Marcio Luiz Moura Santos
Engenheiro agrônomo e doutorando em Tecnologia de Aplicação – UNESP/FCA
O potencial produtivo das culturas pode ser influenciado por problemas fitossanitários. Por exemplo, em culturas como a (Glycine Max L. Merrill), a principal cultura em área plantada do País, o controle de doenças que acometem a lavoura ao longo da safra faz parte do manejo obrigatório para manter a elevada produtividade.
Estima-se que o controle mal realizado de doenças como ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi) pode causar redução de até 30% da produtividade da soja por hectare. Além de doenças, as culturas podem ser afetadas pelo ataque de pragas e sofrer por matocompetição causada pela infestação de plantas daninhas na área cultivada.
Para resolver esses problemas fitossanitários e garantir a máxima produtividade das culturas e elevar a qualidade nutricional e comercial dos produtos, se faz necessária a pulverização de produtos fitossanitários, seja com inseticida, herbicida ou fungicida.
Mitos e verdades
A mistura em tanque desses produtos é uma prática que está cada vez mais ganhando destaque nas lavouras brasileiras. Essa técnica consiste na associação de agrotóxicos e afins no tanque do equipamento aplicador, imediatamente antes da aplicação.
Essa estratégia é utilizada, porque o produto de controle fitossanitário não possui espectro de ação suficiente para controlar tudo, havendo a necessidade de associar herbicidas, fungicidas e inseticidas para garantir o sucesso de aplicação ao mesmo tempo em que reduz custos operacionais em relação à aplicação individualizada dos produtos.
Porém, ao associar esses produtos, pode-se ocasionar problemas de perda de efetividade dos ingredientes ativos, com a incompatibilidade física, química, aumento do potencial de deriva ou até alterações no pH da calda.
A solução
Para melhorar o desempenho dos produtos e reduzir esses problemas, muitas vezes é necessário utilizar adjuvantes em conjunto. Os adjuvantes são produtos que não possuem efeito biológico, porém, são usados junto às caldas fitossanitárias para melhorar o desempenho desses produtos.
Os adjuvantes podem influenciar no aumento da cobertura, da retenção e absorção do produto no alvo, além da redução de deriva. Então, os adjuvantes, apesar de não possuírem ingrediente ativo que irá agir biologicamente contra algum patógeno, têm função determinante ao alterar as características físico-químicas das caldas e influenciar na formação de gotas e na própria ação dos produtos fitossanitários, melhorando a sua eficácia.
Potencial
Cada vez mais essa classe de produtos ganha importância no mercado mundial. Estima-se que 5% do mercado mundial de produtos fitossanitários é com adjuvantes. O Brasil representa um número significativo no mercado de adjuvantes, sendo 65% do mercado da América Latina, porém, ainda está atrás de países como os Estados Unidos.
Existem diversas classes de adjuvantes que são divididos de acordo com sua função e utilizados de acordo com a necessidade de cada composição de calda e adequação para cada cultura.
Classes
Uma das classes de adjuvantes mais utilizadas são os surfactantes, pois eles são, em sua maioria, espalhantes ou tensoativos que facilitam a aderência da calda no alvo e ajudam o ingrediente ativo a ficar em contato com o alvo, tendo maior tempo de ação por meio da redução da tensão superficial da calda.
Essa classe de adjuvante é recomendada para aplicações em que o alvo seja uma grande área de superfície foliar e com difícil molhamento.
Outra classe de adjuvantes que frequentemente é utilizada junto com os espalhantes é a dos adjuvantes adesivos, que são utilizados quando há necessidade de rápida penetração, absorção e adesão do ingrediente ativo no alvo, o que gera também uma boa resposta a aplicações seguidas por chuva.
Em aplicações em que condições meteorológicas, como a umidade relativa mais baixa é uma preocupação, utilizam-se adjuvantes umectantes, que ajudam na redução da taxa de evaporação das gotas. Além dos umectantes, existem também os redutores de deriva, que auxiliam na redução de gotas mais finas, que são mais sujeitas a serem desviadas do alvo.
Além dos adjuvantes que vão melhorar a aplicação, existem também os adjuvantes que podem melhorar a sinergia entre os produtos misturados e o meio de diluição, que em sua maioria é a água. Então, os adjuvantes condicionadores de calda podem fazer esse papel, reduzindo o risco de inativação de ingredientes ativos, alterando o pH e outros componentes que podem influenciar na composição da calda.
Vale a pena?
Assim, os adjuvantes podem ser de grande ajuda para melhorar a qualidade de aplicação em diversas culturas. Porém, são necessários alguns cuidados para que esses produtos tenham a máxima eficiência.
A observação da real necessidade de cada tipo de adjuvante é primordial, por exemplo, os herbicidas dessecantes, em sua maioria, trabalham melhor com faixa de pH entre 4 e 6, sendo que o meio de diluição (água) normalmente possui pH próximo do neutro (próximo de 7).
Porém, na maioria desses casos não é necessário adicionar um redutor de pH, pois a própria formulação dos herbicidas possui componentes que ajudam alcançar o pH ideal para o pleno desempenho deles. Na medida em que adiciona um redutor de pH nesse tipo de calda, pode haver uma redução excessiva e, consequentemente, perda de eficiência do produto.
Então, a observação da real necessidade e o conhecimento de qual adjuvante utilizar para inibir as fraquezas da calda é o mais importante. Outro cuidado é a observação da dose indicada na bula do produto, que deve sempre ser respeitada, já que o excesso pode prejudicar a cultura ou a própria efetividade da calda.
Outro ponto relevante é considerar os custos da utilização de adjuvantes, além de seu ganho em termos de produtividade. São observados ganhos de produtividades por conta do melhor controle de doenças, plantas daninhas e pragas com a utilização de adjuvantes em caldas.
Porém, a observação da realidade de cada lavoura juntamente com a forma correta de utilização desses produtos é o ideal.