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Ácidos húmicos diminuem bienalidade do cafeeiro

Crédito Omar Rocha
Crédito Omar Rocha

O solo é um sistema vivo onde coexistem inúmeros organismos dependentes de matéria orgânica para suprir suas necessidades de energia e nutrientes. A origem e a qualidade da matéria-prima que origina as substâncias húmicas são de fundamental importância na relação final entre os ácidos orgânicos e os componentes minerais, químicos e biológicos do solo, promovendo melhores e mais estáveis interações, com influências diretas na produção e qualidade das produções agrícolas.

Durante a decomposição da matéria orgânica no solo, diversos compostos, dentre eles os ácidos húmicos, são produzidos e atuam diretamente sobre a textura, aeração, umidade, pH, CTC e a disponibilidade dos nutrientes presentes no solo, favorecendo o desenvolvimento das culturas.

As substâncias húmicas também participam de importantes reações que ocorrem nos solos, influenciando a fertilidade pela liberação de nutrientes, pela detoxificação de elementos químicos, pela melhoria das condições físicas e biológicas e pela produção de substâncias fisiologicamente ativas.

Guilherme Canella, doutor e professor do Instituto Federal de São Paulo, afirma que existe uma centena de trabalhos demonstrando que as substâncias húmicas podem influenciar na acumulação de nutrientes e no crescimento vegetal.

Os efeitos das substâncias húmicas sobre o metabolismo das plantas foram resumidos por Nannipieriet al. (1993) como resultado da influência positiva sobre o transporte de íons facilitando a absorção, o aumento da respiração e da velocidade das reações enzimáticas do ciclo de Krebs, resultando em maior produção de ATP, aumento no conteúdo de clorofila, na velocidade e síntese de ácidos nucleicos; o efeito seletivo sobre a síntese proteica; o aumento ou inibição da atividade de diversas enzimas.

Fontes de ácidos húmicos

Industrialmente, a turfa e a leonardita são as fontes comumente utilizadas para a extração de ácidos húmicos. Diversos trabalhos apontam que a utilização de ácidos húmicos oriundos de leonardita apresentam melhores resultados agronômicos, porse tratar de um minério de lignitos altamente oxidados, ricos em ácidos húmicos e fúlvicos.

Para o café

Na cultura do café, vários trabalhos têm comprovado a eficiência da aplicação de ácidos húmicos e fúlvicos, associados ou não aos aminoácidos, aplicados via foliar e no tratamento de sementes, em mudas de café arábica.

Trabalhos realizados na Cooperativa Café Poços (variedade Catuaí Amarelo), Ipanema Agrícola (variedade Bourbon), Cooparaíso (variedade Obatã) e em outros cafeicultores do Sul de Minas, têm demonstrado resultados surpreendentes quanto aos ganhos de desenvolvimento dos sistemas radiculares das mudas tratadas com ácidos húmicos e fúlvicos, segundo o engenheiro agrônomo Jairo Lang, especialista em nutrição de plantas.

Mas, não apenas em mudas, há relatos de ganhos agronômicos na cultura do café com a aplicação de formulações contendo ácidos húmicos e fúlvicos. Em seus trabalhos realizados com as variedades Catuaí, Mundo Novo e Bourbon, em plena produção, o professor Guilherme Canella também obteve ganhos de produtividade entre 10 e 18%, realizando aplicações na pré e pós-florada.

Crédito Rafael Rocha
Crédito Rafael Rocha

Segundo este mesmo pesquisador, as aplicações de ácidos húmicos e fúlvicos, associados a uma boa fonte de aminoácidos, após anos de grande produção podem amenizar a bianuidade do cafeeiro. “A bianuidade pode ser atenuada pela aplicação de ácidos húmicos e fúlvicos quando o cafeeiro está lançando novas folhas, na pré e pós-florada“, afirma Guilherme Canella.

Em mudas de café conilon, Gomes &Thomazini (2010), trabalhando com aplicações de ácidos húmicos provenientes de Leonardita, em associação com fontes solúveis de fósforo, observaram uma redução no tempo de formação das mudas de 22 dias, em média. Mudas de café conilon apresentaram um sistema radicular bem mais pronunciado e com maior número de radicelas, em comparação com as mudas formadas sem a presença de ácidos húmicos.

Dosagem

“Em lavouras de café, a aplicação de 40 a 60 L/ha de ácidos húmicos provenientes de leonardita tem promovido um crescimento vegetativo dos brotos de até 20cm a mais, em comparação com plantas cultivadas sem a adição de ácidos húmicos. Neste mesmo experimento, em Itaguaçu (ES), diferenças significativas também foram observadas no crescimento das raízes das plantas onde foram aplicadas as dosagens de ácidos húmicos“, afirma Guilherme Gomes.

Mais vantagens

Outra vantagem associada à utilização de ácidos húmicos é o menor ataque de pragas, principalmente da mosca-branca e nematoides, em diversas culturas.

Os ganhos de produtividade e de qualidade obtidos com a utilização das substâncias húmicas fizeram com que os produtores das demais regiões produtoras de café do mundo adotassem esta tecnologia quase que na totalidade de seus plantios, há dezenas de anos.

No entanto, no Brasil a aplicação de ácidos húmicos e fúlvicos foi introduzida há pouco tempo e ainda não está consagrada entre os produtores. “Como podemos observar, atualmente estão disponíveis algumas tecnologias que permitem aos produtores de café atingir níveis mais altos de produção e de qualidade do café. No entanto, é muito importante que os produtores se conscientizem da necessidade de realizar uma avaliação técnica criteriosa no momento da compra dos insumos. O fator econômico não deve ser preponderante na escolha do fertilizante. O fertilizante mais caro que existe é aquele que não traz retorno ao produtor“, finaliza Guilherme Canella.

Essa matéria você encontra na edição de abril 2017 da revista Campo & Negócios Grãos. Adquira já a sua.

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