições do solo e os objetivos de manejo.
Essas são compostas pelas bactérias fixadoras de nitrogênio, micorrizas, as solubilizadoras de fosfato, as promotoras de crescimento e as antagonistas de patógenos.
A principal função e efeito da utilização das “bactérias inteligentes” é melhorar a estrutura do solo, tornando-o mais arejado e menos compactado, aumentar a capacidade do solo de reter água, o que é importante para fornecer um suprimento constante para as plantas, promover a ciclagem eficiente de nutrientes no solo, tornando-os mais disponíveis e liberar nutrientes de forma controlada, proporcionando às plantas um suprimento constante ao longo do tempo.
Ponto a ponto
As “bactérias inteligentes” atuam da seguinte forma: as fixadoras de nitrogênio são capazes de fixar o nitrogênio atmosférico e convertê-lo em uma forma que as plantas podem absorvê-lo; e as solubilizadores de fosfato liberam fosfato inorgânico no solo, tornando-o mais facilmente acessível às plantas.
Essas propriedades conferidas ao solo podem reduzir a dependência de fertilizantes químicos, economizando dinheiro e reduzindo a poluição do ambiente, além de tornar o uso de recursos, como água e nutrientes, mais eficiente, contribuindo para a sustentabilidade agrícola a longo prazo e reduzindo impactos ambientais.
A implementação de soluções em biotecnologia, além de trazer muitos benefícios, também apresenta desafios e considerações que os agricultores devem levar em conta: a seleção das cepas, as condições de armazenamento, a compatibilidade com outros insumos, monitoramento e avaliação ao longo do tempo e a diversidade microbiana.
Além da melhoria da produtividade agrícola, a biotecnologia no manejo do solo pode trazer diversos benefícios ambientais, com a redução da dependência do uso de fertilizantes, como já citado anteriormente, menor uso de pesticidas, aumento da eficiência no uso de recursos hídricos, redução da erosão do solo e de emissão de gases de efeito estufa, assim como da contaminação química, promovendo a estabilidade do ambiente.
Conscientização
A conscientização e a adoção de práticas baseadas em biotecnologia podem ser promovidas de várias maneiras, para melhorar a sustentabilidade agrícola.
Dessa forma, é feita pela educação e capacitação, oferecendo informações e treinamento aos agricultores sobre os benefícios, funcionamento e a aplicação prática da biotecnologia, demonstração em campo do uso, integração com práticas tradicionais e assistência técnica de acompanhamento.
Essa conscientização e a adoção de práticas baseadas em “bactérias inteligentes” pode ser um processo gradual, mas, com o apoio adequado, os agricultores podem colher os benefícios a longo prazo da sustentabilidade agrícola e da produtividade aprimorada.