Alessandra Marieli Vacari
Engenheira agrônoma e pós-doutoranda na FCAV-Unesp
A mosca-branca é considerada uma das principais pragas que ataca as lavouras de cereais e hortaliças, principalmente o feijão, e causa perdas à produção devido à sucção de seiva, injeção de toxinas, transmissão de doenças viróticas e formação de fumagina. Neste sentido, o controle microbiano, por meio da utilização de fungos entomopatogênicos, surge como prática importante dentro de um manejo integrado da mosca-branca em diferentes culturas.
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Danos
A mosca-branca suga diretamente a seiva (floema), provocando clorose e queda foliar, o que favorece o desenvolvimento da fumagina e, além disso, transmite viroses. Na cultura da abóbora, a alimentação de B. argentifolii nas folhas, principalmente no estádio de ninfa, causa uma fitotoxemia sistêmica, resultando no sintoma de prateamento da superfície da folha. Este sintoma se manifesta em torno de três a cinco dias após a exposição das folhas às ninfas ou nove a onze dias aos adultos.
Além deste, outros sintomas podem ser observados, como a descoloração dos frutos. Na cultura do algodão, o principal sintoma é a queda precoce das folhas e a formação de fumagina sobre ramos, folhas e frutos, o que reduz a capacidade fotossintética da planta e o valor comercial da fibra.
No feijoeiro, o principal dano está relacionado à transmissão do vírus do mosaico dourado do feijão, mais prejudicial em períodos de seca, principalmente até a fase de florescimento das plantas.
Culturas mais atacadas
As moscas-brancas são pragas que ocorrem em várias culturas, como algodão, soja, feijão, mandioca, tomate, brócolis, berinjela, abóbora, melão, melancia, pimentão, uva, plantas ornamentais, entre outras, sendo espécies polÃfagas que colonizam mais de 500 espécies vegetais.
Controle com Beauveria
- bassiana é utilizada em casas-de-vegetação e também em culturas no campo como uma ferramenta para o controle de várias pragas, incluindo mosca-branca. Entre os muitos fungos entomopatogênicos, B. bassiana é potencialmente o mais utilizado no controle de mosca-branca.
O fungo age por contato e não por ingestão, possui ampla gama de hospedeiros, normalmente não afeta organismos,não-alvo como predadores e parasitoides, sendo que cepas podem ser multiplicadas em laboratório e posteriormente utilizadas em formulações ou diretamente no campo.
Pesquisas mostraram que o fungo B. bassiana foi mais eficiente no controle de ninfas, sendo observado 25 a 35% de eficiência de controle em casadevegetação. Em condições de campo o fungo apresentou 40% de eficiência de controle e alto efeito residual, mantendo mais de 30% de controle após 50 dias da aplicação.
Apesar da porcentagem de controle não ser alta nos primeiros dias após a aplicação, como normalmente verificado com os químicos, o período residual é longo, contribuindo para o controle da praga no campo.
Manejo
Para várias culturas ainda não foram estabelecidos os níveis de dano econômico (NDE) para mosca-branca. No entanto, no caso de insetos vetores, em culturas com sérios problemas de viroses, como o feijão e o tomate, é muito difícil o estabelecimento do NDE, devido ao baixo número de adultos necessários para disseminar os vírus rapidamente.
Por este motivo, os níveis de ação se resumem à presença do inseto na planta, isto é, um indivÃduo, em média, por planta, principalmente se a variedade não apresenta características de menor suscetibilidade a viroses.
Acompanhando o desenvolvimento populacional da mosca-branca desde o início do aparecimento dos primeiros adultos, o agricultor poderá lançar mão dos diversos métodos de controle recomendados nos programas do MIP, como controle legislativo, cultural, controle químico e controle biológico.
O controle químico é um componente essencial em programas de manejo de mosca-branca. No entanto, o uso de químicos tem sido comprometido principalmente pela rápida evolução de populações resistentes a várias classes de inseticidas, como organofosforados, piretroides e ciclodienos.
Então, microrganismos têm sido utilizados para a formulação de bioinseticidas, incluindo o fungo entomopatogênico Beauveriabassiana.
Custo
Micoinseticidas à base de B. bassiana produzidos no Brasil são normalmente vendidos ao preço médio de R$ 40,00 a R$ 50,00 por hectare. A qualidade dos micoinseticidas disponíveis no Brasil pode ser melhorada de forma considerável, já que os fungos, na maioria das vezes, não são formulados, ou seja, são vendidos na forma como são produzidos, sem nenhum tratamento posterior ou adição de substâncias que lhes assegure melhora na eficiência de controle, como inertes, principalmente, que favoreceriam, por exemplo, o emprego em baixos volumes de aplicação.