A produção agrícola brasileira está sofrendo com o calor excessivo e pela seca que acontece na maioria das regiões do País. Os efeitos do estresse térmico e hídrico nas culturas depende da espécie, do estádio de desenvolvimento da cultura e duração da exposição das plantas ao estresse. Porém, algumas estratégias podem ser utilizadas pelos agricultores para maior tolerância das plantas ao estresse para aumentar a produtividade mesmo em condições ambientais adversas.
De acordo com Karla Martins, engenheira agrônoma, doutora em Fisiologia Vegetal e consultora de Desenvolvimento Técnico da ICL, o melhoramento genético das plantas se apresenta como uma das ações propostas para melhorar a tolerância das culturas às mudanças climáticas, estratégia que deve ser adotada no planejamento da safra. “Ainda, por meio do melhoramento tradicional, da seleção de cultivares com tolerância ao estresse e também da bioengenharia de planta, como a superexpressão de genes-chave envolvidos na tolerância ao estresse abiótico, é possível minimizar os impactos do clima”, explica Karla.
Práticas agrícolas já conhecidas pelos agricultores também estão entre as estratégias potenciais de manejo para melhorar a tolerância das culturas às adversidades climáticas como o manejo eficaz da irrigação, a utilização da cobertura vegetal do solo com palhada, a rotação de culturas e o sombreamento utilizando telas ou espécies arbóreas, reforça a engenheira agrônoma. A correção do solo e a nutrição equilibrada, atendendo às necessidades nutricionais da cultura ao longo do ciclo, também tem um papel fundamental no metabolismo da planta contribuindo para uma maior tolerância ao estresse. Nutrientes como o fósforo, cálcio, boro e zinco afetam o crescimento do sistema radicular.
“O potássio, por exemplo, influencia a abertura e o fechamento estomático e turgidez das células, enquanto os micronutrientes estão envolvidos na ativação de enzimas do metabolismo antioxidante. Em situações de estresse, ocorre a produção de espécies reativas de oxigênio e o acúmulo dessas moléculas danifica os componentes celulares, então, para se protegerem, as plantas dispõem de um mecanismo de defesa, que elimina essas substâncias que causam danos nas células, mantendo a integridade celular e o funcionamento do metabolismo da planta”, detalha Karla. Cobre, manganês, molibdênio, níquel e zinco são exemplos de micronutrientes ativadores dessas enzimas, potencializando a atividade das enzimas que estão envolvidas no metabolismo antioxidade, protegendo a planta dos efeitos negativos que o estresse pode ocasionar, permitindo uma maior tolerância das culturas mesmo em condições ambientais desafiadoras ao cultivo.
Outra estratégia de manejo a ser adotada é a utilização de micro-organismos benéficos, incluindo bactérias e fungos, que desempenham um papel significativo na tolerância das plantas ao estresse. “Ao colonizar o sistema radicular das plantas, algumas bactérias produzem substâncias que hidratam as raízes, formando um biofilme e também estimulando a produção de fitormônios que ajudam no crescimento das raízes mesmo em condições ambientais adversas”, destaca Karla.
A aplicação de biofertilizantes (extratos de algas, substâncias húmicas, aminoácidos, reguladores vegetais, nanopartículas) também aumenta a tolerância das plantas ao estresse por meio de diferentes mecanismos, como o estímulo ao crescimento das raízes, a ativação do metabolismo antioxidante, com o acúmulo de osmorreguladores, interferindo na regulação hormonal, potencializando a fotossíntese e a absorção de água e nutrientes.
“Todas as estratégias citadas acima podem ser adotadas e, quando bem utilizadas e adequadas ao manejo de cada fazenda, contribuem para o sucesso da produção agrícola, tendo um papel relevante no desenvolvimento sustentável da agricultura brasileira”, conclui Karla.