Uma comunidade
quilombola, do município de Berilo, no Vale do Jequitinhonha, está colhendo os
frutos de um trabalho feito para melhorar a produção de uva. A atividade é
tradição entre os agricultores do local, que há mais de 60 anos cultivam as
videiras com técnicas passadas de pai para filho. Porém, um problema estava
persistindo: a baixa produtividade.
Em 2013, o técnico da Emater-MG do município iniciou um trabalho para revigorar
a produção da comunidade Morrinhos. A ideia foi usar tecnologias simples,
mas que pudessem melhorar a produtividade, o manejo da cultura e a renda das famílias.
“Antes o processo de produção era bastante rústico, com alto consumo de água
por causa da irrigação feita por sulco, sem nenhuma tecnologia. Isso acarretava
baixa qualidade e produtividade. Havia também grandes perdas devido ao ataque
de pássaros”, explica Milton Machado de Oliveira, técnico da Emater-MG, empresa
vinculada à Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Os produtores da comunidade quilombola adquiriram kits de irrigação por
microaspersão, madeiras de eucalipto tratadas para a reconstrução das estacas,
além de telas de proteção contra o ataque de pássaros. De acordo com o técnico
da Emater-MG, com as novas estacas de eucalipto, foi possível esticar melhor os
arames que sustentam as videiras. O problema com ataque dos pássaros também foi
resolvido.
Milton de Oliveira também conta que a substituição do sistema de irrigação, de
sulco para microaspersão, reduziu significativamente o consumo de água. “Outra
ação adotada foram as podas feitas no período certo, que permitiram o
escalonamento da produção para colher mais vezes durante o ano. Antes colhiam
apenas uma vez anualmente. Agora fazem até três colheitas por ano”.
Valorização
“O Vale do Jequitinhonha sempre teve uma fama muito ruim, chamado de Vale da
Fome, Vale da Miséria. E a gente quer mudar isso, produzindo com
qualidade”. A afirmação é da agricultora Rita Dutra. Com empolgação, ela fala
da melhoria nas cinco parreiras que possui. Segundo ela, a produção chega a 12
mil quilos de uva por ano.
O uso de eucalipto tratado para escorar as videiras melhorou muito o manejo,
diminuindo a mão de obra. “Antes a gente usava madeira do mato, apodrecia muito
e não sustentava direito a parreira. A irrigação também ficou bem
melhor”, diz a agricultora.
Hoje ela vende para escolas públicas, hospitais, feiras e para os vizinhos, e
diz que o trabalho do técnico da Emater-MG foi fundamental para as mudanças na
produção da fruta. “Ele ajuda a gente demais. Sempre que eu ligo, ele tira as
minhas dúvidas. Ele dá orientação, faz os projetos pra gente. Considero ele um
irmão”, afirma.
Para conseguir melhorar as condições das parreiras, alguns agricultores
obtiveram recursos financeiros do Brasil Sem Miséria (BSM), um programa
do governo federal e tem como objetivo a inclusão social e produtiva de
famílias que vivem em situação de vulnerabilidade no meio rural. As famílias
recebem um fomento no valor de R$ 2,4 mil para execução de pequenos projetos
produtivos, como a implantação de hortas, de pomares e a criação de pequenos
animais. Os beneficiários recebem ainda toda a assistência técnica da
Emater–MG, para viabilizar acesso aos recursos financeiros e executar seus
projetos.
A agricultora Andréa Lopes foi uma das beneficiadas pela assistência da
Emater-MG e pelos recursos do BSM. Ela conta que a situação mudou muito na
pequena parreira que cultiva. “Melhorou demais. Ficou mais fácil de
irrigar. E agora, depois que colocamos a tela de proteção, a gente
não perde tempo espantando os passarinhos. Dá tempo de cuidar de outras
coisas”, afirma.
O trabalho de melhoria da produção de uvas na comunidade Morrinhos beneficiou
10 famílias de pequenos agricultores. “A iniciativa restabeleceu o
otimismo quanto à atividade. E os agricultores têm investido na expansão de
seus cultivos, o que nos faz acreditar que a ação desenvolvida impactou de
forma definitiva os agricultores na condução de suas atividades. O processo
trouxe ainda outro benefício: todos os produtores participantes do processo
adotaram como premissa o cultivo em bases agroecológicas, minimizando o uso de
adubos químicos e dispensando o uso de agrotóxicos”, afirma o técnico.
O aumento da produtividade nas lavouras da comunidade, de aproximadamente 50%,
facilitou ainda o acesso ao mercado. A maioria prefere vender em feiras,
não só em Berilo, mas de municípios vizinhos como Araçuaí e Virgem da Lapa.
Porém, com mais oferta da fruta, alguns também conseguem comercializar
para programas institucionais de compra de alimentos. Um exemplo é o
Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), que estabelece uma cota mínima
para que as escolas comprem produtos da agricultura familiar.