Luiz Augusto Bonilha de Oliveira
Engenheiro agrônomo e mestrando em Agronomia/Proteção de Plantas – UNESP/FCA
luiz.bonilha@unesp.br
Daniele Maria do Nascimento
daniele.nascimento@unesp.br
Tadeu Antônio Fernandes da Silva Junior
tadeu.fernandes@unesp.br
Engenheiros agrônomos e doutores em Agronomia/Proteção de Plantas – UNESP/FCAV
O cultivo do tomate é uma das atividades agrícolas mais significativas no Brasil, tanto pela sua relevância econômica quanto pela abrangência social que representa. Este fruto, originário das Américas, foi adotado e adaptado em diversas regiões brasileiras, demonstrando uma versatilidade impressionante que se reflete na multiplicidade de variedades cultivadas, desde tomates cereja a frutos de porte grande, destinados a diferentes usos e preferências de consumo.
O Brasil figura entre os 10 maiores produtores mundiais de tomate, com uma produção concentrada principalmente nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Goiás. Esta produção é dividida entre o cultivo destinado ao consumo in natura e o voltado à indústria de processamento, abastecendo um mercado interno exigente e, em menor medida, destinado à exportação.
Ameaças
A cultura do tomate, apesar de sua robustez e adaptabilidade, enfrenta constantes ameaças de doenças que podem comprometer seriamente a produção. A suscetibilidade do tomateiro a uma ampla variedade de agentes patogênicos, incluindo vírus, fungos e bactérias, exige dos produtores uma vigilância e um manejo integrado de doenças para proteger seus cultivos.
Entre as doenças, a mancha bacteriana, causada por quatro espécies pertencentes ao gênero Xanthomonas (X. vesicatoria, X. euvesicatoria, X. gardneri e X. perforans), com prevalência de X. perforans, se destaca como uma das mais graves.
Essa doença provoca manchas e lesões nas folhas e nos frutos, comprometendo a qualidade e a produtividade do tomateiro. Atualmente, já está presente em todas as regiões produtoras do país e representa uma grande ameaça para a cultura, pois é capaz de provocar perdas significativas na produção, afetando tanto a quantidade quanto a qualidade dos frutos colhidos.
Sintomas
A doença inicia seu ciclo de infecção quando a bactéria encontra uma porta de entrada na planta, seja através de ferimentos causados por práticas agrícolas, danos por insetos, condições climáticas adversas, como fortes chuvas ou granizo, e ainda por meio de aberturas naturais, como os estômatos.
A água, seja pela chuva ou irrigação, atua como um veículo eficaz para a bactéria, facilitando sua adesão e penetração nas folhas e frutos.
Nos folíolos, observa-se a formação de manchas iniciais aquosas que rapidamente se tornam necróticas, cercadas por um halo amarelo claro, um indicativo da infecção. As lesões de X. perforans se distinguem das outras espécies de bactérias do gênero Xanthomonas em virtude da progressão das lesões de aparência necrótica para a formação de furos nas folhas.
Nos frutos, as lesões são inicialmente aquosas, tornando-se escuras e, muitas vezes, penetrantes, o que compromete severamente a sua comercialização.
A mancha bacteriana é favorecida por ambientes de alta umidade e temperaturas entre 25 e 30°C, condições comuns em muitas regiões produtoras de tomate no Brasil. Períodos prolongados de molhamento foliar, seja por chuvas frequentes ou irrigação por aspersão, favorecem a infecção e a disseminação da bactéria entre as plantas.
Etiologia
Além do tomateiro, as bactérias causadoras da mancha bacteriana podem infectar outras plantas da família Solanaceae, como pimentões, e plantas daninhas como o joá de capote (Nicandra physaloides) e maria-pretinha (Solanum americanum), que podem servir de abrigo para a bactéria.
Essa habilidade contribui para a persistência da bactéria no ambiente, mesmo na ausência de cultivos de tomate, permitindo que ela sobreviva entre as estações de cultivo e infecte novas plantações quando estas são estabelecidas.
As bactérias também podem sobreviver em restos de cultura e nas sementes, sendo esta última uma das principais vias de disseminação da doença. A capacidade de sobreviver nas sementes permite que as bactérias sejam transportadas a longas distâncias e introduzidas em áreas livres da doença através do plantio de sementes e mudas contaminadas.
A disseminação ocorre principalmente por meio de água, seja pela irrigação, chuva ou condensação, que facilita o transporte da bactéria entre as plantas. Ferramentas agrícolas e trabalhadores também podem contribuir para a disseminação da bactéria dentro e entre os campos de cultivo.
Após a infecção inicial, a bactéria pode causar infecções secundárias dentro da mesma planta ou disseminar-se para plantas adjacentes, intensificando a severidade da doença. Condições climáticas favoráveis, como temperaturas moderadas a altas e elevada umidade, facilitam a ocorrência de infecções secundárias, aumentando rapidamente a proporção de plantas afetadas dentro de um campo.
Manejo
Para o controle efetivo da mancha bacteriana em plantações de tomate, diversas práticas de manejo devem ser implementadas. O ideal é optar pelo plantio de cultivares de tomateiro com níveis de resistência à mancha bacteriana.
A escolha da época de plantio é outro ponto importante, sendo recomendável evitar o plantio em épocas chuvosas, onde a umidade favorece a proliferação da doença. O cultivo protegido ou o uso de irrigação por gotejamento são medidas eficazes para proteger as plantas da exposição direta à água em sua parte aérea, minimizando o risco de infecção.
O uso de sementes e mudas livres das bactérias também deve ser adotado. Para lotes de sementes provenientes de campos com ocorrência da doença, recomenda-se o tratamento térmico úmido (56ºC por 30 min) ou tratamento químico (0,8% de ácido acético por 24 horas) para reduzir o risco de disseminação das bactérias.
A gestão da lavoura inclui a erradicação de plantas voluntárias que possam servir de hospedeiras para o patógeno. A rotação de culturas, alternando entre soja, milho e feijão, tem se mostrado eficaz na diminuição da ocorrência da doença em comparação com o plantio contínuo de tomates, reduzindo assim as fontes de inóculo bacteriano.
Vale destacar, também, que não é recomendável a rotação com plantas hospedeiras das bactérias, como os pimentões, no ciclo de rotação.
Prevenção
Para prevenir a disseminação das bactérias, é recomendável não manusear as plantas enquanto estiverem úmidas. A remoção e destruição dos restos culturais e de frutos remanescentes da colheita são práticas importantes para reduzir o inóculo presente no campo.
Quanto ao controle químico, o uso de produtos registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) pode ser outra ferramenta, especialmente em áreas com histórico de ocorrência da doença, ou ao detectar os primeiros focos.
Atualmente, há o registro de apenas um produto, não específico para a doença. Muitos produtores utilizam o cobre de forma protetiva em suas plantações. Entretanto, é necessário ter cautela com o uso intensivo de produtos à base de cobre devido ao risco de seleção de cepas bacterianas resistentes.
Adicionalmente, o uso de indutores de resistência, como o acibenzolar-S-metil, em aplicações foliares na dose recomendada, pode contribuir para a redução da severidade da mancha bacteriana, fortalecendo as defesas naturais da planta.
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