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Avanços do cultivo da pecã no Brasil

No Brasil, ocorreram avanços significativos no cultivo da pecã, incluindo pesquisas em genética, manejo sustentável e técnicas de produção, resultando em maior produtividade e qualidade das nozes.

Carlos Roberto Martins
Engenheiro agrônomo, doutor e pesquisador da Embrapa
carlos.r.martins@embrapa.br

Antonio Davi Vaz Lima
antoniodv.lima@gmail.com

Cristiano Geremias Hellwig
cristiano.hellwig@gmail.com
Engenheiros agrônomos e doutorandos – Universidade Federal de Pelotas (UFPEL)

Créditos: Carlos Roberto Martins

Pertencente ao grupo dos frutos secos, a pecã está sendo produzida em mais de 57 países no mundo. Destaca-se fortemente em área de cultivo, de produção e de comercialização os Estados Unidos e México.

A supremacia na produção de pecã continuará sendo naturalmente de ambos, bem como a hegemonia do mercado internacional. Entretanto, a expansão do cultivo e da produção continuará ocorrendo em outros países, inclusive na América do Sul, principalmente no Uruguai, Argentina, Peru e Brasil. É importante ressaltar que a pecã também avança em território chinês.

Em território brasileiro

Atualmente, o Brasil figura na quarta posição em termos de produção de pecã no mundo, atrás somente dos Estados Unidos, México e África do Sul. Uma das vantagens da produção brasileira está na localização dos pomares, que pelas condições ecofisiológicas em que a nogueira é submetida, a colheita ocorre em período diferente dos maiores produtores, ou seja, inicia em meados de abril e vai até junho/julho, enquanto que, nos países do Hemisfério Norte, a safra ocorre entre outubro e novembro/dezembro.

Desta forma, a colheita das nozes brasileiras ocorre na entressafra dos principais países produtores, elevando a possibilidade de atender mercados fora da época competitiva, possibilitando a exportação de pecã, como de fato vem se consolidando em nosso país.

Consolidação de mercado

A pecanicultura vem se consolidando como um setor da fruticultura brasileira, que aliada a outros frutos secos, como a castanha do brasil, macadâmia, castanha de caju, baru, entre outros, merecem uma maior atenção em termos de políticas públicas e de investimentos em pesquisas.

Dado o potencial de crescimento e desenvolvimento, dependem de estratégias específicas para inclusão ainda maior no agronegócio brasileiro. Em meados do ano 2000, a área cultivada com pecã era próxima de mil hectares, alcançando em 2010 aproximadamente 3 mil hectares.

Créditos: Paulo Lanzetta

Embora os dados oficiais estejam cada vez mais sendo aperfeiçoados no sentido do retratar a realidade, estima-se que atualmente haja ao redor de 10 a 12 mil hectares de nogueira-pecã plantados no País.

Os pomares estão concentrados na região sul do Brasil. Contudo, também existem áreas de cultivo sendo exploradas comercialmente em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Mato Grosso do Sul. As principais áreas de cultivo concentram-se nos estados do Rio Grande do Sul, principal produtor, seguido de Santa Catarina e Paraná.

Tanto a produção de pecã quanto o consumo continuam a crescer em praticamente todos os países, o que ratifica o grande potencial da pecã (Figura 1).

Figura 1. Produção mundial de pecã no período de 2004 a 2022.

Demanda

Sem dúvida, o principal motivo do avanço da cultura no Brasil baseia-se na demanda pela fruta, que ocorre tanto a nível mundial como brasileiro. Este crescimento está alicerçado nos avanços do conhecimento sobre a pecã e das possibilidades e formas de uso.

Mas, o destaque principal decorre das descobertas dos efeitos benéficos do consumo regular desta fruta à saúde das pessoas. Este conhecimento vem sendo popularizado – assim como os outros frutos secos, a pecã possui elevada quantidade de ácidos graxos, proteínas e aminoácidos, minerais, compostos voláteis, compostos fenólicos, fitoesteróis e vitamina E (tocoferóis).

Todo este complexo de substâncias tem papel fundamental na prevenção de doenças, tais como a diabetes, doenças cardiovasculares, câncer, entre outras. Estes avanços vêm impactando o consumo e a demanda por nozes.

 Além do aumento da demanda pela fruta, no Brasil, o que também contribui para o crescimento do cultivo da nogueira-pecã reside na possibilidade de inovação produtiva, de diversificação de renda e de alternativa de cultivo das propriedades rurais.

Produtores de diferentes portes (pequeno, médio e grandes produtores) encontram nessa cultura a possibilidade do cultivo consorciado, da inclusão em sistemas agroflorestais e no sistema ILPfruti (integração lavoura-pecuária e fruticultura).

Soma-se a isto a colheita fora da época tradicional de grãos e outras frutíferas (final do outono e entrada de inverno), possibilidade de ampliação do uso de máquinas e de estruturas de armazenamento, que permitem otimizar os investimentos.

Oscilações

É importante ressaltar que a produção e a comercialização da fruta no mercado brasileiro vêm obtendo flutuações ao longo dos anos, comportamento que afeta o rendimento econômico da cultura.

Porte da planta alta e longevidade de cultivo
Crédito: Carlos Roberto Martins

Justamente pelo crescimento do cultivo e da produção, a competição em termos de produtividade e qualidade da fruta acabam se estabelecendo. Também as questões mercadológicas, o desenvolvimento tecnológico e os eventos climáticos extremos, bem como a alternância de produção, afetam a escala produtiva e a rentabilidade da pecã.

Mas, não só pelas possibilidades da produção de nozes e de retornos econômicos a longo prazo, diga-se de passagem, que a pecã vem se destacando. O cultivo também tem uma forte contribuição para o meio ambiente, especialmente quanto às mudanças climáticas em nosso planeta.

Esta contribuição está intrinsicamente ligada ao seu porte e longevidade de cultivo, mais de 50 – 100 anos, permitindo uma estabilidade da relação solo-água-planta, que guardadas as proporções, são similares a uma floresta.

Reconhecimento

O reconhecimento do potencial desta cultura frente ao sequestro e armazenamento de carbono vem ocorrendo no Brasil e em outros países da América do Sul. Um estudo cientifico publicado recentemente numa prestigiosa revista, por meio de consórcio de pesquisadores argentinos, americanos, uruguaios e brasileiros – Cambereri et al. (2023), “Contribution of pecan (Carya illinoinensis [Wangenh.| K. Koch) to Sustainable Development Goal 2 under the dual perspective of carbon storage and human nutrition”- destacam que poucos cultivos de alimentos no mundo têm esta dualidade, ou seja, a capacidade sequestrar o carbono atmosférico e armazená-lo no meio ambiente e, ainda fornecer alimentos ricos em propriedades nutracêuticas, que não só alimentam mas têm propriedades benéficas a saúde.

Capacitação do setor

O crescimento brasileiro não ocorre somente no cultivo e na produção de pecã. A formação de profissionais capacitados, o setor de máquinas e equipamentos específicos para a cultura também vêm se desenvolvendo a ponto de exportar para outros países.

Junta-se a isto o surgimento e a ampliação das plantas de agroindústrias especializadas nas etapas de processamento de pecã pós-colheita e geração de produtos. Grandes investimentos vêm sendo realizados pelos produtores e empresários na melhoria dos equipamentos pós-colheita, na qualificação do armazenamento das nozes com cadeia de frio por câmara frias e na ampliação da capacidade de processamento de pecã.

Este cenário todo vem ocorrendo principalmente no Estado do Rio Grande do Sul, responsável por mais de 70 % da área plantada e da produção de pecã no Brasil. Além de contar com apoio da Embrapa Clima Temperado, de Universidades e outras entidades/empresas, que desenvolvem pesquisas e arcabouço tecnológico, o setor conta com o programa estadual de desenvolvimento da pecanicultura (Pró-Pecã), propiciando bases para este crescimento setorial.

Obstáculos

Créditos: Carlos Roberto Martins

Muitos desafios ainda precisam ser superados para consolidar e avançar esta fruta em nosso país. Uma parcela muito pequena da população brasileira conhece esta fruta e seus benefícios.

Existe uma clara necessidade de estratégias de mobilização e articulação de todos os segmentos para que se possa popularizar cada vez mais a presença da pecã como alimento saudável no cotidiano do brasileiro.

Em termos de desafios enfrentados pelos produtores de pecã no país, constata-se a necessidade elevar a produtividade dos pomares, muito abaixo de sua potencialidade, aliado à preocupação com a melhoria da qualidade.

Este será o paradigma produtivo a ser superado nos próximos anos – aumentar a produtividade com melhoria da qualidade da pecã – ambos, em conjunto, determinarão a rentabilidade do cultivo.

As causas que geram a diferença entre o status presente e o potencial se devem a vários fatores. A falta de tecnologias mais apropriadas às condições de clima e solo brasileiro impera como fator primordial de avanço científico e tecnológico.

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