A andiroba possui boas características silviculturais, sendo de porte mediano, com alturas variando de 2,0 a 3,0 m e diâmetro de 50 cm a 120 cm. O fuste é reto, cilíndrico e possui sapopemas na base.
A espécie apresenta boa regeneração natural nas capoeiras de várzea e é adaptada para regenerar e crescer sob o dossel da floresta. Além disso, apresenta bom potencial para plantios de enriquecimento, já que responde favoravelmente ao sombreamento.
Condições para o desenvolvimento
Quanto ao clima, a andiroba ocorre em regiões com clima tropical úmido, com precipitações entre 1.800 mm e 3.500 mm anuais. As temperaturas podem variar de 17ºC a 30ºC e a umidade relativa, de 70 a 90%.
A espécie se desenvolve melhor em solos argilosos e barrentos (porém não encharcados) e com abundante matéria orgânica. Floresce duas vezes ao ano, em agosto-setembro e janeiro-fevereiro. Os frutos amadurecem em junho-julho e fevereiro-março.
O óleo contido na amêndoa é amarelo-claro e extremamente amargo. Quando submetido à temperatura inferior a 25 ºC, solidifica-se, ficando com consistência parecida com a da vaselina. Contém substâncias como a oleína, palmitina e glicerina. A amêndoa contém proteínas (40%), glicídios (33,9%), fibras (6,1%), minerais (1,8%) e lipídios (6,2%).
Derivados
A exploração de óleo de andiroba apresenta grande potencial econômico, pois é um óleo que já tem validação científica. Segundo Ana Cláudia Lira Guedes, pesquisadora da Embrapa Amapá, inúmeros testes já foram realizados, demonstrando a eficácia do uso do óleo.
“É amplamente utilizado pelos amazônidas, sendo comercializado em feiras de produtores. Uma variedade de produtos, a partir do óleo de andiroba é comercializada em farmácias de manipulação e/ou de produtos naturais, inclusive o próprio óleo in natura. Com isso, as comunidades devem estabelecer, cada vez mais, relação comercial com empresas de pequeno e médio porte para a responder à demanda do mercado. Essa relação aumenta a renda familiar das comunidades, contribui para a organização comunitária e mantém a floresta amazônica em pé, já que nenhuma árvore é derrubada para a extração do óleo”, pontua a especialista.
Os agroextrativistas relatam que usam o óleo de andiroba para aliviar dores articulares, hematomas, dores de garganta etc. Além disso é utilizado para repelir insetos e contra piolhos.
De acordo com a literatura científica, o óleo de andiroba apresenta 30 – 60% de estearina, oleína, palmitina, glicerina, ácidos palmítico, linolênico, mirístico, linolêico, esteárico, araquidônico e palmitoleico. A fração não saponificável (2-5%) é composta por limonoides, responsáveis pelas propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes e antitumoral desse óleo.
Extração do óleo
Como são duas maneiras de extração, com o quadro a seguir fica mais fácil de entender:
Etapas do processo | Extração por prensa | *Extração tradicional | Desafios |
Secagem das sementes | Sim | Não | Construção de estufas plásticas ou secadores solares |
Cozimento das sementes | Não | Sim | Panelas e todos os utensílios de aço inox, uso de gás de cozinha ou fogão à lenha |
Repouso das sementes cozidas | Não | Sim | Se “libertar” de alguns misticismos, pois algumas extratoras acham que se pessoas invejosas, de luto, mulheres menstruadas ou grávidas olharem para as sementes nesse período, o óleo não escorre. Por isso, de um modo geral, as sementes ficam escondidas, abafadas em locais escuros e quentes, propiciando alta proliferação de fungos, aumentando o índice de acidez do óleo extraído. |
**Descascamento ou retirada da massa da semente | sim | sim | O descascamento deve ser com faca de aço inox e as sementes descascadas numa bacia de aço inox. A retirada da massa deve ser com utensílios de aço inox (martelinho, colher) e a massa retirada da semente cozida deve ser colocada em bacia de aço inox. |
Trituração | Sim | Não | Aquisição de liquidificador industrial de baixa rotação e energia elétrica para o funcionamento do liquidificador. OBS: pode prensar as sementes sem trituração, mas o rendimento de óleo extraído é menor do que em sementes trituradas. |
Prensagem | Sim | Não | Aquisição de prensa hidráulica sem necessidade de energia elétrica (a maioria das comunidades ainda não tem energia elétrica de qualidade para manter uma prensa funcionando) |
***Escorrimento do óleo | Sim | Sim | Bacia de aço inox |
Envase do óleo | Sim | Sim | Quando a comercialização é para o consumidor final, o óleo deve ser colocado em recipientes de vidro ou de plástico “âmbar”. Quando a comercialização é para empresas, o ideal é armazenar em bombonas plásticas de 50 ou 100L. |
*a extração tradicional é demorada (mais de 40 dias) e o índice de acidez do óleo é considerado alto (maior que 4,0 mg/g). A extração por prensa leva, em média, cinco dias;
** A extração por prensa pode se dar com sementes com ou sem casca. Temos orientado a não descascar, para diminuir uma etapa da cadeia de produção.
***O escorrimento no método tradicional, a massa das sementes cozidas é amassada todos os dias (como se fosse uma massa de pão) e deixada numa bacia inclinada para escorrer o óleo. Esse procedimento é realizado por uns 30 dias, até que o óleo pare de escorrer. No método por prensa, as sementes trituradas são colocadas em um saco de ráfia ou de pano, prensadas por, no máximo, 12 horas.
Sustentabilidade
O óleo de andiroba é extraído das sementes, por isso, não precisa da derrubada da árvore para explorar esse recurso florestal. Além disso, acrescenta a pesquisadora Ana Cláudia, não são coletadas todas as sementes, e assim não há prejuízo com o futuro das andirobeiras, pois as sementes deixadas na floresta serão novas andirobeiras no futuro.
“Com a floresta em pé, toda a biodiversidade (flora e fauna) que se relaciona, ecologicamente, com as andirobeiras são preservadas”, destaca.
O que esperar
As perspectivas de Ana Cláudia para a andiroba são as melhores, uma vez que esse óleo já ganhou a notoriedade, por suas propriedades químicas, tanto para o mercado de fitofármacos como de fitocosméticos. “A Europa adquire os óleos, inclusive de andiroba e espera-se que no futuro próximo a demanda por esse óleo aumente. Mas, presume-se que o consumo desse óleo pelos brasileiros aumente cada vez mais, já que atualmente existe grande preferência por produtos naturais (amazônicos). Com isso, teremos uma bioeconomia amazônica inclusiva, em que comunidade, consumidores e o Estado ganham”, pontua.
Com relação aos plantios, ela espera que haja mais plantios de enriquecimento próximos às casas dos agroextrativistas para que não seja necessário percorrer grandes distâncias a pé na floresta nativa para a coleta das sementes.
Conhecimento é tudo
O conhecimento tradicional é a “chave” de tudo. Para a pesquisadora, o óleo de andiroba só ganhou atenção das indústrias de fármacos e cosméticos porque todo o saber de antepassados amazônidas (bisavós, avós e mães) são repassados para os jovens.
“Nas comunidades, o óleo de andiroba é usado para curar quase tudo, o médico só é procurado depois de usar os “remédios da floresta”, incluindo o óleo de andiroba ou “azeite” de andiroba, como é comumente chamado pelos amazônidas. A fé nos produtos florestais permanece até hoje. No entanto, existe uma grande preocupação, inclusive da Embrapa, com a erosão desse saber, que precisa ser perpetuado e, atualmente, os jovens não têm muito incentivos para permanecerem em seus territórios e trabalharem com os produtos florestais, com exceção do açaí”, explica.
Dito isso, Ana Cláudia expõe a importância de mais incentivos e mais atuação de órgãos de assistência técnica rural, de extensão e de pesquisa nos territórios onde esse saber reside. E devem ser equipes multidisciplinares, pois os problemas são grandes em complexidade e número.
“A capacidade técnica não é um problema. O problema é recurso financeiro para chegar e fazer acontecer nas comunidades longínquas da complexa e diversa Amazônia”, diz.
Os agroextrativistas relatam que usam o óleo de andiroba para aliviar dores articulares, hematomas, dores de garganta etc. Além disso é utilizado para repelir insetos e contra piolhos.
A amêndoa contém proteínas (40%), glicídios (33,9%), fibras (6,1%), minerais (1,8%) e lipídios (6,2%).