Thiago Alberto Ortiz
thiago.ortiz@prof.unipar.br
Silvia Graciele Hulse de Souza
silviahulse@unipar.br
Franciely S. Ponce
francielyponce@gmail.com
Engenheiros agrônomos, doutores em Agronomia e professores – UNIPAR/Umuarama (PR)
O milho safrinha, ou milho de sequeiro, é semeado de janeiro a março/abril, após a cultura de verão, na região centro-sul brasileira, não sendo sinônimo de milho de segunda safra, tendo em vista que parte é irrigada, ao contrário do milho safrinha.
Nas regiões aptas ao cultivo do milho safrinha, compostas pelos estados do Paraná, São Paulo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais, o planejamento deve ser iniciado já na cultura anterior, quando se deve prever a colheita da cultura antecessora ao milho o mais cedo possível, de modo a propiciar a semeadura da safrinha na época de maior probabilidade de sucesso, considerando as necessidades hídricas e térmicas das plantas.
O planejamento deve ter como objetivo avaliar os principais fatores capazes de influenciar na uniformidade no plantio, os quais refletem direta ou indiretamente na condução da cultura durante todo o ciclo fenológico.
Textura, adubação e disponibilidade hídrica
Quanto ao fator solo, áreas argilosas ou de maior disponibilidade de água para as plantas, associando preferencialmente ao sistema plantio direto, contribuem para a uniformidade no plantio, tendo em vista favorecer o processo germinativo de sementes.
A adubação está associada a esse fator, sendo importante a uniformidade no plantio. Os critérios usados na recomendação da adubação incluem a análise do solo para macro e micronutrientes e a expectativa de produtividade.
Além disso, deve-se levar em consideração o menor potencial produtivo (que limita as doses econômicas), a precipitação pluvial decrescente com a proximidade do inverno (que afeta o parcelamento da adubação) e as peculiaridades da sucessão de culturas.
No entanto, a quantidade de fertilizantes é relativamente menor na safrinha, comparada à safra de verão.
Parcelar ou não?
A decisão de parcelar ou não o nitrogênio a ser aplicado na cultura do milho safrinha geralmente está associada à quantidade total a ser utilizada, que depende do potencial produtivo da lavoura.
Quando se decide aplicar quantidades baixas de nitrogênio (normalmente inferiores a 40 kg.ha-1), a aplicação pode ser feita toda na semeadura, evitando mais uma operação no manejo da cultura.
No entanto, em lavouras com potencial produtivo acima de 4,0 t.ha-1, espera-se que ocorra resposta econômica para a adubação de cobertura, que deverá ser feita o mais cedo possível (até o estádio fenológico V6) para aproveitar a umidade do solo.
Ressalta-se que, em solos arenosos e/ou em sucessão ao milho verão, as respostas à adubação nitrogenada são mais acentuadas e o parcelamento vantajoso. Deve-se evitar o parcelamento da adubação com potássio para a cultura do milho safrinha, que deverá ser aplicado, na sua totalidade, na semeadura.
Importância da água
O fator disponibilidade de água também apresenta relação com as características do solo, sendo que nos arenosos, a época de semeadura é menos flexível, quando comparada aos argilosos, pela menor capacidade de água disponível.
Acrescenta-se que os solos argilosos geralmente têm melhor fertilidade natural, permitindo o desenvolvimento mais vigoroso das raízes. Desta forma, o sistema de manejo de solo, como o sistema plantio direto, que promove maior disponibilidade de água para as plantas, deve ser considerado, a fim de favorecer o plantio de milho safrinha.
Além disso, a umidade do solo pode ser crítica, principalmente em alguns pontos de maior compactação e/ou ausência de palha na superfície. Esses fatores, aliados ao ataque de pragas de solo (insetos e nematoides), cada vez mais problemáticos em áreas de monocultura, provocam a emergência e o desenvolvimento desigual das plântulas.
Época de semeadura e qualidade de sementes
Em virtude da necessidade de implantar o milho safrinha o mais cedo possível, após a colheita da cultura de verão (geralmente a soja), a semeadura pode ser demasiadamente rápida, comprometendo a uniformidade na distribuição das sementes na linha e em profundidade.
A época de semeadura é influenciada, principalmente, pela latitude e altitude da região, bem como pelo tipo de solo e o ciclo da cultivar, devendo-se considerar o zoneamento agroclimático.
Quanto mais ao sul do Brasil, a probabilidade da ocorrência de geada deve ser considerada, assim como a seca mais ao norte, como em Goiás e Mato Grosso, apresentando relação direta com a época de semeadura e a uniformidade no plantio.
Nos citados estados do Centro-Oeste, a disponibilidade de água no solo, nos estádios finais de desenvolvimento, em razão do inverno mais seco, também deve ser levada em consideração, já que tem relação direta com a altitude.
Quanto maior a altitude, mais amenas serão as temperaturas e, consequentemente, menores as perdas de água por evapotranspiração, permitindo semeaduras mais tardias (até fevereiro).
As sementes
A qualidade das sementes é outro fator de extrema importância, já que sementes de milho com maior vigor contribuem para a uniformidade de emergência e desenvolvimento das plantas, favorecendo a redução de tempo para o desenvolvimento inicial.
Assim, ficam menos suscetível às adversidades edafoclimáticas, além de contribuir par o manejo da cultura durante todo o ciclo, já que a uniformidade da lavoura favorece os tratos culturais e, principalmente, a uniformidade na colheita.
O atraso da germinação e da emergência favorece o ataque de sementes e de plântulas, respectivamente, de pragas, que por sua vez contribuem para a redução do desenvolvimento, assim como do diâmetro do colmo e das espigas, sendo essas menores ou até mesmo, em situações mais severas, inexistentes.
Desta forma, o tratamento de sementes deve ser considerado, tendo em vista que pode proteger o desenvolvimento inicial da cultura contra patógenos e condições edafoclimáticas adversas. Entretanto, a decisão de investir no tratamento de sementes deve ser pautada no monitoramento prévio da palhada e no histórico da área de cultivo.
Escolha do genótipo e espaçamento entrelinhas
O material genético deve ser levado em consideração, optando-se por aqueles adaptados às condições ambientais de safrinha. O ciclo é uma característica importante a ser considerada na escolha das cultivares, assim como adaptação e estabilidade produtiva regional, resistência às principais doenças, tolerância ao acamamento e quebramento de plantas, sincronismos entre o florescimento masculino e feminino, e maior sanidade de grãos e/ou sementes.
Há predomínio da utilização de híbridos simples, seguido pelos híbridos triplos e duplos. Geralmente, à medida que a semeadura é atrasada, menor será o potencial produtivo e maior o risco de perdas. Desta forma, deve-se reduzir os investimentos em cultivares e optar pelas de menor custo dentre as adaptadas regionalmente.
A produção da cultura do milho safrinha está muito relacionada com a densidade populacional e ao genótipo escolhido. Assim sendo, a redução do espaçamento entrelinhas obtido no milho verão não tem sido confirmada em todas as regiões produtoras de milho safrinha.
O espaçamento de 45 cm entrelinhas tem sido amplamente utilizado, dado o melhor aproveitamento das máquinas adubadora-semeadoras, utilizadas tanto para o milho como para a soja com a mesma configuração.
Aspectos fitossanitários
A ocorrência de plantas daninhas está diretamente ligada à uniformidade no plantio, já que apresenta a capacidade de competição entre a cultura e as plantas invasoras por nutrientes, água e luz, principalmente nas fases iniciais de desenvolvimento, germinação e emergência.
No entanto, durante todo o ciclo, a presença de plantas daninhas na lavoura apresenta influência na condução, no manejo e na produtividade da cultura.
Normalmente, o controle de plantas daninhas na safrinha é mais fácil do que na safra, em razão da menor infestação das invasoras neste período devido à menor pluviosidade no período. A menor disponibilidade de água e calor, principalmente nos estádios finais da cultura, fazem com que a reinfestação seja menor.
Técnicas recomendadas
Alguns herbicidas usados na cultura da soja apresentam efeito residual longo, o que pode causar prejuízos ao desenvolvimento do milho que é plantado em sucessão à soja. O milho safrinha é semeado em sua quase totalidade no sistema de sucessão à soja, em plantio direto, portanto, a dessecação é essencial para a condução de uma lavoura no limpo.
A mistura de glifosato mais o 2,4-D propicia um amplo controle de folhas largas; no entanto, para realizar o plantio e evitar fitotoxidez do 2,4-D para as plântulas de milho, é recomendado que o plantio ocorra uma semana após a dessecação da área, o que pode ser inviável, em virtude da busca por reduzir o período de estabelecimento da cultura.
O controle na cultura é feito quase sempre com herbicidas pós-emergentes, utilizando atrazina em mistura com óleo vegetal ou mineral e, dependendo das espécies predominantes, mistura-se com outros herbicidas. A redução da dose dos herbicidas pós-emergentes na safrinha em relação à safra normal tem sido possível.
Além disso, tanto os fatores abióticos (não infecciosos), como temperatura, estresse hídrico, toxidez por produtos químicos e deficiência nutricional, como os bióticos (infecciosos), a exemplo de fungos, bactérias, vírus e nematoides, têm sido capazes de ocasionar na cultura danos fisiológicos e doenças infecciosas, respectivamente, influenciando, por sua vez, a uniformidade no plantio.
Obstáculos ao sucesso da safrinha
A falta de rotação de culturas, o uso de cultivares com baixo nível de resistência e as condições de estresse, aliados às condições do ambiente mais favoráveis para a manifestação dos agentes causadores de doenças, determinam a maior incidência destas no milho safrinha.
Dessa forma, a ação preventiva de produtores rurais e engenheiros agrônomos pode amenizar a ação de patógenos, sendo recomendado praticar ações conjuntas para o manejo das doenças, como realizar a rotação de culturas e de genótipos, utilizar cultivares com diferentes níveis de resistência, além de realizar adequadamente o manejo cultural por meio de adubação equilibrada, assim como utilizar espaçamento e densidade de acordo com o material genético e o manejo a ser aplicado ao longo do ciclo fenológico do milho safrinha.
Vale ressaltar que a resistência genética é a principal forma de controlar doenças no milho, tendo como vantagens o aumento da produtividade, sem custo adicional ao produtor, a redução do impacto ambiental em razão da menor dependência de insumos químicos, como fungicidas, o decréscimo de doenças para lavouras vizinhas, reduzindo a população de patógenos, e a obtenção de produto final com melhor qualidade, tendo em vista que a qualidade sanitária é de suma importância na produção de produtos agropecuários.
Consolidação da cultura
A cada ano, a cultura de milho safrinha no Brasil vem conquistando lugar na produção, com aumento da área plantada, alcançando boa produtividade. Além disso, tem se consolidado como opção para o produtor obter maior rentabilidade.
Cultivado com grande expressividade na região centro-sul do Brasil, as melhores práticas incorporadas ao campo e à tecnologia têm facilitado a produção do milho safrinha, elevando o potencial econômico.
No entanto, vários fatores são capazes de influenciar a uniformidade no plantio da cultura, os quais devem ser cautelosamente avaliados por profissionais habilitados, a fim de não gerar desequilíbrios ambientais, além de possibilitar altas produtividades e contribuir para manutenção da viabilidade das áreas agrícolas por safras consecutivas.