Ana Alves
Engenheira agrônoma e doutora em Fitopatologia ” AcadianSeaplants
André Luís Teixeira Fernandes
Engenheiro agrônomo, doutor em Engenharia de Água e Solo e pró-reitor de Pesquisa, Pós-graduação e Extensão da Universidade de Uberaba (UNIUBE)
O uso de algas marinhas na agricultura não é uma novidade; ao contrário, é relatado desde a antiguidade clássica, quando os romanos coletavam algas e as depositavam no solo ou junto a raízes de verduras.
Esse emprego de algas evoluiu junto à agricultura, iniciando com formas de levar as algas para plantios mais distantes das praias (como secagem e compactação), estudos dos componentes (principalmente polissacarÃdeos, como alginas) até a obtenção dos extratos de algas atuais (CRAIG, 2010).
De fato, o interesse tão antigo no uso de algas na agricultura se deve aos benefícios atribuÃdos a essas aplicações nas plantas, como o melhor desenvolvimento vegetativo, sobretudo de raízes (com destaque para as laterais e os pelos absorventes), e a maior tolerância a estresses abióticos (como seca e salinidade) e bióticos, reduzindo as perdas nessas situações (KHAN, 2009).
Recentemente foi demonstrado um efeito positivo do emprego de extratos de Ascophyllum nodosum na interação com microrganismos benéficos do solo, como as micorrizas (ALAM et al., 2012; KHAN et al., 2012). O maior vigor de plantas, associado à tolerância a estresses e à relação com microrganismos, tem ampliado o manejo sustentável dos cultivos, elevando a produtividade com melhor uso de recursos.
Vantagens para o cafeeiro
Como nas outras espécies, em cafeeiro também foram relatados benefícios do uso de extratos de algas no desenvolvimento vegetativo, tolerância a estresses e, claro, quanto à produção e qualidade desta cultura. Alguns desses benefícios foram avaliados ao longo dos anos em diferentes formas de aplicação e manejo, nos experimentos cientÃficos conduzidos no campo experimental Izidoro Bronzi, da Associação dos Cafeicultores de Araguari (ACA), em Araguari (MG).
Resultados
Como exemplo, podem ser citados ensaios em campo nos quais foram avaliados cafeeiros de acordo com o manejo hídrico. Grupos de plantas tratadas com o extrato de algas não foram irrigados normalmente, não irrigados ou irrigados com apenas a metade (50%) do volume de água necessário (ETc).
Os cafeeiros receberam uma primeira aplicação de extrato de A. nodosum via fertirrigação (2L/ha) e quatro aplicações foliares de 1,2L/ha. Nessa área, foi feita poda drástica (esqueletamento); como esperado, as plantas irrigadas apresentaram produção muito superior às não irrigadas.
Quando avaliada a média de três anos de ensaio, as plantas não irrigadas que receberam o extrato de algas apresentaram melhor produção que a média do controle (não irrigado). Assim, esses vegetais foram capazes de produzir em condições de limitação de água.
Quando comparadas as médias do controle irrigado e os cafeeiros tratados e irrigados normalmente ou com a metade da lâmina, também houve um aumento na produção (média de 40 a 45 sacas a mais por hectare nos três anos). As plantas irrigadas com a metade da lâmina que receberam o extrato de algas tiveram um incremento de produção semelhante às que foram irrigadas completamente.
Isso é um indÃcio de que a aplicação do extrato de alga leva à melhor eficiência do uso de água pelas plantas. Resultados semelhantes têm sido vistos em outras plantas perenes, como citros, que, em ensaio em mudas irrigadas também com 50% da ET, lograram bom desenvolvimento vegetativo (SPANN; LITTLE, 2011).
Os autores demonstraram que a tolerância está ligada a um sistema radicular mais vigoroso e a eventos bioquímicos, como ajuste osmótico mais rápido (que reduz as perdas de água) e atuação de compostos antioxidantes e de preservação de membranas presentes no extrato de algas.