Simone da Costa Mello
Engenheira agrônoma, mestre, doutora e professora – ESALQ/USP, Departamento de Produção Vegetal
scmello@usp.br
A iluminação artificial tem sido empregada para suplementação luminosa em ambiente protegido e também em campo aberto, em lavouras alimentadas pelo sistema de irrigação por pivô central.
A iluminação artificial também pode ser utilizada como única fonte de luz para a produção de plantas em fazendas verticais, ou seja, o sistema de cultivo indoor.
Além disso, é possível empregar a iluminação artificial para o aumento do fotoperíodo, podendo alterar inclusive o ciclo da fase vegetativa em relação à fase reprodutiva, que poderá, então, resultar em aumento de produtividade.
Quando seu uso é viável?
A iluminação artificial como suplementação luminosa tem sido empregada no ambiente protegido porque condições climáticas desfavoráveis são frequentes, que podem reduzir a intensidade luminosa, e também nos períodos do outono e inverno. Dessa forma, condições climáticas desfavoráveis como dias nublados, ou períodos do ano como o outono e o inverno, onde a intensidade luminosa é mais baixa, levam à redução da disponibilidade de radiação solar para as plantas.
Resultados da técnica
As plantas manifestam claramente alterações morfológicas, que vão resultar também em mudanças na produtividade e na qualidade das espécies. Então, quando as plantas estão sendo cultivadas sob iluminação natural, ou seja, aquela proveniente do sol e que não está atendendo a exigência da cultura que o produtor está cultivando, as plantas podem mostrar estiolamento, menor área foliar, maior comprimento entre os internódios, menor produção de flores e, consequentemente, menor produção de frutos.
Essas alterações, induzidas pela menor intensidade luminosa, têm provocado reduções significativas de produtividade.
A iluminação artificial como suplementação luminosa tem sido muito empregada no cultivo protegido para aumentar a produtividade e também para induzir maior precocidade no processo produtivo. Com isso, o produtor consegue maior número de ciclos por ano.
Em suma, a iluminação artificial tem tido um papel muito importante no ambiente protegido, uma vez que a atenuação da radiação solar neste sistema já acontece pela presença do filme plástico, principalmente no Brasil, onde há uma grande deposição de poeiras sobre a superfície do filme, que reduz a transmissão de radiação.
Essa deposição de poeira reduz significativamente a entrada de luz, que varia entre 10 e 70% da radiação solar externa. Portanto, é uma atenuação muito significativa e que realmente pode resultar em quedas severas de produtividade, principalmente quando se considera hortaliças de alto valor agregado, como tomate, pepino e pimentão, que são espécies muito cultivadas dentro do ambiente protegido.
Alface roxa
A iluminação artificial no cultivo de folhosas, como a alface, almeirão, chicória, salsinha, cebolinha, coentro e manjericão tem sido empregada em ambiente protegido com o objetivo de reduzir o ciclo de produção e acelerar, portanto, o crescimento das plantas.
Isso abre uma grande oportunidade de aumentar os lucros do produtor, visando maior rendimento no mesmo espaço, justamente porque se consegue acelerar o crescimento das fases mais precoces dos ciclos das culturas folhosas, gerando alto rendimento para a comercialização de folhosas baby e mais jovens, muito empregadas para hortaliças como a rúcula.
Dentro da produção de folhosas, o carro-chefe é a produção de alface, a qual agrega vários segmentos diferenciados. No Brasil, cultivamos alface de coloração verde e de coloração roxa.
Há, ainda, materiais genéticos que são considerados bicolores, ou seja, temos tanto a presença da coloração roxa quanto verde, pela presença de clorofila e de carotenoides, que são pigmentos produzidos durante o crescimento das plantas.
A produção desses pigmentos depende do material genético, da intensidade luminosa e da composição espectral.
Diferencial
Portanto, no segmento de alface, as alfaces roxas possuem alto teor de antocianinas, comparativamente com as alfaces verdes. A produção destes pigmentos depende da composição espectral e da intensidade luminosa. A produção destes pigmentos é altamente estimulada por comprimentos de ondas na faixa do ultravioleta e azul, que são mais energéticos, comparativamente com outros comprimentos de ondas.
A luz UV e azul, portanto, irá intensificar a produção desses pigmentos em detrimento do crescimento das plantas. Por isso, materiais genéticos de alface com altos teores de antocianina produzem plantas menores.
Explicando
Se você estiver trabalhando com alto percentual de azul em relação ao vermelho, que são os dois comprimentos de ondas absorvidos pelas clorofilas A e B, teremos maior concentração na produção de antocianinas, porém, um crescimento mais lento e uma planta menor.
Portanto, há a necessidade de estabelecer um equilíbrio entre os comprimentos de ondas na faixa do vermelho em relação ao azul. As composições exatas podem variar em função do nosso interesse em agregar maior intensidade na cor, mas sem esquecer da necessidade de manter a produtividade.
Por isso, luminárias que fornecem luz artificial composta por 70 – 80% de radiação na faixa do vermelho e 30 – 20% na faixa do azul, têm proporcionado bons resultados na produção de pigmentos, sem reduzir o tamanho da planta.