Lucas Anjos de Souza
Doutor em Biologia Vegetal, professor no Instituto Federal Goiano e orientador de Pós-Graduação – Instituto Federal Goiano e UNESP, campus Ilha Solteira
lucas.anjos@ifgoiano.edu.br
Sílvio Luís de Carvalho
Doutorando em Agronomia – UNESP e professor – Centro Universitário Unicerrado
silviocarvalho@unicerrado.edu.br
A batata, Solanum tuberosum, é uma cultura de grande expressão econômica no Brasil, sendo um dos alimentos básicos da dieta do brasileiro. Cultivada em mais de 125 países e consumida por mais de um bilhão de pessoas, é a terceira fonte de alimentação humana mundial, superada apenas por trigo e arroz, uma vez que o milho é mais utilizado em alimentação animal.
A produção mundial de tubérculos de batata é de 376 milhões de toneladas. No Brasil, a produção é de cerca de 4.126 milhões de toneladas, cultivadas em 125.686 ha, com produtividade média de 32.828 kg ha-1 (FAO, 2021; Anuário Brasileiro de Hortifruti, 2022).
Cada vez mais a batata vem sendo cultivada em áreas de clima tropical, com o emprego de tecnologias como a fertirrigação, que é a técnica de fornecimento de nutrientes por meio do uso da água de irrigação.
Aminoácidos + micronutrientes
Os aminoácidos são fontes diretas de nitrogênio orgânico que, ao serem absorvidos, podem ser transportados para as partes aéreas, ou utilizados diretamente nas raízes para síntese proteica.
Os micronutrientes possuem papel estrutural, como o boro (B) ou grupos prostéticos e cofatores enzimáticos, como o cobre (Cu), ferro (Fe), zinco (Zn), manganês (Mn), molibdênio (Mo) e níquel (Ni).
Nesse sentido, o fornecimento de aminoácidos pode acelerar o crescimento vegetativo e auxiliar na tuberização, por representar diminuição do gasto energético para redução do nitrato e assimilação do N-amoniacal produzido.
Adicionalmente, o fornecimento de micronutrientes irá favorecer o metabolismo e auxiliar na boa estruturação do tubérculo. Nesse caso, um micronutriente muito importante nesse processo é o B, cuja deficiência pode levar à formação de “coração oco”.
Sua exportação pode atingir 48 g/ton de tubérculo, dependendo da variedade e condições de cultivo.
Tuberização da batata
Após iniciado o processo de tuberização, o fornecimento de aminoácidos permitirá que aumente o seu potencial de alocação de carboidratos no tubérculo, devido à diminuição do gasto de energia para redução de nitrato e assimilação de amônio.
Como o processo de tuberização envolve diversas vias de sinalização hormonal, o correto fornecimento de Zn é fundamental para manter adequado o nível de auxina (AIA), hormônio-chave que regula diversos processos de desenvolvimento das plantas.
Dessa forma, considerando boas condições de cultivo, as plantas de batata poderão apresentar maior potencial de acúmulo de carboidratos nos tubérculos, garantindo a boa formação morfológica.
Aumento de produção
Em batata, a fertirrigação por gotejamento levou ao aumento de 40,3% da produção, comparado com práticas tradicionais de aplicação de fertilizantes. Em comparação com as práticas tradicionais dos agricultores de irrigação em sulco e fertilização, com distribuição de fertilizante nitrogenado, a fertirrigação por gotejamento pode diminuir significativamente a evapotranspiração da cultura em 11,3%, aumentar os rendimentos em 12,0%, a eficiência do uso de nitrogênio em 34,3% e aumentar a qualidade da cultura.
As principais vantagens da fertirrigação são:
1) Parcelamento da dose dos fertilizantes em função da demanda da planta;
2) A aplicação de água não causa molhamento foliar, contribuindo para melhoria do aspecto sanitário da cultura e redução do uso de defensivos, possibilitando a aplicação de produtos químicos via água de irrigação;
3) Redução do tráfego de máquinas e do uso de tratores e equipamentos de pulverização e, consequentemente, reduzindo a compactação do solo e danos à cultura;
4) Permite que se aplique nutrientes em qualquer fase do ciclo da cultura;
5) Aplicação eficiente de baixa quantidade de fertilizantes;
6) Potencial de diminuição da dose de fertilizantes por meio do aumento da eficiência no uso dos nutrientes;
7) Permite a automação da irrigação, proporcionando facilidade no emprego e uso da injeção de nutrientes hidrossolúveis e produtos químicos;
8) Redução da quantidade de mão de obra para as práticas de irrigação, fertilização e tratos fitossanitários;
9) Menor gasto de energia elétrica e 30 a 50% de economia de água.
Em campo
O fornecimento de aminoácidos diminui a alocação de energia para redução e assimilação de N e, com isso, as plantas poderão dispender mais recursos para produção de raízes que, em última análise, levará à maior capacidade de exploração do solo e produção de parte aérea mais vigorosa.
Adicionalmente, parte dos recursos energéticos podem ser alocados para produção de substâncias protetoras contra patógenos e pragas, como proteínas PR, ácido salicílico, ácido jasmônico.
O bom fornecimento de Fe, Mn, Cu e Zn são cofatores de enzimas antioxidantes, como superóxido dismutase, ascorbato peroxidase e catalase. Com isso, a planta pode melhorar seu desempenho frente a estresses bióticos e abióticos, diminuindo os efeitos na produção.
Manejo
Todo manejo deve levar em consideração a fenologia e a fisiologia da cultura. Nesse sentido, a fenologia da batata é dividida em cinco estágios:
Estágio I: plantio até emergência das hastes D.A.P.);
Estágio II: desenvolvimento vegetativo (20 D.A.P.);
Estágio III: tuberização (30 – 40 D.A.P.);
Estágio IV: ápice do desenvolvimento vegetativo e crescimento dos tubérculos (até 1,0 ton/dia/ha), de 80 a 110 dias, dependendo da cultivar;
Estágio V: senescência da parte aérea.
Dessa forma, o manejo com aminoácidos e micronutrientes deve ser realizado a partir do estágio II até o estágio IV. Como há, no mercado, uma grande variedade de produtos, a utilização de aminoácidos deve seguir o recomendado pelo fabricante.
No caso dos micronutrientes, deve-se considerar os teores presentes no solo, a demanda da planta e ajustar o fornecimento segundo o teor disponível no produto.
Custo-benefício
O principal ponto do manejo de fertirrigação com aminoácidos e micronutrientes está no melhor eficiência do uso da água, bem como no fornecimento de complementos que maximizarão o potencial produtivo da cultura.
Nesse sentido, o trabalho realizado por Li et al. (2021) demonstrou aumento de 40,3% na produtividade de batatas cultivadas em sistema de fertirrigação. O resultado obtido é bastante interessante, entretanto, o produtor precisa analisar o ganho potencial com a porcentagem desse manejo no custo de produção e, então, tomar a decisão se compensa ou não tal manejo.
Lembrando que o retorno em produção é dependente de uma série de fatores do sistema produtivo como adequado controle de pragas, doenças, daninhas e condições climáticas.