Luíz Paulo Figueredo Benício
Doutor em Solos e Nutrição de Plantas, especialista agronômico da OCP no Brasil
A adubação foliar é uma prática já conhecida na agricultura moderna e atualmente muito utilizada em muitos sistemas agrícolas. Todavia, ainda existe uma certa desconfiança por parte dos produtores, técnicos e consultores.
Como toda prática agrícola, a adubação foliar possui suas vantagens e desvantagens. Como vantagens podemos elencar o alto índice de utilização dos nutrientes, doses menores e resposta rápida (salvação em caso de extrema deficiência ou estresse).
Como desvantagem podemos destacar que os custos de várias aplicações podem ser elevados. Desta forma, sempre é importante fazer aplicações conjugadas. O efeito residual da aplicação é muito baixo ou nulo. Outra desvantagem são os problemas de incompatibilidade e antagonismo, sendo importante conhecer as misturas e suas reações.
Absorção
As folhas, assim como as raízes, têm a capacidade de absorver nutrientes em soluções, e aqui vale destacar que soluções são muito mais eficientes que suspensões, as quais apresentam baixíssima capacidade de serem absorvidas.
A completa absorção de um nutriente pela folha só acontece quando este é assimilado, e para que isso ocorra, é necessário que:
– O nutriente penetre a cutícula lipídica que recobre as folhas;
– Seja absorvido pela superfície plasmática das células, o que é feito por transporte passivo, ativo e difusão facilitada;
– Ele atravesse o citoplasma das células, e por último;
– Seja transportado pelos vasos condutores xilema e/ou floema.
Após essas etapas, o nutriente é assimilado (entra em alguma rota metabólica e/ou compõe estruturas bioquímicas), ou é armazenado nos vacúolos das células para posterior assimilação.
Classificação
As adubações foliares podem ser classificadas como preventivas, realizada com o intuito de contornar possíveis problemas, como por exemplo, uso de B em Brassicaceae (couve-flor, repolho e brócolis) para evitar a má formação da cabeça.
A adubação foliar corretiva é a aplicação de nutrientes para corrigir uma ou mais deficiências nutricionais, realizada em determinados momentos da cultura.
Existe, também, a chamada adubação foliar substitutiva, que visa substituir a adubação via solo, muito comum em grandes culturas para o fornecimento de micronutrientes. Todavia, é muito discutível se esta prática consegue substituir 100% o fornecimento via solo.
Como suprir a carência nutricional
Hoje, visando otimizar o sistema de produção, aumentando as produtividades e a qualidades dos produtos agrícolas, produtores das mais diversas culturas optam pelo uso obrigatório de fertilizantes foliares. Assim, podemos encontrar muitos exemplos.
No cultivo do tomate, é muito comum o aparecimento de deficiência de Ca nos frutos, quando os produtores realizam aplicações frequentes deste nutriente via foliar para uma boa formação e qualidade de frutos.
Muitas outras culturas, como por exemplo café, repolho, brócolis, citros, etc., possuem em sua condução a aplicação de fertilizantes foliares, o que irá depender do nível tecnológico e de investimento adotado pelo produtor.
O sucesso de uma adubação foliar está no manejo, pois muitos fatores podem influenciar na eficiência, como aqueles relacionados à planta, ao meio ambiente e à calda aplicada.
Entre os fatores relacionados à planta estão o estado nutricional e idade da planta, idade e composição da folha (cutícula e tricomas). Os fatores ligados ao meio ambiente são temperatura, luz, umidade relativa, vento e horário.
Dessa forma, o produtor deve estar atento à aplicação nas condições mais favoráveis, como elevada umidade relativa, pouco ou nenhum vento e horário com temperatura mais amena.
Já dos fatores relacionados à calda destacam-se a concentração de nutriente, dose, pH, salinidade, forma química e polaridade da molécula. Independente da ordem relacionada à planta, à calda ou ao meio ambiente, é importante o agricultor reunir o máximo de condições favoráveis para obter maior eficiência.
Erros
Os erros mais frequentes estão relacionados a uma aplicação que não reúna condições favoráveis. Outro é o que chamamos de “timing”, principalmente em culturas anuais. Isso porque uma das filosofias da aplicação foliar baseia-se na complementação em momentos específicos.
Assim, o uso da adubação foliar em épocas em que a demanda de um determinado nutriente seja baixa, e essa seja tranquilamente suprida pelo solo, a aplicação não irá surtir efeito. Dessa forma, o produtor pode ter a impressão de que a prática não funciona.
Outro erro muito comum encontrado no dia a dia de quem usa adubação foliar se refere às misturas. Muitos produtos são incompatíveis e isso pode ocasionar precipitação, entupimento de bicos, e o mais preocupante, a anulação dos resultados, seja ele nutricional, ou os efeitos do herbicida, inseticida ou fungicida.
Portanto, conhecer características como fonte, possíveis misturas e pH ideal para aplicação de um princípio ativo que irá junto ao fertilizante foliar também é importante para que não ocorram erros graves.
Fontes disponíveis
Para quem usa adubação foliar, também é importante se atentar à fonte do nutriente a ser utilizada. No mercado, as fontes (matérias-primas) mais comuns são à base de cloretos, nitratos, sulfatos, carbonatos e óxidos.
Em relação à eficiência destas fontes, temos da maior para menor: cloretos > nitrato > sulfato > carbonatos = óxidos. Com a evolução da tecnologia e informação sobre a adubação foliar, passou-se a utilizar componentes (quelatos ou complexantes) para melhorar a absorção, translocação e até mesmo a estabilidade da calda.
Dentre estes quelatos e complexantes, podem-se destacar o EDTA, lignosulfonato, ácido cítrico e alguns aminoácidos.
Evolução
Hoje, a indústria tem caminhado para o que estão chamando de nutrientes de 4ª geração, em que os nutrientes são complexados com metabólitos da planta (açúcares, ácidos orgânicos de baixo peso molecular ou aminoácidos), que além de melhorarem a absorção e redistribuição do nutriente, têm papel de ativador fisiológico, melhorando o desempenho de algumas funções da planta.
Conhecer as demandas da cultura e as ferramentas disponíveis no mercado faz com que a escolha do produto certo seja mais tranquila, o que irá refletir em um melhor despenho no campo, significando maior produtividade e/ou qualidade do produto agrícola.
Nos dias atuais, questionar se a adubação foliar funciona não é mais cabível. O que o produtor deve ter em mente é que se trata de uma prática que visa complementar a adubação via solo, e não substituí-la. Ela funciona muito bem, sobretudo em situações de desequilíbrio nutricional, estresse e em épocas de elevada demanda do nutriente.