Nilva Teresinha Teixeira
Doutora em Nutrição de Plantas e professora de Bioquímica, Nutrição de Plantas e Engenharia Agronômica – UNIPINHAL
nilva@unipinhal.edu.br
O emprego de tecnologia na agricultura vem em uma crescente no Brasil e no mundo, com o objetivo de aumentar a produtividade, melhorar a qualidade do produto e preservar o meio ambiente e a saúde de quem cultiva e de quem consome.
Entre as ferramentas que podem ser empregadas estão os chamados ácidos húmicos e fúlvicos, que beneficiam os atributos de solo e a fisiologia e o metabolismo das plantas, estimulando o desenvolvimento de raízes e da parte aérea, tanto a parte vegetativa como a reprodutiva, com possibilidades, então, de beneficiar a quantidade e qualidade produzida.
Mas, o que são os ácidos húmicos e fúlvicos?
São substâncias produzidas pela ação de microrganismos sobre sedimentos orgânicos. Representam os produtos finais da decomposição da matéria orgânica, constituindo o que se chama de substâncias húmicas, que compõem a humina, ácidos húmicos e fúlvicos. Das três frações, as duas últimas são os ativos no solo e nas plantas.
Os fúlvicos contêm maior porcentagem de compostos fenólicos e de grupos carboxílicos e menor de estruturas aromáticas que os húmicos, o que lhes confere maiores solubilidade em água e Capacidade de Troca Catiônica.
Os ácidos húmicos são de coloração escura, solúveis em ácidos minerais e solventes orgânicos. Apresentam alto peso molecular e Capacidade Troca de Cátions (CTC). Já os ácidos fúlvicos são solúveis em água, soluções ácidas e alcalinas, com peso molecular menor que os ácidos húmicos.
Os ácidos húmicos e fúlvicos se apresentam com partículas de dimensões coloidais, e assim influenciam os atributos físicos, químicos e biológicos do solo.
Promovem a agregação das partículas do solo, melhorando sua estrutura, o que beneficia solos arenosos e muito argilosos, aumentando a aeração e retenção de água. Também propiciam maior resistência à erosão devido às suas partículas coloidais, que são capazes de formar uma emulsão em contato com a água.
Também participam da Capacidade de Troca de Cátions (CTC), visto que contribuem para a formação de cargas negativas do solo (apresentam na constituição grupos fenólicos e carboxílicos dissociados, o que gera cargas negativas) aumentando, portanto, a capacidade de retenção de nutrientes.
São compostos que se apresentam com bom poder tampão. Colaboram, portanto, na resistência do solo à variação de pH, tamponando-o.
O que eles fazem
Como se citou, os ácidos em referência contam com a presença de cargas negativas que podem complexar o alumínio e outros elementos metálicos, como o ferro, manganês, etc., e partículas de herbicidas, diminuindo os potenciais prejuízos que eles podem provocar às plantas.
Aumentam a disponibilidade de fósforo no solo, o que ocorre devido a sua capacidade de complexar o Fe+2 e Al+3 em solos ácidos e do Ca+2 em solos alcalinos. Também promovem redução de perdas de nitrato, melhoram a dinâmica do nitrogênio amoniacal: são materiais ácidos, o que estimula a conversão da amônia em amônio, proporcionando menores perdas do nitrogênio por volatilização.
Os atributos microbiológicos do solo são, também, contemplados: quando adicionado ao solo, incorpora carbono, que é matéria-prima para o desenvolvimento dos microrganismos e proporciona substâncias análogas aos hormônios vegetais, estimulando o desenvolvimento radicular das plantas.
A melhoria das propriedades físicas dos solos, como as proporcionadas na estrutura e porosidade, e consequente aeração e armazenamento de água, também influenciam positivamente a atividade dos microrganismos de solo, que proporcionam substâncias que ativam a fisiologia das raízes.
Metabolismo
Os ácidos húmicos e fúlvicos também influenciam beneficamente o metabolismo das plantas: aumentam as taxas fotossintética e respiratória, dois processos fundamentais para os vegetais.
Melhoram a germinação das sementes e a defesa vegetal contra estresses bióticos e abióticos. A síntese das auxinas pode ser estimulada em presença dos ácidos em apreço, o que causa maior desenvolvimento das raízes, por meio de aumento da divisão celular e alongamento das células, provocando o desenvolvimento maior de raízes laterais, o que condiciona maior aproveitamento do solo, da água e de nutrientes.
Assim, quando os referidos ácidos são aplicados via solo no plantio, devido aos papéis importantes nos atributos físicos, químicos e biológicos do solo e na fisiologia vegetal, promovem maior divisão das células radiculares, levando maior desenvolvimento de raízes laterais, melhorando a arquitetura delas, favorecendo a exploração do solo, de água e de nutrientes.
Enraizamento
Especificamente em relação ao sistema radicular, os ácidos húmicos e fúlvicos estimulam a formação de maior número de raízes secundárias (laterais ), proporcionando às plantas melhor fixação no solo e aproveitamento da água e nutrientes.
A inclusão de tais insumos nos cultivos acarreta acréscimo nas taxas de crescimento radicular, de massa fresca e seca e formação de pelos radiculares e de raízes laterais finas, levando ao aumento da área superficial e comprimento do sistema radicular.
Além disso, os benefícios propiciados pelos ácidos húmicos e fúlvicos nos microrganismos do solo podem auxiliar no desenvolvimento radicular. Tais organismos produzem compostos com ação semelhante aos fitohormônios, que induzem a divisão e crescimento celular.
Recomendações
Os ácidos húmicos e fúlvicos podem ser aplicados no solo, quando apresentam efeito condicionador, e bioestimulante via aérea. Qualquer das duas formas de aplicação se apresentam como meios de melhorar o desenvolvimento vegetal, resistência ao estresse, floração, frutificação e produção.
Entretanto, quando se pretende ação sobre as raízes, o tratamento de sementes ou a aplicação no solo (por exemplo, por fertirrigação ou pulverização no sulco de plantio) são opções acertadas.
Assim, a germinação de sementes, o enraizamento das plântulas e das mudas e a formação de raízes laterais serão estimuladas.
Ora, as raízes são as responsáveis principais pela absorção dos nutrientes pelas plantas. Raízes bem formadas proporcionam aos vegetais melhor nutrição, o que resultará em maior produtividade.