Por Paula Cristiane Oliveira Braz, administradora e especialista em agronegócios.
As explosões de silos em Palotina, no Paraná, chamaram a atenção para esse tipo de incidente que não é incomum, devido aos riscos associados à armazenagem de grãos, incluindo soterramento por grãos, incêndios e explosões. O milho, quando fermentado, pode liberar calor e um cheiro azedo, ao longo do dia, e os trabalhadores podem não perceberem. Há também o risco de explosões, devido a poeira fina gerada pelo transporte de grãos, em que uma fagulha ou o atrito podem gerar o potencial explosivo.
Para garantir a segurança, detectores específicos são essenciais e o Brasil possui normas e regulamentações que estabelecem a necessidade de tais dispositivos, para garantir a segurança dos trabalhadores nestes ambientes. Porém, como estamos em um momento de alta produção, são contratados funcionários terceirizados, que podem não estar familiarizados com os protocolos rígidos de segurança.
Apesar dos atuais recordes na produção de grãos, o setor enfrenta desafios relacionados à infraestrutura de armazenagem a cada safra. O Brasil é um importante produtor e exportador de grãos, e a região do Centro-Oeste desempenha um papel fundamental nesse cenário, sendo uma das principais áreas agrícolas do país, responsável por uma significativa parcela da produção de soja, milho e algodão. Nesse contexto, a infraestrutura de armazenamento desempenha um papel crucial para garantir que a produção agrícola seja devidamente conservada, evitando perdas e possibilitando o armazenamento temporário até a comercialização.
De acordo com informações da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), o país alcançou recordes na safra de milho, mas a soja ainda ocupa 20% dos silos, também devido ao aumento da produção, principalmente, nos estados de Mato Grosso e Bahia, onde as condições climáticas favoráveis contribuíram para o sucesso das colheitas.
O problema crônico de déficit de armazenagem no país piora a cada safra. Estima-se que esse déficit gira em torno de 124 milhões de toneladas em 2023. Embora existam programas governamentais destinados a incentivar o investimento em armazenagem, como o Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA) e o Plano Safra, a burocracia e a falta de recursos suficientes ainda são obstáculos significativos. Para construir novas unidades armazenadoras, é necessário passar por processos de licenciamento, que podem ser demorados. A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) estima que o Brasil necessitaria investir R$ 15 bilhões, anualmente, em armazéns para dar conta do aumento da produção agrícola.
A falta de silos de armazenamento pode representar um desafio significativo para o setor agrícola, especialmente durante os períodos de superprodução. Quando a produção excede a capacidade de armazenamento disponível, acidentes como o ocorrido essa semana são mais propícios, além da dificuldade que os agricultores enfrentam para armazenar e vender suas safras a preços favoráveis. O investimento em infraestrutura de armazenamento é fundamental para garantir a segurança alimentar, o escoamento eficiente da produção e a estabilidade econômica do setor agrícola brasileiro.