Produzir algodão em sistemas agroflorestais sempre foi um sonho de muitos agricultores. Uma recente pesquisa (projeto Floresta de Algodão), realizada em áreas experimentais próximas a Cuiabá, indica que isso pode se tornar uma realidade.
Conduzida pelo Centro Tecnológico Vocacional em Agroecologia (CVT-Agroeco) na Fazenda Experimental da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), essa pesquisa vem mostrando que a cadeia produtiva do algodão agroecológico pode atender a demanda por este produto, com uso de matérias-primas, técnicas e manejos ecológicos.
Essa é, também, uma opção para produtores que já trabalham com agroflorestas, gerando renda e contribuindo com o desenvolvimento sustentável e com baixo impacto socioambiental.
Entenda o que é
Assunto base da pesquisa realizada pela UFMT, o algodão agroecológico consiste em um sistema de produção onde não há o uso de insumos sintéticos obtidos de fontes não renováveis que podem causar danos ao ambiente e à saúde do ser humano.
Segundo Henderson Gonçalves Nobre, pesquisador e coordenador do projeto Floresta de Algodão, a produção agroecológica agroflorestal busca imitar os processos que naturalmente ocorrem na natureza.
“Com esse modelo de produção conseguimos diminuir o custo de produção, gerando impactos positivos, tanto na dimensão econômica quanto ambiental e social, pois insere agricultores familiares que estavam excluídos da cadeia produtiva do algodão”.
O pesquisador salienta que o cultivo dessa matéria-prima representa mais uma opção para os produtores que já trabalham com agroflorestas, resultando em baixo impacto socioambiental.
“Nossa pesquisa aponta que a produção do algodão agroecológico agroflorestal é bastante viável, pois conseguimos chegar ao final do ciclo do algodão, representado pela etapa da colheita, sem utilizar agrotóxicos”, complementa.
Excelente opção para agroflorestas
Segundo o pesquisador da UFMT, o ponto de partida do projeto Floresta de Algodão foi a inserção de mais biodiversidade, promovendo assim um maior equilíbrio no sistema de produção.
“Dentro da área, as árvores, ao serem podadas, auxiliam no processo de disponibilização de nutrientes que as raízes do algodão não teriam acesso. Adotamos também o complemento da adubação feita com fontes orgânicas, como pós de rocha, compostagem e biofertilizantes”.
Já o controle de doenças e insetos, potencialmente pragas no algodão convencional, foram feitas a partir de insumos biológicos, sendo que o arranjo mais diversificado promoveu uma maior atuação de insetos que atuam como inimigos naturais.
Com essas e outras medidas, Henderson Nobre salienta que o plantio do algodão em agrofloresta é uma boa opção para que agricultores, principalmente os familiares, possam ter renda no curto prazo.
“O ciclo do algodão é mais curto, girando em torno de cinco meses, enquanto outras espécies da agrofloresta, caso das frutíferas ou madeiráveis, aguardam o período de produção, que é mais longo”, relata.
Além do mais, o algodão regenerativo de fonte sustentável tem uma grande procura pela indústria têxtil da moda, que vem sendo demandada pelos consumidores que se preocupam com o processo de produção sustentável das fibras.
Agroecologia e indústria da moda
Além de criar alternativas para desenvolver a cultura do algodão agroecológico, o projeto Floresta de Algodão pretende também contribuir para o fomento do mercado têxtil, que tem uma grande demanda por algodão, que é uma das principais matérias-primas do segmento.
Neste cenário, a UFMT se uniu à FarFarm, empresa parceira do projeto na criação e desenvolvimento da cadeia produtiva.
A expertise da empresa na promoção da produção de fibras naturais para a indústria têxtil visa contribuir com as atividades do cultivo do algodão agroecológico desde a concepção do projeto até a venda do produto final.
“Estamos trazendo essa cultura regenerativa do algodão de uma forma muito coletiva, compartilhando os conhecimentos e nossas práticas com a agroecologia. A perspectiva de aliar modernidade, contemporaneidade e conhecimento ancestral é que faz o projeto se desenvolver, bem como o de cuidar do meio ambiente e das pessoas trabalharem satisfeitas”, destacou Beto Bina, fundador e sócio da FarFarm.
Bina vê o mercado consumidor mais exigente quanto à produção de produtos que causam baixo impacto socioambiental. Segundo ele, essa é uma grande métrica que as empresas precisam cumprir.
As grandes empresas da moda pretendem, até 2030, ter seus materiais rastreados, certificados e de origens sustentáveis. Porém, no Brasil, apenas 0,1% do algodão utilizado pela indústria têxtil é orgânico. “Estamos olhando para essas marcas que querem transformar suas cadeias produtivas e comprar materiais responsáveis e percebemos os sistemas agroflorestais como uma ótima alternativa para atender o desejo de produtores de algodão e do mercado têxtil”, finaliza Bina.