Walleska Silva Torsian
Engenheira agrônoma e doutoranda em Fitotecnia – ESALQ/USP
walleskatorsian@usp.br
Alasse Oliveira da Silva
Engenheiro agrônomo e mestrando em Fitotecnia – ESALQ/USP
alasse.oliveira77@usp.br
Liliane Marques de Sousa
Engenheira agrônoma e mestranda em Fitotecnia – Universidade Federal de Viçosa (UFV)
liliane.engenheira007@gmail.com
A alface é a hortaliça folhosa mais produzida, comercializada e consumida no Brasil, podendo ser encontrada em todas as regiões, sendo consumida principalmente na forma de salada em todo o mundo. Com a exigência do mercado consumidor, a comercialização deve ser sem sintomas de doença, altamente nutritiva e com uma coloração exuberante.
A cultura exige temperatura e umidade adequadas, além de bom local de cultivo, seja no solo ou na hidroponia, e também excelente adubação. Devido ao seu alto valor nutricional fornecido por elementos minerais e vitaminas e pelo seu uso em dietas humanas, a alface tornou-se foco de vários estudos.
Atualmente, existem diversas tecnologias aplicadas para melhorar a qualidade da produção de alface, como o uso de aminoácidos.
Os aminoácidos
A utilização de aminoácidos na agricultura já é uma prática adotada há vários anos, não só no Brasil, mas no mundo inteiro, para todas as culturas. O número de empresas com o comércio à base de aminoácidos vem crescendo cada vez mais.
Produtores relatam que o uso de aminoácidos beneficia a produção e comercialização das culturas, principalmente da alface.
Relação com o nitrogênio
O nitrogênio é um elemento essencial para as plantas, principalmente a alface. A absorção e assimilação de nitrogênio desempenham papéis essenciais no crescimento e desenvolvimento das plantas.
As plantas absorvem nitrogênio na forma de nitrato e amônio através de bactérias fixadoras de nitrogênio. A aplicação de uma grande quantidade de fertilizante químico para garantir o alto rendimento das culturas causa sérios problemas para a agricultura e o meio ambiente.
Por isso, é preciso buscar soluções sustentáveis para a horticultura. Nesse sentido, a aplicação de aminoácidos como substância promotora de crescimento fornece nutrientes para as plantas e também melhora a qualidade das mesmas, o que consequentemente aumenta o rendimento e a produção comercial das culturas.
Os aminoácidos podem ser descritos como moléculas de estruturas comuns formados por carbono, um grupamento carboxila (COOH), um grupamento amino (NH2) e um átomo de hidrogênio, além de apresentar um radical na sua composição.
As funções dos aminoácidos basicamente são: síntese de proteínas, maior resistência a estresse bióticos e abióticos, maior tolerância à pragas e doenças e efeito complexante em nutrientes e defensivos químicos.
Ação na planta
As plantas, incluindo a alface, sintetizam 20 aminoácidos que são encontrados nas proteínas. Alguns aminoácidos são importantes no metabolismo da planta para diversas funções, como exemplo, a glicina que atua no combate ao estresse hídrico e ajuda a manter a eficiência fotossintética, a cisteína que auxilia na defesa da planta, a fenilalanina que atua na resistência das plantas aos patógenos e a metionina, que é responsável pela maturação dos frutos.
Os aminoácidos atuam em todos os estádios fenológicos, desde a germinação até a maturação dos frutos como bioestimulantes, que são substâncias que promovem o crescimento das plantas, melhoram a disponibilidade de nutrientes e a qualidade da planta, além de servirem como precursores hormonais, reguladores da absorção de nitrogênio e desenvolvimento radicular.
Os aminoácidos influenciam direta ou indiretamente a fisiologia da planta e têm grande importância no metabolismo primário e secundário das plantas. A partir dos elementos contidos na atmosfera, como o carbono, oxigênio e também o hidrogênio contido na água, as plantas possuem a capacidade de sintetizar os aminoácidos, suprindo as exigências das plantas, aumentando o rendimento e a qualidade da cultura.
O melhor desenvolvimento radicular das plantas pode ser notado com a adição de aminoácidos que aumentam a fixação de nitrogênio, induzindo maior absorção de nutrientes pela raiz.
Recomendações
A aplicação direta de aminoácidos é mediada por enzimas engajadas na assimilação de nitrogênio. E a aplicação mais comum de aminoácidos é via foliar, onde as plantas absorvem aminoácidos por meio da abertura dos estômatos.
Essa absorção é diretamente influenciada pela temperatura do ambiente no momento da aplicação, logo, quanto mais alta a temperatura, menos a planta absorverá o aminoácido devido ao fechamento dos estômatos.
Os aminoácidos também podem ser fornecidos para a planta por meio da incorporação via solo, melhorando a microbiota e facilitando a assimilação de nutrientes.
Os aminoácidos são transportados através da membrana plasmática da célula. Logo, a aplicação via foliar é mais benéfica, pois o aminoácido tem grande permeabilidade na cutícula, aumentando a absorção foliar.
Quando algum tipo de mineral é complexado ao aminoácido, há maior penetração na membrana cuticular e maior velocidade por difusão simples, indicando que os aminoácidos possuem grande permeabilidade, garantindo vantagens no seu uso com outros nutrientes.
Versatilidade
A ação dos produtos à base de aminoácidos inclui a absorção de nitrogênio e a regulação das enzimas no ciclo de Krebs, que também contribui para o metabolismo de nitrogênio e carbono na regulação hormonal da planta. Também possui ação para proteger as plantas contra metais pesados e estimular a regulação hormonal.
Com relação à nutrição e crescimento das plantas, os aminoácidos atuam no aumento da biomassa e atividade microbiana, melhorando a disponibilidade de nutrientes pelas raízes.
Os aminoácidos também formam complexos com cátions como o zinco (Zn), cobre (Cu), manganês (Mn) e ferro (Fe). Sendo assim, pode ser utilizado na adubação, pois aumenta a absorção e o transporte de nutrientes que apresentam baixa mobilidade, devido à ação das biomoléculas de “sequestrar” os nutrientes, formando complexos que auxiliam nas funções dos aminoácidos nas plantas, como o transporte dos nutrientes para toda a planta.
Os aminoácidos também podem ser chamados de antiestressantes, pois são capazes de agir na fisiologia do vegetal como precursores de hormônios endógenos ou ativadores de enzimas que promovem a tolerância a estresses.
Com isso, a utilização de aminoácidos pode reduzir o uso de fertilizantes, aumentando a produção, resistência e tolerância ao estresse causado por altas temperaturas e também pelo estresse hídrico.
Fertilizantes
No Brasil, os produtos à base de aminoácidos são registrados e reconhecidos como aditivos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e seu uso é recomendado na forma de fertilizante.
Porém, são bastante utilizados como auxiliares para conferir a tolerância às condições prejudiciais às plantas. E as formulações comerciais disponíveis têm recomendação de uso via foliar por meio de pulverização ou até mesmo irrigação e também no tratamento de sementes ou aplicação nos sulcos de plantio.