Erick Santos
agroericksantos@gmail.com
Sabrina Gomes Monteiro
sabrinamonteiro.agro@gmail.com
Engenheiros agrônomos – Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)
Harleson Sidney Almeida Monteiro
harleson.sa.monteiro@unesp.br
Engenheiros agrônomos e mestrandos em Agronomia/Horticultura – Universidade Estadual Paulista (UNESP)
A nutrição adequada da manga não influencia apenas o rendimento da colheita, mas também afeta diretamente características como tamanho, cor, sabor e teor de nutrientes dos frutos.
Nesse contexto, estratégias de fertilização e o uso de tecnologias que visam uma nutrição equilibrada são fundamentais para assegurar a saúde das mangueiras e a qualidade dos frutos produzidos.
Deficiências nutricionais
No que diz respeito às deficiências nutricionais que acometem as mangueiras, os macronutrientes são aqueles que possuem maior exigência pela planta, no entanto, não atuam sozinhos, já que se associam aos micronutrientes, esses com menos exigências, para o metabolismo vegetal.
Dentre os micronutrientes que atuam no desenvolvimento vegetativo e reprodutivo da espécie, o boro (B) e zinco (Zn) são associados a diversos distúrbios nas plantas e frutos, quando ambos se encontram em carência na planta.
Nesse sentido, os sintomas das deficiências de boro ocorrem na parte jovem da planta, manifestando-se em nível mais crítico com a morte da gema apical, devido à excessiva brotação de gemas laterais com ramos secundários que lembram formato de “tufos”.
Nos sintomas de deficiência de zinco, percebe-se a má formação de folhas, como a redução da área foliar – encurtamento, engrossamento e inflexibilidade – e quando se analisa os ramos, é característico a baixa quantidade de brotação com internódios curtos, o que resulta no menor crescimento da planta.
Tais sintomas têm uma grande importância na fruticultura, pois prejudicam a formação da planta e, consequentemente, sua atividade fisiológica, impactando diretamente a produção de frutos.
A planta dá sinais
Entre os sintomas, tem-se o encurtamento dos entrenós, aumento da espessura do limbo foliar, enrolamento das folhas e distúrbios na ponta e bordas, clorose nas margens e aparência irregular de frutas.
A deficiência de zinco e boro em mangueiras pode afetar a formação de hormônios de crescimento e desenvolvimento dos tecidos vegetais, resultando na má formação de flores e crescimento limitado de frutas normais e aptas aos padrões de exigências de mercado.
No desenvolvimento reprodutivo, os sintomas da carência de B se dá nas panículas florais, que têm o seu tamanho reduzido, além de diminuir o número de flores hermafroditas, retendo menos frutos do que mangueiras supridas adequadamente com boro.
Já a insuficiência de Zn é associada à malformação floral denominada de “embonecamento” e “vassoura de bruxa”, por conta da emissão de panículas pequenas com formatos irregulares, múltiplas e deformadas na planta.
Os sintomas mencionados pelos respectivos nutrientes: B e Zn, são de grande importância na fruticultura, já que retardam a produção de frutos, atuam no desenvolvimento vegetativo e reprodutivo da mangueira.
Comece pelo laboratório
Os resultados de amostragens coletadas e analisadas em laboratórios são essenciais para representação e especificidades das condições reais das plantas em campo no quesito de verificação e identificação de possíveis deficiências, sendo estas ferramentas precisas para avaliação do status nutricional de micronutrientes como zinco, boro, além de índice de pH e outros elementos essenciais.
O estudo da fertilidade do solo advém do monitoramento em conjunto da análise de solo e da análise foliar, em que ambos, em conjunto, discriminam a condição da planta em um determinado nível nutricional.
Os cuidados a serem tomados no processo da avaliação foliar começam por realizar coletas na fase de pré-indução a fim de evitar contaminações, assim como utilizar plantas que não tenham sido adubadas, pulverizadas ou após períodos intensos de chuvas, com intuito de não comprometer a análise.
O processo de análise foliar é de suma importância para o planejamento de ações. É por meio da diagnose foliar que se tem um planejamento de correção e adubação da área produzida.
Devido a isso, deve-se realizar o processo por etapas, onde nenhuma recomendação de calagem ou adubação é implementada sem pelo menos ter o conhecimento prévio da disponibilidade de nutrientes do solo.
A análise de solo e de folhas torna possível o estabelecimento de um programa de adubação, com objetivo da maior produção e qualidade dos frutos.
Riscos
Na ausência de um planejamento adequado e da observância das etapas mencionadas, como adubações com doses elevadas de fósforo, há o risco de redução da disponibilidade de zinco e outros micronutrientes no solo.
Em algumas situações, essa deficiência pode ser corrigida por meio da aplicação foliar. Quanto à disponibilidade de nutrientes no solo, essa está intrinsecamente relacionada à extração e exportação desses elementos.
O primeiro é responsável pela quantidade total de um nutriente disponível para absorção pela mangueira, enquanto o segundo representa a quantidade efetivamente retirada pelo produto da produção.
Nesse contexto, refere-se à quantidade necessária de nutrientes para a produção dos frutos. No geral, os teores médios de nutrientes na polpa da manga obedecem à seguinte ordem decrescente (K > N> P> Mg> Ca > Na) para macronutrientes e (Fe > Mn > Zn > Cu) para micronutrientes.
Na casca, os nutrientes apresentam sequência diferente daquela observada na polpa, (N > K > Ca > Mg > P > Na) para macronutrientes e (Mn > Fe > B > Zn > Cu) para micronutrientes.
Manejo
Dentre os métodos de manejo do solo, destacam-se práticas como a aplicação de fertilizantes formulados com zinco e boro, adubações orgânicas e ajuste de pH. Na correção de deficiências de nutrientes, é essencial compreender esse processo como uma série de etapas.
Isso inclui a correção da acidez do solo e a disponibilidade de bases trocáveis (Ca e Mg) por meio da calagem, seguindo as fases indispensáveis de manejo de adubação: plantio, formação e produção.
No âmbito da correção de deficiências de micronutrientes, a adubação foliar é uma prática comumente empregada na produção de frutíferas, sendo complementada pela aplicação de fertilizantes via solo, baseada nos resultados de análises de solo e foliar.
O manejo da fertirrigação surge como uma alternativa viável para a disponibilidade de micronutrientes, porém, é crucial compreender a dinâmica desses elementos no solo e na planta.
Micronutrientes como Zn, Fe, Cu e Mn podem reagir com os sais da água de irrigação, resultando em precipitação e entupimento dos emissores. Para prevenir esses problemas, a aplicação na forma de quelatos, que solubilizam facilmente, é recomendada.
Na aplicação via irrigação localizada, é aconselhável utilizar doses reduzidas de micronutrientes devido ao volume de solo irrigado ser pequeno, evitando dosagens convencionais que poderiam ser fitotóxicas.
Isso é especialmente válido para nutrientes como o boro, que, devido à sua fácil lixiviação, beneficia-se da prática de parcelamento na aplicação.
Papel do cálcio
O cálcio desempenha um papel fundamental na formação e estabilidade das mangueiras em campo, influenciando a absorção e movimento de outros nutrientes, assim como o desempenho em respostas a estresses hídricos e a resistência a doenças.
O cálcio, presente no calcário e gesso, eleva o nível de pH, favorecendo a aeração e drenagem do solo, proporcionando um meio menos ácido propício para o crescimento e desenvolvimento da cultura.
A disponibilidade de cálcio advém da correção do solo, sendo fornecido indiretamente à planta como nutriente e base trocável para a correção de acidez, em conjunto com o magnésio.
Nesse contexto, o cálcio é o nutriente mais exigido pela mangueira, desempenhando papel crucial na assimilação do nitrogênio e transporte de carboidratos e aminoácidos. Além disso, possui uma função estrutural nas membranas e paredes celulares de todas as partes vegetais, com destaque para os frutos.
Estes apresentam uma demanda elevada desse nutriente para manter a consistência da polpa durante o amadurecimento, resultando em frutos mais firmes, com melhor aparência, maior resistência a impactos de manuseio/transporte e prevenção do distúrbio fisiológico conhecido como colapso interno da polpa.