Gabriela Miranda
Agrônoma e responsável pelas compras da Diferente. Formada pela UNESP – Botucatu, possui vivência em diversos setores da agronomia como horticultura, produção de grandes culturas (milho e soja), manejo integrado de pragas e P&D.
O ato de planejar uma atividade é um movimento sensato para praticamente qualquer tarefa humana. Somente a partir desse pensamento estratégico antecipado que é possível garantir as melhores condições de uma ação tendo em vista o menor custo de tempo e monetário possíveis, além de evitar riscos desnecessários. No caso do plantio na agricultura, o trabalho conta com tantas variáveis que é possível dizer que é praticamente impossível conseguir atuar de uma maneira eficaz sem um ótimo planejamento por trás.
Digo isso porque o mercado de verduras, legumes e frutas no Brasil está cada vez mais competitivo e exigente para os agricultores, principalmente para aqueles de pequeno porte, que são responsáveis por 70% da produção nacional. Dessa forma, é preciso que os produtores estejam atentos às circunstâncias que podem afetar a produtividade ou qualidade da lavoura.
Dentre os itens que necessitam figurar nesse planejamento estão: adubação, poda, controle de pragas e plantas daninhas, tudo isso vai impactar diretamente no custo e na rentabilidade da produção (compra de produtos, mão de obra, tempo desprendido). Além disso, devemos considerar as condições climáticas – condicionado principalmente pela estação do ano -, a alimentação da população, a qualidade do solo e sementes, o tempo necessário para a colheita, a mão-de-obra necessária e a logística de trabalho.
Um exemplo prático disso é como a variação da estação do ano impacta diretamente no plantio. No inverno, por exemplo, o consumo de verduras e legumes acaba diminuindo muito por conta da cultura alimentar brasileira no período. Se um agricultor não levar esse ponto em consideração no momento de estruturar a lavoura, acabará perdendo produtos, ocasionando prejuízos financeiros graves. Por outro lado, o verão apresenta outros tipos de desafios, como o clima instável e as suas típicas chuvas torrenciais. No caso da agricultura orgânica, é preciso ressaltar ainda o pouco investimento feito no maquinário, fator que resulta em mais complicações devido ao forte calor na época.
Soma-se a isso o fato dos agricultores também precisarem tomar conhecimento das condições climáticas no momento de escolher as opções de plantio em cada estação. Para isso, o aconselhável é, novamente, realizar um planejamento prévio, sendo ideal uma programação anual nos casos das frutas e semestral pensando nas verduras. Esse trabalho é fundamental, pois o setor varejista acaba se regulando por esse mesmo contexto para realizar o abastecimento dos itens.
Portanto, para evitar que a safra não seja totalmente comercializada, é importante que o produtor busque compradores com o mesmo zelo utilizado na hora de escolher os fornecedores mais capazes de atender às suas necessidades para o plantio. Sendo assim, encontrar parceiros de credibilidade que façam compras fixas e constantes dos alimentos é o ideal, uma vez que isso traz rentabilidade do negócio e uma estrutura financeira equilibrada para planejar a próxima lavoura.
Felizmente, uma grande notícia para o mercado é que hoje já há empresas que adquirem os alimentos considerados “fora do padrão comercial”, caso daquelas frutas com a casca um pouco danificada, mas que conseguem manter 100% dos nutrientes. Sem dúvida, esse tipo de modelo de negócio é um grande alento para pequenos e médios agricultores familiares – segmento que possui maior dificuldade de escoar toda a produção por conta das intempéries relacionadas ao clima e também de logística.
A verdade é que um planejamento bem estruturado é fundamental para auxiliar o produtor não só a evitar perdas, mas também a se profissionalizar e alcançar uma maior lucratividade em seu negócio. A otimização da agricultura não é um movimento que veio apenas favorecer o campo, mas também o segmento varejista e os consumidores em geral.