Autores
Ronaldo Machado Junior
Engenheiro agrônomo, mestre em Fitotecnia e doutorando em Genética e Melhoramento – Universidade Federal de Viçosa (UFV)
ronaldo.juniior@ufv.br
Rebeca Lourenço de Oliveira
Engenheira agrônoma, mestre em Fitotecnia e doutoranda em Genética e Melhoramento – UFV
rebecalourencoo@gmail.com
A aboboreira (Cucurbita moschata Duch.) foi domesticada na América Latina, embora não se tenha conhecimento do local específico. Considerada tipicamente tropical, é cultivada predominantemente nas zonas de baixa altitude de clima quente com alta umidade. No entanto, possui espécies em regiões de semideserto e sub-temperadas.
A abóbora é um dos vegetais mais consumidos pelos brasileiros. Também é exportada para os países da Europa, fazendo com que a atividade seja lucrativa e estável. Pode ser utilizada para fins industriais, alimentícios e medicinais.
Possui alto valor nutricional, sendo fonte de fibras, sais minerais e vitaminas do complexo B e C, com destaque para os carotenoides provitamina A, especialmente β-caroteno, α-caroteno e luteína, tornando-se uma hortaliça fruto com alta eficiência na redução de deficiências nutricionais em humanos devido às suas qualidades nutricionais, além de grande aceitabilidade por parte das populações consumidoras.
Atualmente, a população vem se preocupando em consumir alimentos que possuam maior efeito benéfico à saúde, como fonte de nutrientes, prevenção de doenças de forma aliada a questões ambientais e segurança alimentar.
As sementes de abóbora são importante fonte de lipídios, proteínas, fibras tiamina, niancina e micronutrientes, sendo consumidas em vários países de forma tostada, caramelizada e como matéria-prima para produção de biscoitos, bolos, pães ou para produção de óleo, que por sua vez pode ser comestível, temperos para saladas em função de seu aroma e sabor característicos, ou ainda incorporada a matrizes energéticas na forma de biocombustíveis.
Este óleo dispõe de diversos efeitos benéficos à saúde humana, como inibidor da hiperplasia da próstata, redutor de problemas relacionados à hipertensão, atua na redução dos níveis de câncer de mama, pulmão, estômago e colorretal, e na medicina popular são utilizadas como vermífugo, devido ação anti-helmíntica.
Devido ao alto valor nutritivo, boa estabilidade oxidativa e sua propriedade sensorial muito agradável, o óleo de semente de abóbora está se tornando cada vez mais popular. A torta proveniente do processo de extração do óleo é considerada potencial alimento para animais devido ao seu elevado teor proteico, propriedades funcionais ou utilizada como fertilizante.
Plantio orgânico
O cultivo da abóbora possui dispersão cosmopolita, devido principalmente à ampla disponibilidade por todo ano, boa adaptabilidade às condições ambientais, boa aceitação de consumo, possibilidade de expansão de área de plantio, facilidade de produção e versatilidade de cultivo, podendo ser cultivada no sistema convencional ou orgânico.
Atualmente, a cultura da abóbora orgânica vem sendo difundida por todo o Brasil, virando a preferência nacional. Além disso, a abóbora orgânica tem como vantagem não possuir insumos agrícolas ou produtos químicos em sua composição. Seu desenvolvimento é livre de agrotóxicos.
O cultivo da abóbora deve ser realizado preferencialmente em solos profundos, bem estruturados e drenados, que tenham topografia plana a levemente ondulada. O solo ideal é o areno-argiloso, fértil, rico em matéria orgânica e com pH entre 5,5 a 6,8.
Para a boa polinização e maior pegamento de frutos deve-se escolher uma área protegida dos ventos dominantes e, quando possível, inserir no ecossistema insetos polinizadores. É recomendado que se faça a rotação de culturas, evitando o plantio em áreas onde, nos dois últimos anos, foram cultivadas outras cucurbitáceas e solanáceas.
A análise do solo deve ser feita com antecedência para a recomendação adequada da correção da acidez e da adubação orgânica. O preparo do solo inicia cerca de dois meses antes do plantio, realizando atividades como incorporação da matéria orgânica, principalmente se o adubo orgânico utilizado for esterco de animais e, quando necessário, a correção de pH por calcário.
Plantio por mudas
Tradicionalmente, a abóbora pode ser plantada diretamente nas covas, ou por meio de mudas formadas em sementeiras. Entretanto, para sistemas orgânicos de produção, em que o convívio com a vegetação nativa é uma constante, torna-se mais recomendável adotar o método de plantio por mudas para um crescimento inicial mais rápido da cultura.
Para a obtenção das mudas, o semeio deve ser realizado em recipientes com capacidade de ± 200 cm³ de volume de substrato, utilizando-se substrato de boa qualidade. As mudas são transplantadas quando tiverem de duas a três folhas definitivas. O sistema diminui as falhas no campo, melhora a uniformidade e permite um melhor manejo das pragas, doenças e plantas espontâneas, além de ser mais barato.
Dependendo das condições do terreno, deve-se decidir sobre a necessidade de preparo mecânico do solo por meio de aração e gradagem. Em áreas com pouca vegetação nativa, pode-se proceder a limpeza da área e a abertura de covas diretamente. Em solos com alta incidência de plantas invasoras, é indicado efetuar uma aração com, no mínimo, uma semana de antecedência ao plantio.
Daninhas
Quando houver grande infestação de plantas invasoras, é recomendada a capina manual ou apenas o coroamento das plantas e roçadas leves no restante da área, reduzindo a competição de água, nutrientes e luz entre a cultura e ervas daninhas, as quais também podem ser hospedeiras de pragas e doenças.
Adubação
Na adubação orgânica pode ser usado o composto orgânico (7,5 t/ha), esterco de curral curtido (20 a 30 t/ha) ou outra fonte orgânica compatível com as normas técnicas de produção. Recomenda-se aplicar 2/3 desta adubação na cova de plantio, misturando o adubo orgânico com a terra e 1/3 em cobertura, ao redor das plantas, aos 45 dias após plantio.
Irrigação
No início do ciclo, as plantas são exigentes em água, havendo a necessidade de irrigação, visto que as raízes ainda são superficiais e o armazenamento na superfície é praticamente nulo. A deficiência de umidade, associada às temperaturas elevadas no solo ou no ar, provoca déficit hídrico.
Principais pragas e doenças
Em relação às pragas, destacam-se a broca dos frutos, pulgões e mosca-branca. A broca perfura o fruto próximo ao botão floral, causando o apodrecimento. Para o manejo da broca recomenda-se utilizar iscas atrativas, como por exemplo, a abobrinha italiana, que também atrai a vaquinha, especialmente no início do desenvolvimento das plantas, e pulverizações semanais com inseticidas biológicos a partir do início da frutificação.
Os pulgões formam colônias na parte de baixo das folhas sugando a seiva e transmitindo viroses. O manejo deve ser realizado por meio de preparados à base de plantas, tais como pimenta, alho, cebola, losna, confrei, entre outros.
A mosca-branca causa danos diretos e indiretos, com a sucção da seiva e transmissão de vírus, respectivamente. O controle pode ser feito por meio de inseticidas biológicos.
A doença que mais ataca a cultura é causada pelo oídio, que é um fungo que se desenvolve nas folhas, hastes e frutos, apresentando uma formação semelhante ao ‘pó de giz’, espalhando-se por toda a superfície da folha. A doença é favorecida por baixa luminosidade ou luz difusa, clima seco e frio, com umidade relativa do ar entre 40 a 60% e temperatura em torno de 20 a 25ºC.
No cultivo orgânico recomendam-se pulverizações, preferencialmente com leite de vaca cru na concentração de 10 a 15%, mesmo após o início da infecção no campo ou produtos à base de enxofre.
Para as demais doenças foliares, como o míldio, mancha zonada e antracnose, recomendam-se pulverizações preventivas com calda bordalesa (0,3% no início do desenvolvimento das plantas e 0,4 a 0,5%, após o florescimento), no intervalo de sete a 15 dias.
Devido à maior atividade das abelhas na polinização pela manhã, recomenda-se pulverizar, quando necessário, sempre na parte da tarde.
Dicas para controle de pragas e doenças
] Escolher área arejada, com muita luminosidade e bem drenada;
] Realizar adubação correta e balanceada;
] Realizar rotação de culturas na área e evitar plantações muito próximas;
] Estabelecer barreiras de quebra-vento para evitar danos à plantação;
] Atentar-se à qualidade da água utilizada na irrigação.
Colheita
A colheita da abóbora deve ser realizada quando os frutos apresentarem sinais característicos de amadurecimento, o que se verifica por coloração, firmeza e textura de casca. O padrão de mercado da abóbora Tetsukabuto, por exemplo, é o peso unitário, variando de 2,0 a 2,5 quilos e diâmetro de 18 a 20 cm.
Recomenda-se que as abóboras sejam colhidas com talos para que terminem o amadurecimento de forma saudável e a polpa não fique exposta. Apesar de robustas, as abóboras exigem maior atenção no momento da colheita, portanto, o processo deve ser feito de forma manual e respeitando-se o tempo necessário de desenvolvimento.
BOX
Análise de mercado
O preço da abóbora produzida em sistema orgânico é um dos atrativos para os produtores, podendo ser de duas a quatro vezes mais valorizada que a mesma cultivada em sistema convencional.
De modo geral, a agricultura orgânica brasileira, ainda que tenha alcançado avanços no quantitativo atual de 10.694 mil produtores, por natureza é constituída, em grande parte, por pequenas propriedades rurais, sendo a maioria de agricultores familiares que convivem com várias dificuldades de burocratização, falta de informação, pesquisas e estatísticas, além de distribuição ineficiente, venda restrita para produtos sem certificações e planejamento inadequado.
Nesse sentido, a formação de grupos associativos e cooperativos fortalece o setor e reforça a busca por soluções e melhorias junto aos agentes públicos.