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Marcia Eugenia Amaral de Carvalho
Bióloga e mestre em Fisiologia e Bioquímica de Plantas
Paulo Roberto de Camargo e Castro
Engenheiro agrônomo e professor Titular da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz“, da Universidade de São Paulo (ESALQ/USP)
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O uso de herbicidas constitui uma das principais estratégias de manejo das plantas invasoras na agricultura, tendo grande relevância no estabelecimento da técnica de plantio direto. O glifosato é o herbicida mais utilizado mundialmente, que atua impedindo a síntese de alguns aminoácidos (triptofano, fenilalanina e tirosina), unidades estruturais para a formação de proteínas, ocasionando a morte da planta.
Porém, existem diversos relatos de que este agroquímico apresenta efeitos fitotóxicos também em plantas geneticamente modificadas, que foram criadas para serem resistentes a ele.
A sua rápida translocação das folhas tratadas às raízes/rizomas e a estabilidade in vivo contribuem para a difícil reversibilidade dos efeitos fitotóxicos do glifosato. Em adição à deriva e ao glifosato residual no solo, este agroquímico também pode ser transferido de plantas-alvo (invasoras) para as não-alvo (culturas resistentes ou não ao glifosato), por meio do contato entre raízes.
Sintomas
Os principais sintomas devido à aplicação do glifosato se caracterizam por clorose foliar (yellow flashing), seguida por necrose, e a presença de folhas quebradiças e mal formadas. Porém, uma série de compostos tem apresentado potencial para reduzir ou reverter os efeitos indesejados do glifosato. Por exemplo, a aplicação de sacarose (açúcar comum), em uma lavoura adulta de cafeeiros, uma semana após a pulverização de glifosato, reverteu parcialmente a fitotoxicidade causada por esse herbicida.
A aplicação de giberelina (50 ppm de GA3) isolada ou em conjunto com citocinina reverteu a diminuição da altura das plantas de feijão fava, um dos efeitos negativos do glifosato. Contudo, apenas a citocinina foi capaz de reverter o decréscimo do número e peso seco das vagens e da produção de grãos por planta e por área.
Efeitos dos produtos à base de aminoácidos
Em 1997, foi noticiado que a aplicação de aminoácidos aromáticos preveniu, em parte, a inibição do crescimento de raízes de pepino (Cucumis sativus cv. Wisconsin) devido à aplicação de glifosato. Em um estudo realizado em 2014, foi observado que a pulverização de produto à base de aminoácidos (500 e 1000 mL ha-1) reduziu significativamente (29,90%) os sintomas de fitotoxicidade do glifosato (Roundup WG 0,06 kg ha-1) em feijoeiro ‘Carioca’, quando o herbicida foi aplicado 31 dias após o plantio (DAP) e o produto aos 36 DAP (Figura 1).
Figura 1. NÃvel de fitotoxicidade em feijoeiros (Phaseolus vulgaris cv. Carioca) tratados com diferentes agroquímicos aos 5, 9, 15 e 23 dias após a aplicação do glifosato. T1- Controle (água), T2- Glifosato, T3- Glifosato + 1000 mL L-1 de ácido fúlvico, T4- Glifosato + 2000 mL L-1 de ácido fúlvico, T5- Glifosato + 500 mL L-1 de aminoácidos, T6- Glifosato + 1000 mL L-1 de aminoácidos, T7- Glifosato + 2000 mL L-1 de fosfito, T8- Glifosato + 4000 mL L-1 de fosfito, T9- Glifosato + 250 mL L-1 de bioestimulante, T10- Glifosato + 500 mL L-1 de bioestimulante.
Produto à base de aminoácidos também aumentou a massa seca de folhas e, desse modo, manteve a razão de peso foliar semelhante ao das plantas controle. No entanto, houve diminuição da área de folhas, que não foi revertida por nenhum dos agroquímicos utilizados.
A análise dos efeitos sobre as folhas é essencial, pois este órgão vegetal é responsável, na maioria das plantas, pela captação da radiação solar e sua conversão em compostos energéticos que são utilizados para o crescimento e formação de grãos. A perda de 50% das folhas no estádio R2 da soja, por exemplo, acarreta na queda do rendimento para 6%.
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