O Congresso Nacional de Milho e Sorgo, em sua 33ª edição, tem como tema: “Brasil: 200 anos de independência – Sustentabilidade e desafios para a cadeia produtiva de grãos”.
Na abertura do evento, realizada nesta segunda (12) na Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG), a presidente do Congresso, pesquisadora Sara Rios, destacou a proposta da temática. “Após 200 anos da independência do País, precisamos ter também independência tecnológica e sustentabilidade”.
A pesquisadora fez uma análise da matriz de exportação, centrada em produtos da agropecuária e indústria extrativa, e da matriz de importação, que concentra produtos de manufatura e também insumos, fertilizantes químicos e óleos processados.
Sara propôs a rediscussão de cenários futuros. Ela destacou a força da cadeia produtiva de grãos e suas perspectivas. “É preciso pensar na importância do binômio soja/milho e propor um planejamento estratégico, pensando em novos eixos, territórios e agregação de valor aos produtos”.
A pesquisadora mencionou a existência de desafios, principalmente relacionados ao mercado de commodities e reforçou a necessidade de planejamento futuro. “Nesse sentido, a realização deste congresso aqui em Sete Lagoas não é por acaso. Minas Gerais pode ser um território importante para complementar essa cadeia robusta de grãos”.
O diretor executivo da empresa Simbiose, Marcelo de Godoy Oliveira, agradeceu a oportunidade de participação no evento como representante do setor industrial e ressaltou sua satisfação com os resultados alcançados pelo inoculante BiomaPhos, desenvolvido em parceria com a Embrapa. “Quero destacar a honra que temos como instituição no desenvolvimento de uma tecnologia tão importante, a primeira de solubilização de fósforo no Brasil. Já são mais de 5 milhões de hectares sendo beneficiados”. O empresário frisou a importância da união entre a Embrapa e a iniciativa privada para ir ao encontro das necessidades do agro brasileiro.
Também o diretor-executivo de Pesquisa e Inovação da Embrapa, Guy de Capdeville, realçou o sucesso do inoculante. Capdeville apontou como a frente dos bioinsumos tem crescido e ressaltou as contribuições da Embrapa Milho e Sorgo. “Esta Unidade vem, há décadas, contribuindo com desenvolvimento não só da cadeia do milho, mas de todo o agro”.
O diretor afirmou a necessidade de se desenvolverem tecnologias sustentáveis cada vez mais consistentes para o agronegócio. “Somos recebidos em outros países do mundo com muito respeito. Colocam tapete vermelho para as tecnologias que a Embrapa desenvolve”, comentou.
Capdeville também ressaltou os desafios globais e as oportunidades para o País. “O mundo apresenta desafios de mudanças climáticas, crescimento populacional, e quem tem hoje condições de dar saltos na produção de alimentos é o Brasil, com alto padrão tecnológico e sustentabilidade ambiental. Temos de nos orgulhar e continuar lutando por esse papel de produção de alimentos pujante”.
Durante a abertura do Congresso Nacional de Milho e Sorgo, foi realizada a conferência: “Commodities agrícolas brasileiras e os desafios para a produção e posicionamento de grãos e proteína animal”, apresentada por Ricardo João Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
Santin apresentou os números expressivos da avicultura e da suinocultura no País e ressaltou a importância de sintonia com a cadeia produtiva de grãos. “Somos o maior cliente da produção de milho. Em 20 anos, nosso setor gerou 145 bilhões de dólares em receita cambial. E precisamos de mais milho para poder produzir mais na mesma área”.
O Brasil é o maior exportador de carne de frango do mundo. Segundo dados da ABPA, foram 4,610 milhões de toneladas exportadas em 2021. No mesmo ano, a produção nacional (terceira maior do mundo) foi de 14,329 milhões de toneladas.
Já a produção de carne suína no Brasil atingiu 4,701 milhões de toneladas em 2021. O País é o quarto maior produtor global e quarto maior exportador. Foram 1,137 milhão de toneladas exportadas no ano passado.
As projeções para o setor de proteína animal são muito positivas no Brasil. Para 2023, espera-se que a produção de carne de frango atinja 15 milhões de toneladas e a carne suína, 5,1 milhões de toneladas.
Problemas sanitários têm comprometido a produção de outros países, como a ocorrência de influenza aviária de alta patogenicidade na Europa e nos Estados Unidos, e casos severos de peste suína africana na China, Ásia e Europa. Já o Brasil não tem nenhum registro dessas doenças, o que favorece o crescimento de sua produção.
O presidente da ABPA reforçou a necessidade de as cadeias produtivas estarem unidas. “O produtor de proteína animal e o produtor de grãos devem andar juntos. Somos a favor do livre comércio, mas, para o País, quando se consegue agregar valor ao milho na carne, é melhor. Se você exporta o milho diretamente ao invés de agregar valor na carne, ganha menos”, explicou o conferencista.
Santin também mencionou os desafios do setor de proteína animal, como os custos de produção (com aumento de custos industriais e de energia) e entraves logísticos. Ele fez uma previsão de que os preços devem se reequilibrar em um patamar mais alto e chamou a atenção para a pressão inflacionária global, com a pandemia seguida do conflito entre Rússia e Ucrânia.
O conferencista indicou que o Brasil precisa trabalhar mais acordos internacionais de comércio e apresentou dados de projeção da produção de alimentos para os anos de 2026/2027, em que o País deve ter um aumento de 41%, enquanto China deve apresentar 15%, Europa 12% e Estados Unidos 10% de aumento da produção.
Para o presidente da ABPA, o Brasil será mais chamado para ajudar o mundo na segurança alimentar. Ele destacou que a América Latina reúne os fatores necessários para produção de alimentos: potencial de produção de biomassa, disponibilidade de água, de grãos, de terra.
O diretor executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Glauber Silveira, atuou como moderador da conferência, e destacou a importância da logística para o aumento da produção de milho. Ele ressaltou a necessidade de infraestrutura de armazenagem e transporte para a produção de grãos.
O pesquisador Cícero Menezes, presidente da Associação Brasileira de Milho e Sorgo (ABMS) falou sobre a oportunidade de se aumentar a produção de sorgo. “Fala-se muito do binômio soja e milho. Este ano, a área de sorgo aumentou 22% e a produção em 40%, mas a área ainda é ínfima perto do milho. Apesar da média de produtividade mostrar 3 mil quilos por hectare, temos produtores que alcançam 6 mil quilos e até 9 mil quilos por hectare”, afirmou. O pesquisador propôs sejam elaboradas estratégias pra promover um crescimento da cultura do sorgo no País.