Fernando Pamphilo de Christo Batista da Silva
Engenheiro agrônomo e assistente agropecuário na Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA/SP)
fernando.pamphilo@hotmail.com
Veridiana Zocoler de Mendonça
Engenheira agrônoma, doutora em Agronomia/Energia na Agricultura e assistente agropecuário – SAA/SP
veriadianazm@yahoo.com.br
Dentre os tubérculos mais consumidos no Brasil, a batata-salsa (Arracacia xanthorrhiza), também conhecida como mandioquinha ou batata-baroa, dependendo da região, ocupa papel de destaque.
Originária dos Andes na América do Sul, sua raiz tuberosa é utilizada na preparação de sopas, cremes, purê etc., sendo um alimento rico em carboidratos e uma fonte de cálcio, ferro, fósforo e vitaminas.
É uma cultura ótima para pequenas áreas, sendo bastante cultivada dentro de sistemas de agricultura familiar. Não é muito exigente em insumos e adapta-se facilmente a cultivos orgânicos e apresenta alto valor comercial durante todo o ano, tornando-se uma opção rentável de cultivo.
O silício na agricultura
O silício não pertence ao grupo dos nutrientes essenciais às plantas e sua função não foi totalmente esclarecida quanto à fisiologia vegetal, no entanto, acumula-se nos tecidos de todas as plantas representando cerca de 0,1 a 10% de matéria seca. É transportado pelo xilema e sua distribuição depende das taxas de transpiração dos diferentes órgãos da planta.
O silício é conhecido por promover diversos benefícios em plantas auxiliando a superar estresses bióticos e abióticos. Tem papel de destaque quanto ao benefício mediante estresse biótico em termos de resistência a insetos e doenças devido a sua acumulação junto à parede das células vegetais, tornando-as mais rígidas.
Isso dificulta a penetração de patógenos ou ataque de insetos, reduz a perda de água e inibe o crescimento de fungos. Na cultura da batata-salsa, o fortalecimento da parede celular também confere maior resistência da planta ao acamamento e reduz o contato com o solo, além de promover maior exposição à luz solar, levando à melhora da taxa fotossintética e consequente aumento da produtividade.
A absorção de silício também beneficia a raiz, parte de interesse para consumo no caso da batata-salsa, além de promover a proteção mecânica da epiderme contra o ataque de patógenos, aumenta a resistência à seca.
Ainda sobre os fatores abióticos, o silício auxilia a planta quando há estresses químicos como salinidade, toxicidade por metais pesados e desbalanço entre nutrientes e, estresse físico como estresse hídrico, excesso de radiação solar e em elevadas ou baixas temperaturas.
Pós-colheita
Em relação à pós-colheita, o silício também pode favorecer o aumento da vida de prateleira da batata-salsa, pois devido ao espessamento da parede celular, a perda de água por transpiração durante o armazenamento tende a ser menor o que proporciona maior de tempo de vida útil deste alimento para consumo.
Resistência a insetos e doenças
O silício protege as plantas contra agentes bióticos de várias maneiras. A principal delas consiste na acumulação deste nutriente nas paredes celulares, tornando-as mais rígidas e resistentes e resulta numa barreira física contra insetos, nematoides e patógenos e outros fatores bióticos, além de reduzir a palatabilidade da planta para herbívoros, como insetos mastigadores.
Além da barreira física, pode inibir o crescimento de organismos, como fungos e bactérias, por meio de mecanismos bioquímicos, interferindo nas vias metabólicas destes patógenos, reduzindo sua capacidade de causar e desenvolver doenças nas plantas.
Pode, ainda, estimular o sistema de defesa das plantas a produzir enzimas e compostos de defesa, fortalecendo a resposta imunológica e conferindo resistência a infecções e ataques de pragas.
Nutrição da planta
Embora o silício não atue diretamente na correção do solo, pode ter um efeito indireto na disponibilidade de nutrientes para as plantas e no equilíbrio do pH. Em experimento conduzido na Unesp de Botucatu, os teores de fósforo nas folhas em tratamentos nos quais havia sido utilizado silicato de cálcio e magnésio foram acima da faixa média, quando comparados a tratamentos em que a correção havia sido realizada com calcário dolomítico.
Isso pode ser explicado pela maior disponibilidade deste nutriente em função de sua dessorção promovida pela presença de silício solúvel na solução do solo nos tratamentos em que havia sido utilizado silicato como corretivo.
O mesmo estudo constatou ainda que a correção com silicato antes do plantio proporciona maior acúmulo foliar de enxofre e magnésio, além de micronutrientes, como boro e manganês.
Taxa fotossintética
Como dito anteriormente, a disponibilidade de silício melhora a taxa fotossintética da planta. Isso ocorre devido, principalmente, à arquitetura da planta de batata-salsa, pois o silício reduz o acamamento das hastes e faz com que as plantas atinjam alturas maiores, o que pode ser explicado pelo fato de o silício tornar a parede celular mais resistente e regular o equilíbrio osmótico, propiciando o alongamento celular e aumentando a resistência mecânica da planta.
Com isso, têm-se folhas mais eretas, menor sombreamento e maior exposição à luz solar. Uma maior eficiência fotossintética, além dos já citados benefícios nutricionais proporcionados pelo silício, resulta em maior acúmulo de matéria seca nos tubérculos, levando a um aumento na produtividade.
Manejo de aplicação
O manejo de aplicação de silício pode trazer inúmeros benefícios à lavoura de batata-salsa. Entre as formas disponíveis no mercado, é recomendável a aplicação de uma fonte solúvel, como silicato de potássio ou de cálcio, podendo ser aplicados via fertirrigação, pulverização foliar ou mesmo em área total, a depender do objetivo que se espera alcançar.
No que diz respeito à propriedade de tornar a planta mais resistente por meio do fortalecimento da parece celular, a aplicação deve ser preventiva, antes do ataque de pragas e doenças ou do estresse.
Pode-se aplicar em diferentes estádios de desenvolvimento da planta, desde antes mesmo do plantio, durante o desenvolvimento vegetativo ou ainda durante a formação dos tubérculos.
A dosagem ideal precisa levar em consideração as características físico-químicas do solo e as condições de cultivo. Portanto, é imprescindível a realização de uma análise de solo e a orientação de um profissional.