Thiago Alberto Ortiz
thiago.ortiz@prof.unipar.br
Silvia Graciele Hulse de Souza
silviahulse@unipar.br
Franciely S. Ponce
francielyponce@gmail.com
Engenheiros agrônomos, doutores em Agronomia e professores do Departamento de Agronomia – UNIPAR/Umuarama-PR
Com a agricultura em constante desenvolvimento, visa-se aumentar os níveis de produtividade das culturas. Por essa razão, se faz necessário avaliar e obter insumos agrícolas e técnicas que contribuem ao aumento de produtividade.
Nesse sentido, a qualidade de sementes e tecnologias voltadas ao tratamento das mesmas têm sido objetos de pesquisas.
Foco nela
A semente é um dos principais insumos agrícolas, por conduzir ao campo características que irão determinar o manejo, além de carregar os caracteres desejados para uma condução eficiente das lavouras, o que resulta em maior produtividade.
A qualidade da semente é definida como o conjunto de atributos genéticos, físicos, sanitários e fisiológicos, os quais apresentam relação com o vigor das plântulas emergidas, a taxa de crescimento inicial e de eficiência metabólica, a qualidade e a uniformidade do estande, a área foliar, a produção de matéria seca, assim como com os níveis de produção e rendimento.
Sabe-se que o vigor das sementes é suscetível a fatores ambientais e nutricionais. Assim sendo, a utilização de sementes de elevada qualidade fisiológica aliada a práticas culturais adequadas favorece a obtenção de estandes uniformes.
Qualidade é tudo
Com o enfoque na manutenção da qualidade de lotes, o tratamento de sementes tem sido uma das principais ferramentas de manejo utilizadas para garantir proteção inicial da lavoura, tendo em vista que tal prática apresenta relação direta com a sanidade dos lotes, a qual, por sua vez, está ligada aos demais atributos que compõem o conjunto responsável pela qualidade das sementes.
À vista disso, há no mercado uma variedade de produtos disponíveis à prática do tratamento de sementes, a exemplo dos bioestimulantes, que são compostos naturais e/ou sintéticos, e quando aplicados em sementes e plantas, estimulam ou regulam seus processos fisiológicos.
Bioestimulantes
Os bioestimulantes podem conter uma grande diversidade de elementos, como aminoácidos, inoculantes microbiológicos, extratos vegetais ou de algas, substâncias húmicas e nutrientes.
Quanto ao modo de atuação, podem abranger a ativação de rotas metabólicas nas plantas, a estimulação de atividades microbianas ao redor da rizosfera, a indução do crescimento de raízes e o favorecimento do estabelecimento de plantas.
Assim sendo, a eficácia está associada à capacidade de mobilizar reservas nas sementes, à expressão gênica e à indução de repostas regulatórios pela interação de processos bioquímicos e fisiológicos. Posto isso, bioestimulantes à base de nutrientes têm sido foco de pesquisas.
Cálcio e magnésio
Os nutrientes podem ser classificados em essenciais e benéficos. Os classificados como essenciais são responsáveis por fazerem parte de um composto ou de uma reação crucial do metabolismo, sendo que, na sua ausência, a planta morreria antes mesmo de completar o seu ciclo; não podendo ser substituído por nenhum outro.
Desta forma, tanto o cálcio como o magnésio são classificados como macronutrientes, em razão de serem exigidos em maior quantidade que os micronutrientes.
A deficiência de cálcio nos tecidos das plantas pode afetar a formação da parede celular, o que faz desse nutriente ser essencial às plantas. Além disso, a sua ausência pode ocasionar amarelecimento da margem ou murchamente das folhas mais novas, manchas necróticas internervais, crescimento não uniforme da folha, colapso do pecíolo, murchamento e morte das gemas terminais, cessamento do crescimento apical, gemas laterais dormentes, redução da frutificação ou produção de frutos anormais, além de decréscimo na produção de sementes ou abortamento.
Por sua vez, o magnésio é absorvido pela planta na forma iônica da solução do solo e acessado pelas raízes, principalmente pelos mecanismos de interceptação radicular e fluxo de massa.
Interferência na absorção
Além disso, a absorção desse nutriente está associada, também, às suas relações de equilíbrio com o cálcio e o potássio na solução do solo. Os sintomas de deficiências de magnésio geralmente aparecem primeiro nas folhas mais velhas, em razão de ser redistribuído na planta, diferentemente do cálcio.
A deficiência aparece com cor amarelada, bronzeada ou avermelhada, enquanto as nervuras das folhas permanecem verdes, além de poder ocasionar a queda prematura das folhas e prejudicar a formação das sementes.
O desequilíbrio entre cálcio e magnésio no solo pode acentuar a deficiência do segundo, ou seja, com o aumento da relação cálcio/magnésio, a planta pode absorver menos magnésio.
O magnésio também é um nutriente essencial à planta, tendo em vista ocupar posição central na molécula da clorofila, além de funcionar como ativador de enzimas e servir como ponte entre ATP e compostos orgânicos, como açúcares, que serão transformados por enzimas.
Pesquisas
Dada a essencialidade do cálcio e do magnésio nas plantas, estudos têm sido desenvolvidos com o intuito de avaliar a viabilidade do tratamento de sementes com esses nutrientes.
Sendo assim, a aplicação de calcário dolomítico, obtido da moagem da rocha calcária, na dose de 50 g.kg-1 em sementes de soja favoreceu, até 30 dias após a emergência (DAE), o aumento de matéria seca, a altura de planta, a área foliar, assim como as taxas de crescimento da cultura, de crescimento relativo e assimilatória líquida, o número de legumes por planta, o rendimento de sementes por planta e a porcentagem de germinação e de vigor de sementes.
Viabilidade
Assim, observa-se que o tratamento de sementes de soja com cálcio e magnésio é uma alternativa viável. Porém, é sabido que a quantidade absorvida de cálcio e de magnésio depende da cultura e que mesmo cultivares da mesma espécie apresentaram comportamentos distintos, quando submetidas ao tratamento de sementes com cálcio e magnésio.
Estudos com milho, sorgo e feijão, utilizando tratamento de sementes com cálcio e magnésio, também têm mostrado resultados favoráveis. Na cultura do milho foi constatado aumento de massa seca de raiz, massa seca total e comprimento de raiz no intervalo de doses entre 3,0 e 6,0 L.ha-1 de óxido de cálcio (CaO).
Para a cultura do sorgo, doses crescentes de CaO de até 6,0 L.ha-1 contribuíram para o aumento do comprimento de parte aérea e raiz. Já para o feijoeiro, houve aumento da massa seca de raiz e total, assim como do comprimento de raiz entre doses de 3,0 a 4,5 L.ha-1 de CaO nanoparticulada com 25% de Ca.
Por sua vez, o tratamento de sementes com fonte de magnésio [óxido de magnésio (MgO) nanoparticulada com 21% de Mg] tem contribuído para a cultura do feijão, dado o aumento de massa seca de raiz e total, além de comprimento de parte aérea, ao utilizar doses crescentes até 3,0 L.ha-1 de MgO.
Mais produtividade
Os nutrientes têm merecido atenção especial no ramo da ciência e tecnologia de sementes, a exemplo do cálcio e do magnésio, visto que apresentam relação com a qualidade de sementes e a produção.
Dessa forma, o tratamento de sementes com nutrientes tem se mostrado uma técnica favorável à qualidade fisiológica de sementes e ao incremento da produtividade de culturas.
Por esse motivo, essa tecnologia vem se tornando crescente e promissora, pois pode contribuir para a agregação de valor às sementes, em um mercado cada vez mais exigente e competitivo.
Porém, se fazem necessários novos estudos, a fim de viabilizar metodologias para diferentes culturas/cultivares, levando em consideração, principalmente, a interação entre dose × época de realização × material genético.